Confira a lista dos 5 longas-metragens mais interessantes do ano passado segundo o Bonas Histórias.
Janeiro é o mês da retrospectiva no Bonas Histórias. Como reza a tradição do blog, aproveitamos a mudança do calendário para apresentar na coluna Recomendações o que de mais interessante vimos no ano recém-encerrado. No post de hoje, vamos discutir os melhores filmes de 2024. Daqui a duas semanas, retornarei a essas bucólicas páginas para comentar os melhores livros da última temporada. Depois desse bem-vindo revival, acredito que concluímos as mudanças de ciclo e estaremos prontos para conhecer as boas novidades que 2025 nos reserva.
Antes de exibir a lista das produções cinematográficas mais impactantes do ano passado, preciso fazer uma observação relevante. Houve um tempo (não tão distante assim) em que postava uma análise de filme por semana. A coluna Cinema era, acredite se quiser, mais movimentada do que a vida matrimonial do Fábio Júnior. A ideia naquela época era apresentar aos leitores do Bonas Histórias a maior quantidade possível de indicações culturais. Por isso, nosso ritmo de postagem era alucinante. Quase diariamente tínhamos algo novo para mostrar. Como consequência, também publicava uma análise de livro por semana (na coluna Livros – Crítica Literária) e alimentava periodicamente as demais seções do blog. Não é errado dizer que as colunas Músicas, Teatro, Dança, Exposições, Gastronomia e Passeio, por exemplo, também bombavam com novidades frequentes.
Contudo, o excesso de publicações (ou o baixíssimo intervalo entre os posts, como queira) cobrava um preço amargo: nosso conteúdo não era nem um pouco aprofundado, muito menos completo. Para ser bem sincero com a meia dúzia de boas almas que me lê regularmente, ele era até mesmo bem superficial. Juro que tenho vergonha de reler muitas das antigas análises, que para meu desespero ainda são acessadas graças ao Deus da Internet, entidade chamada de SEO. Quanto mais velha é a resenha do blog, pior é a qualidade textual. Identificado o problema no início de 2023, mudamos radicalmente a linha editorial. Ao invés de posts quase diários de tamanho reduzido e de abrangência limitada, optamos por um post semanal com maior extensão e com grande profundidade. Surgia, assim, o Bonas Histórias que você conhece hoje.
Mas por que estou falando sobre isso na coluna Recomendações? Para explicar que sigo visitando semanalmente as salas de cinema (lendo um livro por semana e realizando várias atividades artísticas por mês). Minha rotina e meu estilo de vida não mudaram nadinha. Apenas não comento com os visitantes do blog todas as produções culturais que acompanho, como fazia outrora. Alguém poderia dizer que o nome dessa mudança é sofisticação da curadoria do blog. Pode ser. Porém, como não sou metido à besta, gosto de pensar que é falta de tempo mesmo. Se pudesse, juro que passaria o dia inteiro discorrendo sobre os vários assuntos da literatura, da cultura e do entretenimento que me deparo diariamente.
De qualquer maneira, minha observação serve como justificativa do porquê nem todas as citações que farei a seguir (e no próximo material sobre as melhores leituras de 2024) renderam posts na coluna Cinema (e na coluna Livros – Crítica Literária). Infelizmente, vários ótimos filmes que vi no ano passado não se transformaram em avaliações completas no blog. A boa notícia é que aqueles longas-metragens que foram discutidos, tiveram um nível mais completo e complexo de avaliação. Ao menos, era essa a ideia, né?
Feita essa ressalva (que saiu bem maior do que imaginei), podemos ir diretamente para os cinco melhores filmes que foram exibidos nos cinemas brasileiros em 2024. Para potencializar o clima de suspense (que rufam os tambores!), optei por apresentá-los pela ordem decrescente. Ou você pensou que eu cometeria o erro de iniciar pelo título mais impactante, hein?! Nananinanão. Portanto, segue em contagem regressiva o top 5 que certamente agradará aos cinéfilos de bom gosto desse Brasilzão de Deus Me Livre e Guarde. Os leitores do Bonas Histórias mais atentos irão reparar na abordagem variada de gêneros cinematográficos e na multiplicidade de países selecionados na minha lista.
5º lugar: "Divertida Mente 2" (Inside Out 2: 2024) – Animação – Estados Unidos
Riley Andersen cresceu. Agora ela é uma adolescente de 13 anos. Na nova condição, a protagonista de uma das mais brilhantes animações da Pixar vai enfrentar novos dramas, típicos da fase mais turbulenta da vida. Além das já conhecidas Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva (personagens do filme anterior da série), a mente de Riley recebe cinco novas emoções: Ansiedade, Inveja, Vergonha, Tédio e Nostalgia. Com tanto sentimento brigando por atenção e pelo controle das ações da garota, não será fácil para ela entrar na puberdade.
Animação com a maior bilheteria da história do cinema e filme mais visto em 2024, "Divertida Mente 2” foi dirigido por Kelsey Mann e roteirizado por Meg LeFauve. Este é realmente um longa-metragem impecável, principalmente para quem gosta de mergulhar no vertiginoso universo da psicologia humana. Se há a natural perda do efeito novidade – é a continuação de “Divertida Mente” (Inside Out: 2015), produção de estrondoso sucesso que trouxe um enredo irreverente e inusitado –, por outro lado continuamos com sacadas inteligentes e cenas divertidíssimas. Vale a pena conferi-lo.
4º lugar: "A Substância" (The Substance: 2024) – Terror – França/Inglaterra
O título de melhor terror do ano passado foi, na minha opinião, para “A Substância”, novo longa-metragem da genial Coralie Fargeat. A francesa dirigiu e roteirizou essa produção que beira a perfeição. Num enredo que mistura thriller aterrorizante, suspense psicológico, comédia dramática, sátira social, aventura escatológica e ficção científica, acompanhamos a saga de uma atriz de Hollywood contra a passagem do tempo e o machismo do show business norte-americano.
Com atuação memorável de Demi Moore, Margaret Qualley e Denis Quaid, “A Substância” cumpre com o que promete: chocar a plateia com cenas absurdamente horripilantes e uma história original de tirar o fôlego. Confesso que há muito tempo não assistia a um filme de terror tão inteligente e incômodo, que me fez várias vezes desviar os olhos da tela. Portanto, prepare-se. É preciso estômago forte para chegar ao final dessa sessão. Boa sorte e muita coragem!
3º lugar: “Folhas de Outono” (Kuolleet lehdet: 2023) – Comédia romântica – Alemanha/Finlândia
Maior injustiça da última edição do Oscar. É assim que vejo a ausência de “Folhas de Outono”, o vigésimo longa-metragem de Aki Kaurismäki, entre os finalistas da categoria Melhor Filme Internacional do ano passado. Para mim, essa produção germano-finlandesa não apenas merecia a indicação ao principal evento do cinema mundial em 2024 como deveria ter saído dele com a estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles em mãos. Afinal, trata-se de um filme muito mais interessante, completo e original do que o superestimado (e cansativo) “Zona de Interesse” (The Zone Of Interest: 2023).
Com pouquíssimos diálogos (emulando claramente o cinema mudo), “Folhas de Outono” é a comédia romântica dos desajustados do mundo contemporâneo. Alma Pöysti e Jussi Vatanen interpretam brilhantemente o casal de protagonistas, duas figuras introvertidas, pobres, mal-amadas e extremamente azaradas. Por mais ridículas que sejam suas rotinas e por mais áridas que sejam suas vidas sentimentais, ainda assim torcemos para que os heróis mais improváveis do cinema mundial em 2024 fiquem juntos. Impossível não nos emocionarmos com esse drama ao mesmo tempo profundo, genuíno e divertido. Sem dúvida nenhuma, aqui está a história de amor mais incomum, engraçada e criativa da última temporada do cinema.
2º lugar: "Dias Perfeitos” (Perfect Days: 2023) – Drama – Japão/Alemanha
Estou careca (literalmente) de saber que Wim Wenders é um cineasta espetacular. Não dá para desprezar a qualidade de, por exemplo, “Paris, Texas” (1984), “Asas do Desejo” (Der Himmel über Berlin: 1987) e “Tão Longe, Tão Perto” (In weiter Ferne, so nah!: 1993). A surpresa é notar que, tal qual um vinho da melhor safra que só melhora com o passar do tempo, o cineasta alemão continua encantando as plateias com quase 80 anos. Prova cabal disso é o espetacular “Dias Perfeitos”, seu novo trabalho que foi filmado no Japão.
Neste drama profundamente comovente protagonizado pelo incrível Koji Yakusho (um dos melhores atores do ano passado), acompanhamos a rotina à princípio banal de Hirayama, um senhor solitário que limpa banheiros em Tóquio. Contudo, o cotidiano repetitivo e aparentemente simplório da personagem principal esconde belezas e paixões. Mesmo com um ritmo lento e com poucos acontecimentos, “Dias Perfeitos” é um filme que prende a atenção do público e emociona os espectadores com uma história sensível e linda de um homem que ama a vida e a natureza.
1º lugar: "Pobres Criaturas” (Poor Things: 2023) – Comédia dramática – Irlanda
Na minha humilde avaliação, o melhor filme de 2024 foi “Pobres Criaturas”. Dirigida por Yorgos Lanthimos, roteirizada por Tony McNamara e estrelada por Emma Stone, essa ficção científica tem elementos de fantasia, surrealismo, comédia nonsense, suspense noir, drama histórico e crítica social. Com 11 indicações para o Oscar e tendo conquistado quatro estatuetas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles (melhor atriz para Stone, melhor direção de arte, melhor figurino e melhor maquiagem), o longa-metragem encanta pelo roteiro audacioso, pela direção impecável e pela atuação simplesmente espetacular do elenco.
Baseado no romance homônimo do escocês Alasdair Gray, “Pobres Criaturas” é uma espécie de “Frankenstein” (1931) contemporâneo e feminista. Nessa história cheia de surpresas e reviravoltas, o cientista Dr. Godwin Baxter (interpretado por Willem Dafoe) cria uma mulher inteiramente nova a partir do corpo de uma grávida que se suicidou. Assim, nasce Bella Baxter (Emma Stone), uma jovem para frente do seu tempo. Os esforços do doutor é para enquadrar a moça à moral da sociedade inglesa. Entretanto, com seu jeitão peculiar, Bella choca os moradores da Londres vitoriana com uma sinceridade desconcertante e uma liberdade sexual. Eita filme mais divertido e inteligente!
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