Saiu o ranking dos vinte títulos mais comercializados nas livrarias brasileiras no ano passado. Veja a lista dos best-sellers no país.
Com o amadurecimento precoce de 2023 (o Carnaval está logo aí!), venho hoje à coluna Mercado Editorial para apresentar o balanço da colheita dos livros mais vendidos no Brasil em 2022. Os leitores mais antigos do Bonas Histórias (beijos, Vanessa e Thalita!) já estão familiarizados com a lista dos títulos de maior sucesso. Afinal, em todo janeiro, divulgo o ranking das publicações best-sellers nas livrarias do nosso paísno ano anterior. Faço tal relação desde 2015, quando o blog iniciou as atividades (na verdade, as boas-vindas aos leitores e a apresentação da proposta do Bonas Histórias e os primeiros posts são de dezembro de 2014, mas o primeiro ano efetivo de operação do site foi mesmo em 2015). Ou seja, essa é a oitava vez que debato os campeões de popularidade do mercado editorial brasileiro. E acredite: dessa vez temos boas novidades para quem curte, como eu, a ficção literária.
E qual seria o grande destaque literário de 2022 no Brasil, hein? Quem ficou ligado mês a mês no ranking dos mais vendidos (confesso que tenho essa mania, tá?) saberá que o ano passado representou o auge do trabalho autoral de Colleen Hoover. A escritora norte-americana que se dedica à literatura infantojuvenil (tá bom, pode chamar esse gênero de literatura para jovens adultos, a tal young adult) vendeu mais do que água por aqui. Os livros da romancista texana de 43 anos foram tão comercializados, mas tão comercializados entre os brasileiros que eles representaram a incrível marca de um quarto do faturamento do Grupo Editorial Record (Walter Porto: 28 de dezembro de 2022, Folha de São Paulo). E olha que a Record não é qualquer player do mercado! A companhia é uma das grandes do setor no Brasil e tem sob seu comando selos como Galera, Galera Junior, Galerinha, Verus, Bertrand Brasil, José Olympio, Best Seller, Rosa dos Tempos, Civilização Brasileira, Paz & Terra, Difel, Best Business, Edição Best Bolso, Viva Livros e Nova Era, além do selo homônimo.
Três dos 20 livros mais vendidos no Brasil em 2022 tiveram a assinatura de Colleen Hoover. Na liderança do ranking nacional surge “É Assim que Acaba” (Galera), com 127 mil unidades comercializadas de janeiro a dezembro. A norte-americana ainda teve “É Assim que Começa” (Galera) na sexta posição com 67 mil exemplares vendidos e “Todas As Suas (Im)Perfeições” (Galera) na 19ª colocação dos best-sellers das nossas livrarias com 37 mil unidades vendidas. “Até o Verão Terminar” (Galera) e “Verity” (Galera) também tiveram excelentes resultados no Brasil e quase entraram em nossa lista. Se tivéssemos um top 30 ao invés de um top 20, na certa Hoover teria cinco obras no ranking. Realmente, é um resultado espetacular!!!
Antes que alguém me pergunte, eu informo que os dados comerciais que trago à coluna Mercado Editorial foram coletados e divulgados pelo PublishNews, a fonte da indústria brasileira do livro mais confiável na atualidade. Os números do PublishNews são obtidos diretamente dos sistemas de venda das maiores redes de livrarias do país. Dessa maneira, as estatísticas da empresa incluem tanto as operações físicas quanto as operações online dos principais varejistas nacionais. Além disso, os números do PublishNews são atualizados semanalmente, o que permite o acompanhamento periódico da evolução das vendas dos livros.
Deixando um pouco de lado os aspectos mais técnicos do estabelecimento do nosso ranking e voltando ao tema do sucesso de Colleen Hoover, seria ele um fenômeno exclusivamente brasileiro? Nananinanão. Nos Estados Unidos, até o final de novembro, Hoover tinha seis entre os dez títulos mais comprados (Marisa Dellatto: 26 de dezembro de 2022, Forbes Brasil). Em outras palavras, o sucesso que ela tem no país natal é proporcionalmente maior (até outubro, seus títulos acumulavam 8,6 milhões de exemplares comercializados no mercado norte-americano) e acabou ecoando por aqui. Curiosamente, a base da estratégia mercadológica da escritora está nos vídeos postados no TikTok, a rede social favorita da molecadinha. Quem diria que o público leitor seria um dia fortemente influenciado por pequenos vídeos publicados nas redes, hein?
De tempos em tempos, assistimos ao surgimento de fenômenos editoriais no Brasil envolvendo a ficção estrangeira. No ranking dos mais vendidos em 2014, por exemplo, vivenciamos a febre pela literatura de John Green. O autor norte-americano emplacou vários títulos entre as obras mais comercializadas em nosso país naquela temporada. O maior sucesso dele atendia pelo nome de “A Culpa é das Estrelas” (Intrínseca). Na esteira do êxito comercial desse romance, os leitores brasileiros correram às livrarias para adquirir “Quem é Você, Alasca?” (Intrínseca), “O Teorema Katherine” (Intrínseca) e “Cidades de Papel” (Intrínseca).
Antes da coroação recente de Colleen Hoover (e de John Green há oito anos) ao posto de best-seller número 1 do Brasil, já tínhamos visto no século XXI os leitores nacionais alçarem Stephenie Meyer, da saga “Crepúsculo” (Intrínseca), e J. K. Rowling, da série “Harry Potter” (Rocco), a tal condição. As semelhanças entre o quarteto de romancistas best-sellers são que todos: (1) são autores estrangeiros; (2) escrevem em língua inglesa; e (3) têm obras voltadas originalmente para o público infantojuvenil. Pelo visto, a combinação dessas três características é fundamental para colocar a ficção literária no topo dos livros mais vendidos no Brasil.
Por falar nisso, temos sete títulos da literatura infantojuvenil de língua inglesa no ranking dos 20 maiores best-sellers das livrarias brasileiras em 2022 (35% da lista dos mais vendidos). Além das três publicações de Colleen Hoover que já citei, surgem “Amor & Gelato” (Intrínseca), romance da norte-americana Jenna Evans Welch, “Heartstopper – Dois Garotos, Um Encontro” (Seguinte), romance da inglesa Alice Oseman, “A Garota do Lago” (Faro Editorial), romance do norte-americano Charlie Donlea, e “Vermelho, Branco e Sangue Azul” (Seguinte), romance da norte-americana Casey McQuiston. Essas obras ocupam, respectivamente, a 5ª, 13ª, 18ª e 20ª posições entre os mais comercializados no ano passado.
Da literatura ficcional adulta (acredite se quiser, mas ainda há obras de ficção direcionadas ao público mais exigente e experiente), temos cinco livros entre os best-sellers (25% do ranking). Dois deles são nacionais (10%). Enquanto “Nas Pegadas da Alemoa” (Buzz), romance de Ilko Minev, terminou 2022 como o terceiro livro mais vendido no Brasil, “Torto Arado” (Todavia), o premiado romance de Itamar Vieira Junior, encerrou a última temporada na sétima posição. Os títulos gringos da ficção adulta (15%) são: “Mulheres que Correm com os Lobos” (Rocco), coletânea de contos e crônicas da norte-americana Clarissa Pinkola Estés que ficou na quarta colocação; “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” (Paralela), romance da norte-americana Taylor Jenkins Reid que terminou na décima posição; e “A Hipótese do Amor” (Arqueiro), romance da italiana Ali Hazelwood que surpreendeu ao atingir o 15º posto entre os mais comercializados.
O renascimento da ficção literária entre os brasileiros é uma das boas notícias do mercado editorial no ano passado. Pela primeira vez em uma década, tivemos mais livros de ficção do que livros de não ficção entre os mais vendidos no país. Ao menos, quando usamos como referência a quantidade de títulos presentes no ranking dos best-sellers. Em 2022, foram 12 obras ficcionais na lista dos mais comercializados (60%) contra 8 obras não ficcionais (40%). É uma vitória apertada? É. Mas é uma vitória, né? Diria mais: é o primeiro triunfo depois de anos, anos, anos, anos, anos, anos, anos, anos, anos, anos e anos de derrotas amargas. É ou não é para comemorarmos, hein?!
O fato é que há muito tempo não assistíamos aos livros de autoajuda, aos títulos religiosos, às obras voltadas para o universo das finanças e dos negócios (com fartas doses de autoajuda e religiosidade) e as biografias perdendo espaço nas estantes das livrarias brasileiras para a ficção literária. Ufa! Ainda há esperança. Minha relutância em aceitar o predomínio da não ficção no Brasil é que normalmente esse tipo de publicação possui qualidade discutível (reparou no uso do eufemismo?!). Confesso que não consigo ler os principais lançamentos dessa área que tratam invariavelmente dos seguintes temas: seja feliz; fique milionário; acredite em Deus; se torne milionário; você consegue/pode alcançar seus sonhos; conquiste o primeiro milhão; se torne um profissional mais produtivo; e vire um milionário da noite para o dia. Se você gosta desse tipo de livro, vou respeitar suas preferências. Como eu não gosto desse tipo de publicação, também quero ter minhas preferências respeitadas.
Entre os escritores não ficcionais de destaque, Napoleon Hill emplacou duas publicações de autoajuda no ranking dos 20 mais vendidos em 2022 no Brasil: “Mais Esperto que o Diabo” (Citadel) apareceu na segunda posição; e “Quem Pensa Enriquece – O Legado” (Citadel) ficou na 17ª colocação. Os outros títulos de autoajuda que terminaram no alto do pódio foram: “O Poder da Autorresponsabilidade” (Gente), de Paulo Vieira, na oitava colocação, “Minutos de Sabedoria” (Vozes), de Carlos Torres Pastorino, na 11ª posição, e “Especialista em Pessoas” (Academia), de Tiago Brunet, no 16º lugar. “O Poder da Cura” (Petra), publicação religiosa de Padre Reginaldo Manzotti (nona posição), e “Do Mil ao Milhão” (HarperCollins), publicação de negócios de Thiago Nigro (14ª colocação), também podem ser encaradas como livros de autoajuda. No ano passado, nenhuma biografia se destacou.
Para visualizarmos melhor o ranking dos livros mais vendidos no Brasil em 2022, aí vai a lista do PublishNews com os 20 maiores best-sellers em nosso país no ano passado em ordem decrescente. Confira:
1º “É Assim que Acaba” (2016) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 127 mil unidades.
2º “Mais Esperto que o Diabo” (1938) – Napoleon Hill (Estados Unidos) – Autoajuda – Citadel – 95 mil unidades.
3º “Nas Pegadas da Alemoa” (2021) – Ilko Minev (Brasil/Bulgária) – Literatura Brasileira – Buzz – 90 mil unidades.
4º “Mulheres que Correm com os Lobos” (1992) – Clarissa Pinkola Estés (Estados Unidos) – Coletânea de Crônicas e Contos – Rocco – 70 mil unidades.
5º “Amor & Gelato” (2016) – Jenna Evans Welch (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Intrínseca – 69 mil unidades.
6º “É Assim que Começa” (2022) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 67 mil unidades.
7º “Torto Arado” (2019) – Itamar Vieira Junior (Brasil) – Literatura Brasileira – Todavia – 57 mil unidades.
8º “O Poder da Autorresponsabilidade” (2018) – Paulo Vieira (Brasil) – Autoajuda – Gente – 55 mil unidades.
9º “O Poder da Cura” (2022) – Padre Reginaldo Manzotti (Brasil) – Religioso – Petra – 52 mil unidades.
10º “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” (2017) – Taylor Jenkins Reid (Estados Unidos) – Literatura Estrangeira – Paralela – 50 mil unidades.
11º “Minutos de Sabedoria” (1966) – Carlos Torres Pastorino (Brasil) – Autoajuda – Vozes – 48 mil unidades.
12º “Os Segredos da Mente Milionária” (2005) – T. Harv Eker (Canadá) – Autoajuda – Sextante – 45 mil unidades.
13º “Heartstopper – Dois Garotos, Um Encontro” (2019) – Alice Oseman (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Seguinte – 45 mil unidades.
14º “Do Mil ao Milhão” (2018) – Thiago Nigro (Brasil) – Negócios – HarperCollins – 42 mil unidades.
15º “A Hipótese do Amor” (2021) – Ali Hazelwood (Itália) – Literatura Estrangeira – Arqueiro – 41 mil unidades.
16º “Especialista em Pessoas” (2020) – Tiago Brunet (Brasil) – Autoajuda – Academia – 41 mil unidades.
17º “Quem Pensa Enriquece – O Legado” (1937) – Napoleon Hill (Estados Unidos) – Autoajuda – Citadel – 40 mil unidades.
18º “A Garota do Lago” (2016) – Charlie Donlea (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Faro Editorial – 38 mil unidades.
19º “Todas As Suas (Im)Perfeições” (2018) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 37 mil unidades.
20º “Vermelho, Branco e Sangue Azul” (2019) – Casey McQuiston (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Seguinte – 37 mil unidades.
Nos próximos meses, voltarei à coluna Mercado Editorial para detalhar os diferentes aspectos do ranking dos livros mais vendidos no Brasil em 2022. Minha ideia é apresentar, no Bonas Histórias, três outras listas com as publicações best-sellers em nosso país. Nesses futuros posts, trarei: as obras ficcionais mais comercializadas nas livrarias nacionais no ano passado (post sairá em março de 2023); os títulos ficcionais de autores brasileiros mais procurados pelos leitores tupiniquins na última temporada (post em maio de 2023); e os livros infantojuvenis com mais saída no Brasil em 2022 (post em julho de 2023). Ao concluir o quarteto de post com os maiores sucessos do mercado editorial brasileiro, acredito dar uma visão mais completa das preferências dos leitores nacionais.
Enquanto isso, não deixe de acompanhar as análises da coluna Livros – Crítica Literária e não perca as novidades das outras colunas do blog. Afinal, enquanto o mundo gira e o tempo corre, a gente lê. Fazer o quê?!
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