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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

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Músicas: Quiero Mejor - O décimo álbum de Kevin Johansen

Em sua primeira coletânea de canções originais em cinco anos, o compositor e músico argentino lançou em 17 de maio de 2024, no Teatro Coliseo de Buenos Aires, uma trilha sonora intimista sobre os encontros e desencontros amorosos.

Lançado em 17 de maio de 2024 no Teatro Coliseo de Buenos Aires, Quiero Mejor é o décimo álbum de Kevin Johansen e a sua primeira coleção de músicas inéditas nos últimos cinco anos

Quando me mudei para Buenos Aires no ano passado, coloquei na minha lista de prioridades assistir presencialmente a um show de Kevin Johansen. É como diz aquele velho ditado: se a montanha não vai até Maomé, Maomé vai até a montanha. Na analogia musical, se Johansen não vem para o Brasil, os brasileiros que embarquem para a Argentina para vê-lo! No meu caso específico, como um residente em tierras hermanas, a operação se tornaria ainda mais fácil. Nem sequer aeroporto precisaria pegar.


Conforme os leitores mais assíduos do Bonas Histórias já sabem, sou fãnzaço deste compositor e músico argentino há alguns anos. Inclusive, apresentei na coluna Músicas, em meados de 2021, um panorama completo da trajetória artística e discográfica de Kevin Johansen. Naquele momento, postei as minhas canções favoritas de seu portfólio e uma análise de sua linha musical. E dale “Guacamole”, “Anoche Soñé Contigo”, “Cumbiera Intelectual”, “Fin de Fiesta”, “Desde Que Te Perdí” e “No Diga Quizás”. O curioso é que de lá para cá Johansen não apenas se tornou a figura que mais gosto do Pop Rock Argentino como se transformou no meu músico favorito, aí incluindo todos os idiomas e nacionalidades (perdão, Raul Seixas e Nora Jones!).


Por isso, quase pulei da cadeira no início do mês quando me toquei que estava prestes a completar um ano vivendo na Argentina e não tinha realizado meu grande sonho musical. Para ser sincero, essa era a única pendência que me faltava cumprir do meu checklist portenho. Uma vez saciadas as vontades gastronômicas, etílicas, turísticas, idiomáticas, culturais, sexuais, sentimentais e esportivas (conforme tenho apresentado aos poucos em “Tempos Portenhos”, a nova coletânea de narrativas não ficcionais da coluna Contos & Crônicas), precisava assistir a um show de Kevin Johansen. Tinha que zerar minha lista de desejos sim ou sim. Na verdade, ainda faltaria um outro item das minhas pendências argentinas (morar um ano na Patagonia), mas isso é outro papo – sei que não vou cumprir esse tópico tão cedo.


E qual foi minha surpresa ao descobrir quase que por acaso, no comecinho de maio, que Johansen não apenas tinha agendado un concierto na capital argentina para dali duas semanas como o evento marcaria o lançamento oficial de seu novo álbum, “Quiero Mejor” (2024). Essa era a oportunidade perfeita, sí señor, por favor! Ay, mami, eu não poderia perder esse espetáculo de jeito nenhum! Ay, papi, sabe lá quando Kevin Johansen se apresentaria novamente em CABA (Cuidad Autónoma de Buenos Aires)?!

Um dos principais cantores e compositores da música argentina contemporânea, Kevin Johansen lançou em maio de 2024 Quiero Mejor, seu décimo álbum

Só não fui direto para a boletería do Teatro Coliseo de Buenos Aires para comprar minha entrada porque tinha prova de espanhol no Laboratório de Idiomas da UBA naquele dia. A contragosto, fiz o exame correndo (com o som fraco do duplo “rr” e não com o som forte do “g”, por favor!) e saí em disparada em direção ao bairro do Retiro. No caminho, me veio um pensamento alarmista: “Pera aí, Sr. Ricardo. Você está indo comprar ingresso para um show de uma das figuras mais carismáticas e talentosas da música argentina contemporânea com apenas duas semanas de antecedência?! Como você é burro, meu caro!!! As entradas já devem ter acabado há um tempão”.


Não é que minha consciência tinha toda a razão. Tão logo fiz a solicitação para o senhorzinho que cuidava da boletería do Teatro Coliseo, às moscas naquela quinta-feira à tarde, ouvi a resposta seca no típico castellano rioplatense: “Entradas agotadas”. Ele sequer consultou o sistema para destruir, como se fosse uma catarinense gatinha, as minhas esperanças de felicidade. Apesar da resposta um tanto lógica, fui pego de surpresa com aquela informação desconcertante. Não passava pela minha cabeça perder o espetáculo. Qué lindo que es soñar.Soñar no cuesta nada. Soñar y nada más.


Talvez constrangido com minha reação de prostração e choque, o senhorzinho começou a digitar no computador em busca de uma solução razoável (ou de mais justificativas para a sua negativa). Certamente, ele deve ter pensado: “De quão longe veio esse sujeito com péssimo espanhol para chegar aqui suado e ofegante a procura de ingresso?!”. Juro que tive a sensação, tão grande era meu desespero, que o homem ficou digitando e olhando para a tela do computador por vários minutos. Mais tarde, refletindo na calma e no conforto do meu minúsculo lar, acredito que a cena não tenha demorado mais do que dez segundos.


Aí surgiu a frase mais dúbia que ouvi nos últimos meses: “Las entradas están agotadas. ¡Sólo hay una!”. Pera aí. Meu espanhol não é tão medonho para eu não pegar a monumental contradição. Como assim os ingressos acabaram e ainda restava um?! Não fazia sentido aquela sequência de frases, Jarmusch, Cousteau, Cocteau, Arto, Maguy Marin, Twyla Tharp, Gilda, Visconti, Gismonti! Por mais que eu insistisse em tentar entender a situação, o senhorzinho continuava me dizendo que não havia mais ingressos à venda e que só tinha um disponível.


Perplexo com a cena kafkiana, falei que eu só precisava mesmo de un boleto. Unzinho. Nada mais, nada menos. Um, por favor! Quase contei, em tom de amargura, que levei um pé na bunda da policial de Belgrano em janeiro e que agora estava com o coraçãozinho destruído por um lindo sorriso sulino. Por mais que ansiava estar bem acompanhado no espetáculo de 15 dias mais tarde, era inviável. Contudo, preferi ocultar minhas mais recentes desilusões amorosas e focar no fato objetivo: uma entrada, só uma, era suficiente para mim.

Primeira coleção de músicas inéditas de Kevin Johansen nos últimos cinco anos, Quiero Mejor apresenta uma trilha sonora intimista sobre os encontros e desencontros amorosos

Como se, enfim, estivesse me entendendo pela primeira vez em nossa já comprida conversa, o senhor sorriu. Parecendo aliviado, respondeu: “¡Dale!”. E não é que ele me entregou o último ingresso disponível por 15 mil pesos argentinos (mais ou menos 70 reais)! Só quando voltava para casa, feliz com o desfecho da história surreal e preocupado com a prova que entreguei de qualquer jeito, compreendi o que havia se passado. Quem é o maluco que compra só um ingresso para um show musical, né? Certamente, aquele bilhete solitário estava lá há um tempão. Vários casais e grupos de amigos deveriam tê-lo recusado. Nessas horas tenho orgulho de ter sido picado pelo vírus da solteirice – por mais que o frio polar das noites portenhas insista em me revelar que essa é a pior opção possível neste momento.


Assim, consegui garantir minha improvável e surpreendente vaguinha no teatro. Se eu não acreditei ter conseguido, imagine só se eu contar isso para alguém?! Provavelmente vão me chamar de mentiroso – não que eu não seja. Mas essa aventura é, como dizíamos lá na infância vivida na casa de Dona Júlia no Parque São Domingos, verdade verdadeira. No digas maybe. No, dale baby. Después de tanto tiempo. De tantos ungüentos. De darnos contra el muro. De nuestros lamentos. Sigo buscando afuera. Lo que no hallo adentro. Sin peros en la lengua. Aquí te espero. No digas maybe. No, dale baby.


“Quiero Mejor” é o décimo álbum de Johansen e a sua primeira coleção de músicas inéditas em cinco anos. Vale a pena dizer que seu último disco foi “Algo Ritmos” (2019). Como o trabalho anterior não emplacou nenhum grande sucesso, a impressão que o público tinha (e que compartilho também) era que o jejum de novidades do argentino fosse maior.


A nova coletânea foi apresentada inicialmente no canal de Kevin Johansen no Youtube em março. Lá, o argentino lançou um vídeo com as onze canções de “Quiero Mejor”. O mais curioso foi o formato da gravação. O cantor e compositor estava sentado em um velho sofá com estampa florida em cima de um caminhão de mudança. O veículo percorria as ruas de Miramar, cidade litorânea da província de Buenos Aires que é rival turística de Mar del Plata. Durante o passeio e sempre sentado no sofá florido, Johansen cantava seu novo portfólio. Hilário! O vídeo possui o típico humor nonsense do artista.


As músicas no novo álbum são: (1) “Quiero Mejor”, a canção que empresta seu título ao disco, (2) “Vals de la Luna”, (3) “Puntos Equidistantes”, (4) “Sin Darme Cuenta”, (5) “Seductor Serial”, (6) “Comfort Zone”, (7) “Era Ahora”, (8) “Amada Amante”, (9) “Hola Need”, (10) “Soñando” e (11) “Bien Sur”. Se você ficou curioso(a) para conhecer essas faixas, a seguir deixo o vídeo com a apresentação das onze canções. Relembro que elas foram cantadas em cima de um caminhão em uma voltinha por Miramar:



Todas as músicas de “Quiero Mejor” são criações próprias de Kevin Johansen, com exceção, por supuesto, de “Amada Amante”, composição clássica de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. É muito legal ver o argentino cantando uma tradicional música romântica brasileira. Por falar nisso, meus conterrâneos vão gostar de ver (no caso, ouvir) outra referência direta ao nosso país. Na faixa “Seductor Serial”, Johansen canta nos versos iniciais: “No te hagas el oso/ Me queres seducir como el baiano Veloso”. Não precisamos ser Sherlock Holmes para descobrir que o mencionado “baiano Veloso” é Caetano.


Do ponto de vista dos parceiros musicais, Johansen faz duetos em “Puntos Equidistantes” com a mexicana Natalia Lafourcade, uma fofura de pessoa e de cantora, e em “Era Ahora” com o argentiníssimo Nito Mestre, um dos ícones do Rock Argentino (gênero mais conhecido por essas terras simplesmente como Rock Nacional). Na faixa “Quiero Mejor”, as convidadas são as espanholas de Las Migas, grupo vencedor no ano retrasado do Grammy Latino com o melhor álbum de Flamenco.


A nova banda que acompanha o músico argentino se chama “Feng Shui Project”. Ela é composta por Panda Elliot (guitarra), Marcelo Coca Monte (baixo), Martín Adler (teclado), Luciano Milocco (bateria) e Facundo Guevara (percussão). Importante esclarecer que Elliot e Monte ajudaram Kevin Johansen na definição dos arranjos das melodias do álbum recém-lançado.


Tive a impressão de que a formação do novo conjunto foi realizada especificamente para esse disco e para alguns shows de “Quiero Mejor” na Argentina. Johansen não tem uma banda fixa e sempre monta novas formações para seus espetáculos. Talvez o grupo que mais tempo o tenha acompanhado (e que desperte até hoje ótimas lembranças no público) seja o The Nada. Por falar nisso, o The Nada irá retornar. Seus integrantes vão seguir com o cantor para os shows pela Europa nos próximos meses – o “Feng Shui Project” ficará na Argentina.


As músicas que mais gostei desta coletânea foram “Sin Darme Cuenta” (por forças de lembranças afetivas...), “Seductor Serial” (melodia mais gostosa), “Quiero Mejor” (melhor letra) e “Hola Need” (disparadamente a mais divertida e diferentona, uma mescla de Rap à italiana e Hip-hop). A única composição em inglês do novo álbum é “Comfort Zone”. Se bem que “Bien Sur” tem alguns versos em francês, mas é cantada essencialmente em espanhol.

Quiero Mejor é o mais recente álbum de Kevin Johansen, um dos principais músicos do Pop Rock Argentino

Analisando as canções de “Quiero Mejor”, nota-se que Kevin Johansen continua realizando um trabalho cativante que flerta com os diferentes estilos musicais. Nesse álbum, temos, por exemplo, Rumba, Rap, Hip-hop, Flamenco, Country, Rock e Pop Romântico. Contudo, é nítido o predomínio de faixas com melodias mais calmas e suaves. Além disso, as letras possuem agora uma maior pegada de desilusão amorosa (que lembram bastante a proposta de “Desde que te Perdí”) e menor componente divertido/cômico (“Hola Need” é a exceção que só valida minha tese).


A maioria das faixas fala de confusões e desencontros sentimentais, algo que curiosamente Johansen passou a abordar mais intensamente nos últimos álbuns. Confesso que gosto mais da proposta de seus discos iniciais, em que os relacionamentos amorosos eram abordados de forma mais positiva, criativa e divertida. A exceção é “Desde que te Perdí”, que mesmo triste e amarga é lindíssima (e que corrobora com a regra).


O show no Teatro Coliseo de Buenos Aires em 17 de maio durou pouco mais de duas horas. Ele começou às 20h15 (quinze minutos de atraso na Argentina é o mesmo que dizer que o horário foi seguido à risca) e terminou às 22h30. Mesmo tendo ficado no pior lugar do teatro (na última fileira do segundo piso, na lateral e abraçado a uma viga de sustentação), tive tanta sorte em conseguir aquele sofrido ingresso que não me senti no direito de reclamar de nada. Ainda assim, acredite se quiser, a visão do palco era boa. Se eu perdi algo, a culpa era mais da minha miopia do que da arquitetura do local.  


A proposta de “Quiero Mejor” era de valorizar as coisas simples da vida. Por isso, o tom intimista do espetáculo. Durante quase todo o show, Kevin Johansen cantou e tocou sentado em sua desde já folclórica poltrona florida (a mesma que apareceu no vídeo gravado em Miramar). Ao fundo havia uma lareira cenográfica. O quarteto musical se dividiu com cada uma das duplas em um lado do palco. O cenário, obviamente, era para emular a residência do cantor (que se divide até hoje entre a Argentina e os Estados Unidos). Metaforicamente, é como se estivéssemos visitando o lar dos Johansen em uma noite fria para uma sessão de boa música.


O que achei mais legal nessa proposta foi a relação de Kevin Johansen com o tal sofá de rodinhas. Foi divertidíssimo acompanhá-lo caminhando pelo palco sem se levantar da poltrona. Sim, senhoras e senhores, ele percorreu o lugar sentado. As rodinhas do assento funcionaram muitíssimo bem. Hilário! Mesmo cantando e tocando violão, suas pernas mexiam rapidamente e o levavam para todos os cantos do ambiente. Impossível não rir de um artista que sabe como cativar o público com atitudes simples e geniais.

Lançado em maio de 2024 no Teatro Coliseo de Buenos Aires, Quiero Mejor é o mais recente trabalho musical de Kevin Johansen, cantor e compositor argentino nascido nos Estados Unidos

Nessa ambientação de encontro doméstico, nada mais natural do que chamar a família para participar da roda de música que ocorria na sala de estar. Assim, subiram ao palco Miranda Johansen, a filha mais velha que já tem uma carreira artística, e Kim Emma Johansen, que começou há pouco a seguir os passos do patriarca. Cada uma delas cantou duas canções em dueto com o pai. A grande novidade da noite foi a presença de Tom Atahualpa Johansen, o terceiro filho do músico. O rapaz de 16 anos assumiu a bateria em uma das faixas. Até o pequeno cachorrinho da família (juro que não me lembro do seu nome!) foi ao palco e acompanhou a execução de uma música (dormindo no colo do dono, claro).


O único convidado de fora foi Nito Mestre. Adorei ver pessoalmente esse monstro do Rock Argentino, que exala paixão pela música e vitalidade impressionante. Por outro lado, confesso que senti falta de Natalia Lafourcade e das meninas de Las Migas. O show teria sido mais legal (e belo) com elas. Repare que nem mencionei Roberto Carlos entre os ausentes. Conhecendo os hábitos estranhos do brasileiro, me parecia impossível vê-lo no Teatro Coliseo durante “Quiero Mejor”. Contudo, Betinho poderia ao menos ter gravado “Amada Amante” com Johansen para o álbum, né? Nem isso ele fez. Ai, ai, ai. Que vergonha, Sr. Braga!


Em uma análise estrutural e musical, o espetáculo pode ser dividido em duas fases distintas. É como se tivéssemos um disco com dois lados bem distintos. Na primeira parte, Kevin Johansen apresentou as novas canções. Como elas ainda não caíram na boca do povo, ele achou por bem acrescentar algumas composições antigas. Ufa! Essa escolha foi providencial. Porém, ele não colocou seus maiores sucessos nessa lista. Pelo menos não eram as minhas canções favoritas.


Assim, a primeira etapa de “Quiero Mejor” saiu conforme o script. O músico argentino cantou tanto as novidades quanto as faixas mais antigas. Também recebeu seus convidados e desfilou o já conhecidíssimo carisma e bom humor. Até quando as coisas saíam erradas no palco, a simpatia de Johansen fazia tudo parecer leve e divertido. Por exemplo, o show começou sem que o microfone do cantor tivesse sido ligado. Ele não pensou duas vezes. Tão logo corrigiram o erro, ele brincou com o público: “Não valeu essa minha entrada. Vou começar de novo!”. E assim fez, para risada geral. Durante o espetáculo, ele ainda brincou uma ou duas vezes com o início caótico, como um episódio real de fatalidade que acontece em nosso dia a dia.

Um dos principais cantores e compositores da música argentina contemporânea, Kevin Johansen lançou em maio de 2024 Quiero Mejor, seu décimo álbum

Essa parte se encerrou com a saída de Johansen do palco e o fechamento das cortinas. Como ele se despediu muito rapidamente da plateia, era óbvio que voltaria. Sentindo isso, todo mundo no teatro começou a bater palmas, gritar e bater os pés no chão pedindo bis. Nada poderia ser mais clichê. E, voilà, as cortinas reabriram para alegria geral da nação. Se o desfecho era muito previsível, o que veio depois não foi tão óbvio assim. A segunda parte do show reservou as principais surpresas do espetáculo e foi o momento mais sensacional da noite.


Em sua volta, Kevin Johansen surge de ponta cabeça em uma cadeira atirada ao chão – igualzinho à imagem principal de divulgação do espetáculo. Indiferente à incômoda posição, ele tocou e cantou normalmente. Impossível não admirar um artista desse tipo, Santo Deus! O mais legal é que nesse desfecho do show, que se alongou por cerca de 20, 25 minutos, fomos brindados com os seus maiores sucessos. Juro que já estava pensando que iria embora sem ouvi-los. Das seis principais músicas que citei no meu post de 2021 sobre a carreira de Johansen, quase todas foram apresentadas no final de “Quiero Mejor”. Lá estavam “Guacamole”, “Anoche Soñé Contigo”, “Cumbiera Intelectual” e “Desde Que Te Perdí”.


Das minhas canções prediletas, apenas “Fin de Fiesta” não foi tocada. Ao sentir falta dessa faixa, imediatamente me recordei do quão incrível foi a interação da banda The Nada nos shows de 2010 e 2011. Quando “Fin de Fiesta” era executada, a equipe inteira ia para o centro do palco para cantá-la em um divertidíssimo jogral. Esse era o momento em que o público ia ao delírio. Não à toa, essa cena servia de fechamento para os espetáculos de Johansen. Bem que poderia ter algo desse tipo nessa noite...


Quando esse pensamento passou por minha cabecinha cada vez mais oca (e calva), Kevin Johansen começou a cantar “Cumbiera Intelectual” (saudades de ti, minha Cumbiera Intelectual!). Como se adivinhasse minhas ideias, o músico argentino desceu em direção ao auditório tocando violão e chamando o público para retornar ao palco com ele. Os mais empolgados que estavam no primeiro piso atenderam ao pedido e subiram também. Aí tivemos o fechamento perfeito de “Quiero Mejor”: cantor e fãs dançando e cantando juntos os antigos sucessos. SIMPLESMENTE, ESPETACULAR!!! Se eu já tinha gostado dessa interação entre banda e cantor, imagine só o impacto de ver a mesma cena só que entre músico e plateia! Até gravei o pedacinho desse momento para vocês verem o que estou dizendo:



Esse show inaugurou a nova turnê de Kevin Johansen. E, claro, serviu de cenário para a gravação do DVD do álbum. Realmente a atmosfera daquela noite e o visual do Teatro Coliseo foram perfeitos para a produção do conteúdo audiovisual. “Quiero Mejor” será apresentado nos próximos meses na Europa (primeira escala é a Espanha, depois Inglaterra e Suíça) e no fim do ano nos Estados Unidos. No início de 2025, começará a parte sul-americana do tour. Infelizmente, ainda não há previsão do artista argentino se exibir no Brasil. Apesar de ter gravado a música “Mi Querido Brasil” no álbum anterior, Johansen nunca fez um show em minha terra natal. Pelo menos eu nunca soube de sua ida para São Paulo ou Rio de Janeiro. Será que sou o único brasileiro que aprecia suas canções?!


Em suma, adorei ter assistido a um show de Kevin Johansen presencialmente. Pendência devidamente checada! Evidentemente, “Quiero Mejor” está longe, muito longe de representar a fase mais encantadora e criativa da carreira musical do argentino. Não por acaso, a melhor parte do espetáculo foi a do revival. Mesmo sabendo disso, ainda assim é bom ver/ouvir as novidades que Johansen tem a nos apresentar. Se elas não empolgam, também não decepcionam.


Além do mais, o novo álbum foi lançado em um período especial da trajetória pessoal e profissional do artista. No próximo mês, Kevin Johansen completa 60 anos de vida. E, em 2024, ele ainda celebra um quarto de século do seu primeiro disco, o impecável “The Nada” (2000). Como “Quiero Mejor” é a décima coletânea, não faltam comemorações. Por isso, só tenho mais duas coisas para falar: parabéns, Kevin! E obrigado, Johansen!!!

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