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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

Foto do escritorRicardo Bonacorci

Premiações: Nobel de Literatura de 2023 - Jon Fosse

Em um mês com tantas novidades literárias, o escritor, dramaturgo e poeta norueguês conquistou a principal honraria da literatura mundial com dramas profundos, portfólio versátil e estilo inovador.

Jon Fosse conquistou o Prêmio Nobel de Literatura de 2023

Outubro de 2023 tem sido movimentado na área literária. É tanta novidade no Brasil e no mundo em tão poucos dias que não sei por onde começar esse post do Bonas Histórias. Antes de entrarmos no assunto principal de hoje cujo conteúdo integra a coluna Premiações & Celebrações, já alerto que vou dar uma pincelada em notícias gerais do universo da literatura contemporânea. Só depois vou me sentir pronto para falar com mais propriedade do novo vencedor da única área artística do Prêmio Nobel. Afinal, nem só de ciência e paz vive a humanidade, né? Um pouco de literatura e cultura não faz mal a ninguém!


No comecinho do mês, Ailton Krenak foi eleito pela Academia Brasileira de Letras. O ambientalista e filósofo mineiro de 70 anos é o primeiro indígena a se tornar imortal. Autor de best-sellers como “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” (Companhia das Letras) e “O Amanhã Não Está à Venda” (Companhia das Letras), Krenak tem obras traduzidas em 13 países. Ele assumirá a cadeira de número 5 da Academia, que já foi ocupada por Raimundo Correia, Oswaldo Cruz, Aloísio de Castro, Cândido Mota Filho, Rachel de Queiroz e José Murilo de Carvalho.


Na semana seguinte, conhecemos o vencedor do Prêmio Camões de Literatura de 2023. A principal honraria literária da língua portuguesa foi entregue a João Barrento, ensaísta, crítico literário, cronista e tradutor lusitano. Mais conhecido em seu país, o escritor de 83 anos traduziu clássicos da literatura alemã para o nosso idioma. Com a premiação, Barrento se junta aos moçambicanos Paulina Chiziane e Mia Couto, aos brasileiros Chico Buarque, Raduan Nassar, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles e Jorge Amado e aos conterrâneos José Saramago, António Lobo Nunes e Agustina Bessa-Luís.


Porém, nem tudo são flores nesse início de Primavera. Enquanto uns festejam o ápice da carreira, outro se despedem do público e deixam os palcos da literatura. Na última sexta-feira, 13 de outubro, faleceu Louise Glück, poetisa norte-americana de 80 anos que conquistara o Prêmio Nobel de Literatura de 2020. Considerada uma das principais poetas contemporâneas da língua inglesa, Glück também amedalhara um Pulitzer e um National Book Award.


O público brasileiro tem à disposição a tradução de dois livros da norte-americana: “Receitas de Inverno da Comunidade” (Companhia das Letras) e “Poemas 2006-2014” (Companhia das Letras). Olhando para o portfólio de Louise Glück, o público português tem mais opções de obras nas estantes de suas livrarias. Por outro lado, os leitores lusófonos do Kindle possuem a tradução para o português do discurso da poetisa na cerimônia de entrega do Nobel: “Discurso do Prêmio Nobel 2020” (Companhia das Letras). Li há cerca de um ou dois anos o ebook e o achei emocionante, além de ser uma aula de literatura. As causas da morte de Glücknão foram reveladas.

Escritor, dramaturgo e poeta norueguês de 64 anos, Jon Fosse recebeu da Academia Sueca de Letras o Prêmio Nobel de Literatura de 2023

Entre alegrias e tristezas, a principal notícia do nosso mundinho literário em outubro não se refere, com todo o respeito que o trio de autores merece, a Ailton Krenak, João Barrento ou Louise Glück. Desde que a Academia Sueca de Letras anunciou, em 5 de outubro, o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2023, os olhos do público, da crítica, da imprensa e dos profissionais da área se voltaram para o feliz laureado. Viu como eu ia chegar ao assunto de hoje do Bonas Histórias! Era só esperar um pouco. Demoro, mas eu chego lá.


O premiado pela Academia Sueca foi Jon Fosse, escritor, dramaturgo e poeta norueguês de 64 anos. Diferentemente do que aconteceu nos últimos anos, o vencedor do Nobel literário de 2023 não foi uma surpresa que abalou os alicerces do mercado editorial. Ele era o principal favorito, considerado por alguns como a opção previsível. Como consequência, não tivemos polêmicas, reclamações e questionamentos dessa vez. Ufa! Fosse é o quarto norueguês a conquistar o principal prêmio da literatura mundial, mas o primeiro nos últimos 95 anos. E os botafoguenses achando que o tabu de quase três décadas sem título no Campeonato Brasileiro é muita coisa, hein?


Nascido em setembro de 1959 em Haugesund, cidade litorânea no Noroeste da Noruega, Jon Fosse é um dos dramaturgos mais encenados no mundo e tem obras literárias de vários gêneros. No teatro, são aproximadamente 40 peças, algumas tendo alcançado o sucesso internacional. Na literatura, foram produzidos mais de 50 livros entre coletâneas de contos, antologias poéticas, coleções de ensaios, romances, novelas e literatura infantil. Suas obras já foram traduzidas para quase 50 idiomas. Como dramaturgo, Fosse é comparado muitas vezes ao conterrâneo Henrik Ibsen, de “Casa de Bonecas” (Veredas) e “Peer Gynt”. Na esfera literária, as correlações habituais são com o trabalho de Samuel Beckett, de “Primeiro Amor” (Nova Fronteira), e Franz Kafka, de “A Metamorfose” (Companhia das Letras).


As principais marcas do trabalho artístico de Jon Fosse são o estilo minimalista, a prosa inovadora, o uso de uma versão do idioma norueguês que é falada por menos de 10% da população, a linguagem simples, as temáticas densas, a pegada mística das tramas, a narrativa melódica e o viés Existencialista das histórias. Com textos reflexivos, muitos em tom de monólogo, e ritmo lento, o autor mergulha nos dramas humanos como morte, sofrimento, abandono, solidão, melancolia, amargura, insegurança, obsessão sexual, sonho e loucura. Curiosamente, ele é chamado de “escritor do silêncio” por expressar aquilo que é impossível de ser dito.

Livros de Jon Fosse, escritor, dramaturgo e poeta nascido na Noruega em 1959, conquistou o Prêmio Nobel de Literatura de 2023

Em outras palavras, Fosse é daqueles escritores que deixam a crítica literária maravilhada, mas não conquista uma legião de leitores mundo à fora. Confesso que não li nenhum dos seus títulos (algo que pretendo mudar em breve e que vou compartilhar com vocês na coluna Livros – Crítica Literária). Com vergonha, digo que o autor da literatura norueguesa com mais publicações em minha estante é Jostein Gaarder, autor de “O Mundo de Sofia” (Companhia das Letras) e “Através do Espelho” (Companhia das Letras). Só não conte isso para ninguém, por favor. Tenho um nome a zelar (ou não).


No que se refere à popularidade de Jon Fosse, as peças teatrais são o produto do seu portfólio artístico mais consumido pelo grande público. Seus espetáculos cênicos são aclamados pelas plateias mais exigentes e vistos por multidões tanto nacional quanto internacionalmente. Não à toa, ele é um dos dramaturgos vivos com mais encenações na Europa. Nada mal para alguém que tem a fama de possuir textos muitas vezes herméticos, filosóficos e densos até mesmo para os padrões escandinavos.


De certa forma, o teatro foi o que viabilizou a carreira do norueguês na escrita criativa. Formado em Literatura, Jon Fosse sempre foi escritor/dramaturgo/poeta e se dedicou em período integral a tais ofícios. Para se sustentar financeiramente, dependia da comercialização das peças e dos livros. Exatamente por isso, produziu uma avalanche de trabalhos que totalizam quase uma centena de obras teatrais e literárias. Com o maior sucesso nos palcos, o teatro acabou viabilizando, nos primeiros anos, a carreira literária de Fosse, que demorou um pouco mais para emplacar e se tornar rentável, apesar das duas áreas sempre caminharem paralelamente.


Entre suas obras mais marcantes, podemos citar: “Namnet”, peça de 1995, “Melancholia” e “Melancholia II”, romances de 1995 e 1996, “Natta Syng Sine Songar”, peça de 1997, “Draum om Hausten”, peça de 1999, “Draum om Hausten”, outra peça de 1999, “Morgon og Kveld”, romance de 2000, “Svevn”, peça de 2005, “Eg er Vinden”, peça de 2007, e, claro, a celebradíssima “Septologien”, saga literária dividida em três livros e lançada entre 2019 e 2021.


No Brasil, temos à disposição dois livros de Jon Fosse traduzidos para o português: o romance “É a Ales” (Companhia das Letras) e a saga “Melancolia” (Tordesilhas), que reúne em uma só publicação os dois volumes da série “Melancholia”. Em breve, teremos a terceira obra. Mostrando-se com uma linha editorial impecável e um timing impressionante (lembremos da publicação dos títulos de Annie Ernaux no ano passado, quase que em conjunto com a premiação da escritora francesa pela Academia Sueca), a Editora Fósforo tem programado o lançamento no próximo mês da novela “Brancura” em nosso idioma. Para 2025, a editora paulistana promete a edição dos três volumes de “Septologia” em português.

Escritor, dramaturgo e poeta da Noruega, Jon Fosse ganhou o Nobel de Literatura em outubro de 2023

Se não conhecemos previamente os principais trabalhos dos vencedores do Prêmio Nobel de Literatura (algo que aprendi a não me martirizar), ao menos podemos apreciá-los depois da premiação. Acho que essa é uma das consequências mais legais das principais honrarias literárias para os leitores. Com o aumento natural do interesse do público consumidor, as editoras passam a traduzir e a publicar as obras dos grandes escritores contemporâneos. A partir dessa visibilidade, o mercado editorial joga luz na arte de figuras que jamais poderiam sair do primeiro plano do cenário literário.


Foi depois do destaque conferido pelo Nobel de Literatura que passei a ler muitos dos autores laureados. Posso citar J. M. Coetzee, de “Desonra” (Companhia das Letras), Olga Tokarczuk, de “Correntes” (Todavia), Kazuo Ishiguro, de “Os Vestígios do Dia” (Companhia das Letras), Alice Muro, de “O Amor de Uma Boa Mulher” (Companhia das Letras), Orhan Pamuk, de “Meu Nome é Vermelho” (Companhia das Letras), Hertha Müller, de “O Homem é um Grande Faisão no Mundo” (Companhia das Letras), e José Saramago, de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (Companhia das Letras). Muitos desses escritores e obras foram analisados nas colunas Livros – Crítica Literária e Desafio Literário.


Por isso, eu pergunto: quando é que vamos ler Jon Fosse, hein?! Acredito que valha a pena mergulharmos nas obras de um escritor tão versátil, prolífico, inovador e profundo. Então fica combinada a brincadeira: quem ler algo primeiro do norueguês comenta aqui. Que tal? Eu tô dentro!


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