Com o rigor estético de João Cabral de Melo Neto e a sagacidade de Rubem Alves, Paulo Sousa apresenta as principais efemérides literárias deste mês.
Abril de 2021, quem diria que chegaríamos tão longe. Mas a vida é o que é, temos que aceitá-la e jogar com as cartas na mesa. Desculpe-me pelo rigor com que inicio os Miliádios Literários, mas ando lendo muito João Cabral de Melo Neto. O poeta brasileiro, autor de “Morte e Vida Severina” e “O Cão Sem Plumas” (Alfaguara), tinha rigor estético apurado e faria 37 miliversários no dia 28. Membro da Academia Brasileira de Letras, ganhou o Prêmio Camões e o Prêmio Neustadt, o Nobel norte-americano. Não chegou a ganhar o Nobel original, azar dos nórdicos. João Cabral é muito maior!
Quem ganhou o Nobel foi Thomas Mann, cujo falecimento completa 24 miliádios no dia 27. O autor de “A Montanha Mágica”, “Morte em Veneza” e “Os Buddenbrook” (Companhia das Letras) foi agraciado com o prêmio em 1929, além de ter se consagrado como um dos maiores romancistas do século XX.
Quem nunca ganhou o Nobel, mas não se importa em nada com isso, é J. K. Rowling. A autora da saga Harry Potter (Rocco) faz 24 miliversários no dia 15. Estima-se que suas reinações mais famosas tenham faturado em torno de 9 bilhões de dólares só no cinema.
Cinema, a sétima arte, que bebeu da escola do teatro para chegar ao topo dos programas de fim de semana. E não dá pra falar de teatro sem mencionar o irlandês Samuel Beckett. O autor de “Esperando Godot” (Companhia das Letras), “Primeiro Amor” (Nova Fronteira) e “Molloy” (Companhia das Letras) faria 42 miliversários no dia 9.
Voltando ao Brasil, Rubem Alves foi um grande pedagogo. Ele contribuiu com sua sabedoria em várias áreas, desde renomadas como sociologia e psicanálise, até a teologia. O afiado debatedor completaria 32 miliádios no dia 26, e escreveu “Ostra Feliz não Faz Pérola”, “A Grande Arte de Ser Feliz” e “Pimentas” (Planeta). Não à toa, seu desejo post-mortem foi ser cremado em Guarulhos e ter as cinzas jogadas sob um ipê amarelo.
Paulo Leminski, escritor, poeta e tradutor, faria 28 miliversários no dia 22. O curitibano é autor de “Vida” (Companhia das Letras), “Distraídos Venceremos” (Companhia das Letras) e “O Ex-Estranho” (Iluminuras). Ele é considerado um dos maiores haicaístas do Brasil.
Outro haicaísta é Luiz Ruffato, que faz 22 miliversários no dia 30. O autor de “O Verão Tardio” e “Eles eram Muitos Cavalos” (Companhia das Letras) é mais aclamado como romancista e, sob esta égide, venceu os prêmios APCA e Machado de Assis.
Já Ondjaki, poeta e escritor angolano, ganhou o Jabuti e o José Saramago. São dois prêmios lusófonos disputadíssimos, fazendo com que a menção do autor nesta coluna seja completamente irrelevante para os anais da história. Mas uma pérola para os leitores do Bonas Histórias. Enfim, o autor de “Os Transparentes”, “Avódezanove e o Segredo Soviético” e “Bom Dia Camaradas” (Companhia das Letras) completa 16 miliversários no dia 25.
E assim, citando grandes prêmios e grandes autores, nos despedimos da coluna miliádica de abril, que começou rigorosa, mas terminou inspiradora. Até que não foi tão ruim, não é?
Em memória de...
... Henry James, autor de “Retrato de uma Senhora” (Companhia de Bolso) e “A Outra Volta do Parafuso” (Penguin Companhia) que, sem mentiras, faria 65 mil dias de vida no dia 1º de abril.
... Raul Brandão, jornalista português que escreveu “As Ilhas Desconhecidas” (Raul Brandão), cuja morte faz 33 mil dias no dia 11.
... Manuel da Fonseca, escritor português autor de “Aldeia Nova” (Caminho), que faria 40 mil dias de vida no dia 20.
Miliádios Literários é a coluna de Paulo Sousa, autor do romance “A Peste das Batatas” (Pomelo) e da novela “Histórias de Macambúzios”, que apresenta mensalmente no Bonas Histórias as principais efemérides da literatura. Para ler os demais posts dessa seção, clique em Miliádios Literários. E não deixe de nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.