Hoje, vamos começar a Retrospectiva de 2020 do Bonas Histórias, um quadro anual da coluna Recomendações. A ideia é apresentar, neste post, os melhores livros analisados pelo blog no ano passado. Nesse ranking literário, selecionei as dezesseis obras mais interessantes que discutimos em 2020. E, daqui a dez dias, listaremos os melhores filmes conferidos na última temporada. No ranking cinematográfico, a seleção contemplará os dez longas-metragens mais impactantes que foram analisados no ano passado. Portanto, boa retrospectiva para todos!
Antes de listar os dezesseis melhores livros de 2020, preciso explicar como cheguei a essa seleta coletânea. Em 2020, li 155 livros, o que dá uma média aproximada de 13 livros por mês. Não se assuste com essa quantidade – faz parte do trabalho de qualquer crítico literário ler diariamente. A minha lista de leituras do ano passado incluiu obras nacionais e internacionais, publicações ficcionais, não ficcionais e poéticas, títulos clássicos e contemporâneos, livros comerciais e cults, textos adultos, jovens e infantis e uma multiplicidade significativa de gêneros narrativos (romances, novelas, coletâneas de contos, coletâneas de crônicas, ensaios, biografias) e estilos (romances históricos, ficção científica, dramas, romances policiais, suspenses, romances eróticos, aventuras românticas). A palavra de ordem no Bonas Histórias sempre foi pluralidade. O nosso lema é: literatura sem frescura e sem preconceito!
A maioria dos livros lidos no ano passado foi analisada criticamente e virou um post do blog. Foram ao todo 78 obras discutidas na seção Livros – Crítica Literária. As demais publicações abasteceram as outras colunas do Bonas Histórias, principalmente Talk Show Literário, Teoria Literária, Mercado Editorial e Desafio Literário. De maneira geral, os títulos que não apresentaram grande qualidade foram descartados (não analisamos os livros que ficaram aquém do padrão de qualidade exigido pelos leitores do blog).
Feita essa introdução, vamos ao que interessa: aos dezesseis melhores livros de 2020 do Bonas Histórias. Na lista, a seguir, há títulos de Kazuo Ishiguro (Japão), Isabel Allende (Chile), José Eduardo Agualusa (Angola), Kenzaburo Oe (Japão), Virginia Woolf (Inglaterra), Marçal Aquino (Brasil), Maria José Dupré (Brasil), Jack Kerouac (Estados Unidos), Rubem Fonseca (Brasil), Fernanda Torres (Brasil), Sérgio Rodrigues (Brasil), Elena Ferrante (Itália), Paulo Sousa (Brasil) e Carolina Zuppo Abed (Brasil). É ou não é um grupo seleto de autores, hein?!
Confira, abaixo, a lista completa das melhores obras analisadas no ano passado:
16º lugar: "Passatempoemas – Desafios Verbo-lógico-matemáticos” (Quelônio) – Carolina Zuppo Abed (Brasil) – 2020.
Lançado no final do ano passado, “Passatempoemas” é a terceira publicação de Carolina Zuppo Abed, jovem escritora paulistana. Nessa nova coletânea poética, Carolina une a dinâmica dos jogos de passatempo à beleza polissêmica da poesia (daí o título da obra). Esse livro é uma experiência literária lúdica, instigante e extremamente inusitada. “Passatempoemas” é a obra mais original que analisamos em 2020 no Bonas Histórias.
15º lugar: "A Peste das Batatas" (Pomelo) – Paulo Sousa (Brasil) – 2019.
Romance de estreia de Paulo Sousa, “A Peste das Batatas” foi lançado entre o final de 2019 e o começo de 2020. Em uma sátira político-social impecável, o livro de Sousa apresenta os dramas dos agricultores do fictício Vale das Batatas. Os trabalhadores rurais são vítimas de duas pestes: uma misteriosa e de natureza biológica e outra mais evidente e de caráter social. Além de ser uma obra inteligente e divertidíssima, “A Peste das Batatas” possui um timing surpreendente (fala em uma praga que se espalhou pelo Brasil).
14º lugar: “A Filha Perdida” (Intrínseca) – Elena Ferrante (Itália) – 2006.
Elena Ferrante é a escritora italiana contemporânea mais vendida no mundo. “A Filha Perdida” é o seu terceiro romance. Publicada em 2006, esta obra apresenta o drama psicológico de uma napolitana de meia-idade atormentada pelas relações nem um pouco saudáveis com sua família, principalmente com a mãe e com as filhas. Em um texto tortuoso e intenso, mergulhamos na mente de uma das mais polêmicas protagonistas da literatura europeia do século XXI.
13º lugar: "O Drible" (Companhia das Letras) – Sérgio Rodrigues (Brasil) – 2013.
Enfim, um escritor brasileiro conseguiu produzir um grande romance ambientado no universo futebolístico. A proeza coube a Sérgio Rodrigues, desde já uma espécie de Eduardo Galeano nacional. Em “O Drible”, título publicado em 2013, Rodrigues expõe o drama familiar de Murilo Filho e Murilo Neto, respectivamente pai e filho. As desavenças dos protagonistas são embaladas pelas saborosas histórias do futebol brasileiro, que influencia os acontecimentos e os segredos do romance.
12º lugar: "Fim" (Companhia das Letras) – Fernanda Torres (Brasil) – 2013.
Primeiro romance de Fernanda Torres, “Fim” mostrou que sua autora poderia ser tão talentosa na literatura quanto era/é como atriz. Lançado no finalzinho de 2013, esse livro se tornou rapidamente um grande sucesso comercial e de crítica. O enredo de “Fim” se passa no Rio de Janeiro e apresenta, em tom de tragicomédia, o balanço existencial da vida de cinco amigos. Ao mesmo tempo em que acompanhamos o último dia de cada um deles, assistimos em retrospectiva às suas desilusões amorosas e às constantes brigas.
11º lugar: “A Grande Arte” (Agir) – Rubem Fonseca (Brasil) – 1983.
Confesso que não sei qual é o meu romance favorito de Rubem Fonseca: se é “A Grande Arte” ou se é “O Caso Morel”. Para mim, os dois estão empatados entre os grandes títulos do romance policial brasileiro. Lançado em 1983, “A Grande Arte” conquistou o Prêmio Jabuti do ano seguinte e foi, mais tarde, levado para os cinemas. Além de conter uma overdose de cenas de violência e de sexo, esse livro trouxe para as narrativas longas uma das personagens mais emblemáticas da literatura de Rubem Fonseca, o detetive Mandrake.
10º lugar: "O Caso Morel" (Biblioteca Folha) – Rubem Fonseca (Brasil) – 1973.
Publicado em 1973, em uma época em que Rubem Fonseca dava preferência para as coletâneas de contos, “O Caso Morel” foi o primeiro romance do autor mineiro. Nesta obra, assistimos a transferência da ambientação noir dos contos de Fonseca para as narrativas longas. O resultado é uma obra-prima do romance policial nacional. Até hoje fico me perguntando se Paul Morel/Paulo Morais, fotógrafo e pintor obcecado por mulheres e viciado em sexo, é inocente ou culpado.
9º lugar: “Os Vagabundos Iluminados” (L&PM Pocket) – Jack Kerouac (Estados Unidos) – 1958.
Sei que o livro mais famoso e celebrado de Jack Kerouac é “On The Road – Pé na Estrada”. Contudo, admito um tanto envergonhado que não gostei desse clássico beat. Para mim, a melhor obra de Kerouac é “Os Vagabundos Iluminados”. Lançado em 1958, um ano depois de “On The Road”, “Os Vagabundos Iluminados” apresenta dramas psicológicos mais cativantes, um texto ficcional com mais qualidade e personagens muito melhores do ponto de vista literário. Vale a pena conhecer as aventuras de Raymond Smith pelas montanhas de Sierra Nevada e pela iniciação no budismo.
8º lugar: “Éramos Seis” (Ática) – Maria José Dupré (Brasil) – 1943.
Clássico da literatura nacional que foi adaptado incontáveis vezes para as telenovelas, “Éramos Seis” é o principal trabalho ficcional de Maria José Dupré. A escritora paulista construiu um drama histórico comovente neste que é o seu segundo romance. Lançado em 1943, “Éramos Seis” é narrado por Eleonora de Lemos. Mais conhecida como Dona Lola, a protagonista relata a trajetória difícil de sua família ao longo de três décadas. Para quem gosta de um dramalhão, este livro é imperdível.
7º lugar: "A Turma da Rua Quinze" (Ática) – Marçal Aquino (Brasil) – 1989.
“A Turma da Rua Quinze” é um clássico da literatura infantojuvenil brasileira que foi produzido por Marçal Aquino. Publicado em 1989, este romance policial mirim é um dos maiores sucessos da série Vaga-Lume. Em “A Turma da Rua Quinze”, acompanhamos o misterioso sumiço de Marcão, o irmão mais velho de Serginho. Enquanto os adultos estão com os olhos grudados na televisão (afinal, é julho de 1969 e os astronautas norte-americanos estão viajando para a Lua), a garotada inicia uma investigação para descobrir onde o menino desaparecido está.
6º lugar: "Orlando" (Penguin) – Virginia Woolf (Inglaterra) – 1928.
Exemplar máximo da genialidade literária de Virginia Woolf, “Orlando” é o romance satírico que revolucionou a literatura inglesa no início do século XX. Clássico do Modernismo, esta obra apresenta muita ação, tem um conflito rapidamente identificável (um homem que aos trinta anos sofre uma transmutação sexual e vira biologicamente uma mulher) e deixa os fluxos de consciência em segundo plano. Ou seja, “Orlando” não é daqueles livros herméticos que caracterizaram a maioria das narrativas de Woolf. Pelo contrário: ele é um texto atual e instigante. Incrível!
5º lugar: "Feliz Ano Novo" (Nova Fronteira) – Rubem Fonseca (Brasil) – 1975.
Se os romances policiais de Rubem Fonseca já são de tirar o fôlego, imagine só como são suas coletâneas de contos, gênero narrativo em que o escritor mineiro se especializou. Publicado em 1975, “Feliz Ano Novo” é a prova derradeira de que Fonseca é o maior contista nacional do século XX (e talvez de toda a história da literatura brasileira). Nesse livro que foi censurado pela Ditadura Militar, há alguns dos melhores contos do autor, como "Passeio Noturno (Parte I)" e “Feliz Ano Novo”. Ninguém retratou a violência urbana brasileira com tanta intensidade e propriedade como Rubem Fonseca.
4º lugar: "Uma Questão Pessoal" (Companhia das Letras) – Kenzaburo Oe (Japão) – 1964
Lançado em 1964, “Uma Questão Pessoal” é o romance mais famoso de Kenzaburo Oe. A narrativa naturalista foi inspirada em um episódio real ocorrido um ano antes: o nascimento do filho do escritor japonês. A criança veio ao mundo com graves problemas cerebrais e estava fadada a uma vida vegetativa. A partir daí, Kenzaburo Oe criou uma história semi-autobiográfica em que o protagonista, um professor de inglês, se questiona sobre o que realmente deseja para o filho recém-nascido. Em um relato aterrorizante, acompanhamos um dos dramas psicológicos mais sombrios da literatura contemporânea.
3º lugar: “O Vendedor de Passados” (Tusquets) – José Eduardo Agualusa (Angola) – 2004.
“O Vendedor de Passados” é o maior sucesso de José Eduardo Agualusa, o principal escritor angolano da atualidade e um dos grandes nomes da literatura contemporânea em língua portuguesa. Publicado em 2004, este livro se tornou um sucesso imediato de público e de crítica. “O Vendedor de Passados” é uma sátira sagaz e com elementos de realismo fantástico. Seu enredo é ambientado em Luanda, capital angolana, logo depois do fim da Guerra Civil. A partir dos dramas de Félix Ventura, José Buchmann e Eulálio, José Eduardo Agualusa constrói um retrato arrebatador da realidade atroz de seu país e das neuroses de seus conterrâneos.
2º lugar: "A Casa dos Espíritos” (Bertrand Brasil) – Isabel Allende (Chile) – 1982.
“A Casa dos Espíritos” é o romance de estreia de Isabel Allende. Lançado em 1982, este livro é o maior sucesso da escritora chilena até hoje. Mesclando pitadas de realismo fantástico, passagens biográficas e dramas familiares, este romance histórico tece um retrato contundente da história recente do Chile. Ao mesmo tempo em que acompanhamos as tragédias sócio-políticas da nação andina, assistimos à saga da família Del Valle Trueba por quatro gerações. Com personagens cativantes, cenas inesquecíveis e uma trama de tirar o fôlego, “A Casa dos Espíritos” é um dos melhores livros que li não apenas no ano passado, mas em toda a minha vida.
1º lugar: "Os Vestígios do Dia" (Companhia das Letras) – Kazuo Ishiguro (Japão) – 1989.
Kazuo Ishiguro ganhou Prêmio Nobel de Literatura de 2017. Boa parte dessa conquista pode ser creditada à repercussão positiva de “Os Vestígios do Dia”, seu romance mais celebrado. Publicado em 1989, este drama histórico apresenta com delicadeza e precisão a narrativa de um velho mordomo inglês. Obcecado por seu trabalho e fanático pela perfeição profissional, o narrador-protagonista coloca tudo o que não é relativo ao seu ofício de mordomo em segundo plano. O resultado é um dos títulos mais sublimes da literatura contemporânea. Impossível não se emocionar com esse texto de Ishiguro.
Se você gostou da lista dos melhores livros de 2020, não deixe de conferir os filmes mais interessantes que foram analisados pelo Bonas Histórias no ano passado. A lista dos melhores títulos cinematográficos de 2020 estará disponível no blog no dia 19. Não perca a segunda parte da nossa retrospectiva!
Gostou deste post do Bonas Histórias? Deixe seu comentário aqui. Para acessar a lista completa dos melhores livros, filmes, peças teatrais e exposições dos últimos anos, clique em Recomendações. E não deixe de nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.