Segundo pesquisa da Nielsen, o mercado editorial brasileiro apresentou queda de 8,8% no faturamento do ano passado e, assim, interrompeu o crescimento obtido em 2019.
Não trago boas novas sobre o mercado editorial brasileiro. Segundo a mais recente pesquisa realizada pela Nielsen Book em parceria com a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o faturamento do setor no Brasil caiu 8,8% em 2020 quando comparado ao ano anterior. A receita total do segmento no país ficou em R$ 5,2 bilhões no ano passado. Em 2019, vale a pena lembrar, o montante faturado foi de R$ 5,7 bilhões.
Obviamente, a grande culpada pela queda nas vendas de livros foi a pandemia do novo coronavírus. A restrição na circulação de pessoas (é sempre bom dizer: medidas essas necessárias para evitar a maior disseminação da Covid-19) levaram ao fechamento das livrarias físicas por vários meses (principalmente entre março e julho), à mudança de hábitos dos consumidores, ao menor apetite do governo por obras paradidáticas (queda de 15% em 2020 em relação ao ano anterior) e à diminuição acentuada na publicação de novos títulos por parte das editoras (17,4% menos se comparado ao período anterior). Assim, o resultado foi uma retração da indústria editorial que beirou os dois dígitos.
Quem acompanha regularmente a coluna Mercado Editorial deve se lembrar que no final do ano passado e no comecinho desse havia até certo otimismo entre os profissionais do setor. Comentei sobre isso no Bonas Histórias quando apresentei, em janeiro de 2021, a lista dos livros mais vendidos no Brasil em 2020. O crescimento acentuado de faturamento no segundo semestre do ano passado permitiu que muita gente sonhasse com números mais favoráveis para o consolidado de 2020. Contudo, a realidade foi impiedosa para o mercado editorial, o que deixou um gosto amargo na boca de todo mundo.
É verdade que para um segmento da economia que tinha a previsão de cair até 70% (acredite: esse era o cenário apresentado pelos mais pessimistas em abril de 2020, conforme noticiamos no post Crise Sem Fim nas Livrarias), a meta de muitas empresas (leia-se: editoras, livrarias, distribuidores e gráficas) era fechar próximo do zero. Por essa outra perspectiva, a nova pesquisa da Nielsen trouxe uma sensação de alívio – o baque foi grande, mas ainda assim foi menor do que a tragédia esperada há um ano.
O maior problema do mercado editorial brasileiro não é tanto a queda específica de faturamento em 2020, algo que era mais ou menos esperado. O problemão mesmo é que esse setor apresenta uma tendência de encolhimento há quase uma década. De 2013 para cá, a receita da indústria editorial despencou entre 30% e 40%. Esse sim é um dado alarmante. Assistimos ao setor caminhar para trás ano após ano sem que se possa decretar que o fundo do poço foi atingido.
Como consequência, muitas livrarias fecharam (e outras tantas estão passando por situações financeiras calamitosas) e várias editoras encerraram suas operações (e muitas das que ainda operam estão lutando pela sobrevivência). Nos últimos oito anos, a única temporada em que tivemos um crescimento do mercado editorial foi em 2019, quando o faturamento do setor foi 6,1% maior do que em relação a 2018. Convenhamos, é muito pouco. Ainda mais quando já no ano seguinte, damos dois passos para trás. À título de comparação, a receita do setor editorial em 2018 foi de R$ 5,3 bilhões (contra os R$ 5,2 bilhões de agora). Assim, o placar está desfavorável para o mercado nacional em um simbólico 7 a 1 (sete anos de queda para apenas um de crescimento).
No meio de tantas notícias negativas, destaco alguns dados positivos na pesquisa divulgada pela Nielsen em maio. Sim, há números interessantes que nos fazem acreditar em uma luz no fim do túnel. Em primeiro lugar, é preciso dizer que o brasileiro comprou mais livros de ficção e poesia em 2020 (na pesquisa, esses títulos aparecem dentro da categoria chamada de obras gerais). Curiosamente, esse foi o único segmento que cresceu no ano passado (faturamento de R$ 1,3 bilhão e expansão de 3,8%). É um alento saber que meus conterrâneos abriram mão de, por exemplo, obras religiosas (maior queda, com vendas 14,2% menores) para se entregar ao universo da boa literatura (quase digo da verdadeira ficção). Por falar nisso, abração, J. P. Cuenca!
Outro destaque foi o crescimento absurdo das vendas em modalidades digitais. Enquanto as compras em estabelecimentos físicos caíram 32% em relação a 2019, as compras em livrarias exclusivamente digitais expandiram 84% quando olhamos a participação do faturamento das editoras. Dessa forma, o comércio eletrônico movimentou quase R$ 1 bilhão em receitas em 2020. É a supremacia dos canais digitais em relação ao comércio tradicional.
O Brasil produziu de janeiro a dezembro de 2020 314 milhões de livros, uma redução de 20% na tiragem. Dos exemplares publicados, 82% é de reimpressões (obras antigas) e apenas 18% é de novos títulos (lançamentos). Dos R$ 5,2 bilhões faturados, R$ 3,7 bilhões são relativos ao mercado consumidor e R$ 1,4 bilhão são das compras governamentais.
Em suma, ainda que a queda do setor editorial esteja persistindo por tanto tempo, não podemos desanimar. Um país que lê mais e melhor (afinal, não basta ler um monte de bobageira – SAIA DAS REDES SOCIAIS, PELO AMOR DE DEUS!) é abrigo natural de um povo mais inteligente, consciente, engajado e que sabe votar DIREITO. Nas próximas semanas, trarei mais novidades para a coluna Mercado Editorial. Minha ideia é apresentar no Bonas Histórias os livros infantojuvenis mais vendidos em 2020 e os principais lançamentos da ficção e da poesia no quarto bimestre deste ano aqui no Brasil. Até lá!
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