Apresentamos hoje o ranking dos 25 livros ficcionais mais comercializados nas livrarias brasileiras no ano passado.
Em janeiro, eu trouxe para a coluna Mercado Editorial uma curiosidade que todos os leitores vorazes devem ter: a lista dos livros mais vendidos no Brasil em 2022. Quem acompanha o Bonas Histórias há mais tempo já sabe que tenho a tradição de apresentar o ranking dos best-sellers das livrarias de nosso país nos primeiros meses do calendário. Fiz isso com as obras mais comercializadas em 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021. O problema é que sou apaixonado pela ficção literária. E na lista dos maiores sucessos dos meus conterrâneos temos invariavelmente poucas publicações ficcionais. O que predomina no topo dos mais vendidos do mercado editorial brasileiro são títulos de autoajuda, textos religiosos, material sobre negócios e biografias. Tenho grande respeito por quem produz e lê esse tipo de literatura. Eu confesso que não gosto. Por isso, não ligo muito pelo que estão lançando nessas áreas.
Sabendo da incompatibilidade entre meus gostos de leitura e as preferências de compra da maioria dos meus compatriotas, eu também apresento anualmente no blog o ranking dos livros de ficção que foram mais adquiridos pelos brasileiros. Fiz isso em 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020 e 2021. Dessa forma, consigo ver melhor o que está rolando de bom na minha área de interesse. Sagaz, muito sagaz esse rapaz, né? Em 2023 não será diferente. Depois de dar um panorama geral, em janeiro, nas obras mais vendidas em 2022 no Brasil, no post de hoje da coluna Mercado Editorial vou focar exclusivamente nas publicações da ficção literária. Uhu! Agora chegamos aonde eu queria, senhoras e senhores.
Logo de cara informo que algo beeeeeem atípico aconteceu em 2022. Tivemos, acreditem se quiser, o predomínio de livros ficcionais no alto da lista das obras mais vendidas no Brasil no ano passado. Bomba! Bomba!! E bomba!!! Três vezes bomba! Pela primeira vez desde que comecei a fazer tal levantamento no Bonas Histórias, os títulos de ficção bateram os títulos de não ficção entre os best-sellers nacionais. Sim, isso aconteceu mesmo nas primeiras posições do ranking. E eu achando que não viveria para ver algo do tipo ocorrendo em meu país, hein?
Das 20 publicações mais comercializadas nas livrarias brasileiras em 2022, 12 eram romances. Comentei sucintamente sobre essa constatação no post de janeiro. Admito um tanto envergonhado que não sei explicar o que exatamente aconteceu para termos uma inversão tão acintosa na preferência do público no Brasil. Isso seria reflexo das mudanças dos hábitos de leitura trazidos pela pandemia? Ou seria a consequência natural do lançamento de bons livros de ficção na última temporada? Juro que não sei. A questão é verificar, nos próximos anos, se 2022 foi a exceção (que só confirma a regra da paixão do brasileiro pela não ficção) ou o momento decisivo de mudança de gosto dos leitores (provando que existe sim demanda pela ficção no Brasil e, por consequência, que Deus existe!).
Outra surpresa (que eu chamaria de bomba – uma vez só bomba!) foi o domínio avassalador de Colleen Hoover na relação dos best-sellers nacionais. Ninguém vendeu mais livros do que ela por aqui. É interessante dizer que esse fenômeno editorial se repetiu nos Estados Unidos e em vários países. A romancista norte-americana não apenas estampou o título mais vendido em 2022 no Brasil, “É Assim que Acaba” (Galera) com 127 mil unidades comercializadas, como também colocou outras duas obras, “É Assim que Começa” (Galera) com 67 mil exemplares e “Todas As Suas (Im)Perfeições” (Galera) com 37 mil unidades, no topo do ranking geral das obras preferidas pelo público brasileiro em 2022.
Quando olhamos apenas para a lista das ficções mais vendidas em nosso país, Hoover consegue ter números ainda mais impactantes. Ela tem nada mais, nada menos do que cinco títulos no top 25 da ficção. Sim, você leu direito. Eu disse/escrevi cinco! Uma autora sozinha é responsável por um quinteto de romances na lista dos 25 livros ficcionais mais vendidos em nosso país. Além dos já citados “É Assim que Acaba”, “É Assim que Começa” e “Todas As Suas (Im)Perfeições”, Colleen Hoover emplacou “Até o Verão Terminar” (Galera), com vendas de 19 mil exemplares, e “Verity” (Galera), com vendagem de 17 mil unidades. Nenhum escritor sorriu mais (tanto no Brasil quanto no mundo) em 2022 do que Hoover!
Infelizmente, as novidades nas livrarias brasileiras no ano passado param por aí. Continuamos tendo uma avalanche de títulos da literatura infantojuvenil e da literatura de língua inglesa (leia-se, autores dos Estados Unidos e do Reino Unido) entre os best-sellers nacionais. Tratemos, primeiramente, da preferência pelas histórias direcionadas originalmente para crianças e adolescentes. E depois falemos da overdose de publicações de escritores gringos nas prateleiras das nossas lojas e nas estantes das casas dos nossos leitores.
Dos 25 livros de ficção mais vendidos no Brasil em 2022, tivemos a inacreditável marca de 18 (eu disse 18!) obras infantojuvenis. O brasileiro médio até pode ter descoberto a ficção literária. Porém, como seu gosto de leitura continua ainda sendo extremamente inocente, pouco maduro e, por que não, infantilizado, ele acaba recorrendo aos livros e aos escritores que lá fora são lidos preferencialmente pela molecadinha. Ou você acha que a supremacia da literatura infantojuvenil é decorrência do elevado hábito de leitura de nossos jovens, hein? Sabe de nada, inocente!!! Para mascarar um pouco a falta de requinte de grande parte dos leitores mais velhos, o mercado editorial criou a classificação Young Adult. Costumo interpretar esse termo como a categoria de publicações na qual os adultos leem os livros dos adolescentes.
Outra coisa que parece não mudar no Brasil é a hegemonia da literatura internacional em relação à literatura nacional. Dos 25 livros de ficção mais vendidos no Brasil no ano passado, apenas três foram escritos por autores brasileiros. Somente Ilko Minev, de “Nas Pegadas da Alemoa” (Buzz), romance com 90 mil unidades comercializadas, Itamar Vieira Junior, de “Torto Arado” (Todavia), premiado título com 57 mil exemplares comercializados, e Carla Madeira, de “Tudo é Rio” (Record), obra com 29 mil volumes vendidos, conseguiram fazer frente a enxurrada da ficção estrangeira. O trio pode ser visto como os heróis da literatura brasileira em 2022.
Curiosamente, quando falamos em literatura internacional, estamos falando quase que exclusivamente da literatura ficcional praticada nos Estados Unidos e na Inglaterra. Dos 22 livros de ficção de autores gringos que caíram no gosto dos leitores brasileiros, 21 são exemplares da literatura norte-americana (15) e da literatura inglesa (6). A ovelha desgarrada do rebanho anglo-estadunidense foi “A Hipótese do Amor” (Arqueiro), best-seller da italiana Ali Hazelwood. Sua obra de estreia vendeu por aqui mais de 41 mil unidades. Em terra de Elena Ferrante, quem faz chover é Hazelwood. E assim caminha a literatura italiana, pelo menos para o público brasileiro.
Pela perspectiva dos romancistas estrangeiros, depois de Colleen Hoover, quem mais se destacou em nosso país foi a inglesa Alice Oseman. Ela teve impressionantes três obras no top 25 da ficção: “Heartstopper – Dois Garotos, Um Encontro” (Seguinte), na sétima posição com 45 mil unidades vendidas, “Heartstopper – Minha Pessoa Favorita” (Seguinte), na 16ª colocação com 28 mil exemplares comercializados, e “Heartstopper – Um Passo Adiante” (Seguinte), no 20º posto com 22 mil livros transacionados. Em outras palavras, a “Série Heartstopper” beirou as 100 mil unidades vendidas em 2022 no Brasil. Nada mal, né?
Para entender um pouco do apelo, da força e/ou da qualidade (vejam como quiserem) da literatura internacional, analisei no mês passado na coluna Livros – Crítica Literária um título best-seller de 2022. Os leitores mais atentos do Bonas Histórias vão se lembrar que debati todos os detalhes de “A Biblioteca da Meia-noite” (Bertrand Brasil) aqui no blog. Esse romance do inglês Matt Haig terminou a última temporada do mercado editorial brasileiro como a 13ª ficção mais vendida no país. Foram 29 mil unidades comercializadas. Confesso que achei a obra de Haig interessante, mas nada mais do que isso. Ela está longe (muito longe) de ser espetacular. Entretanto, como uma publicação voltada para o entretenimento dos adolescentes e jovens (o tal Young Adult, que ainda prefiro chamar de literatura infantojuvenil), “A Biblioteca da Meia-noite” cumpre bem seu papel.
A seguir, apresentarei o ranking completo dos livros de ficção mais vendidos no Brasil em 2022. Os dados estatísticos que estou usando neste post do Bonas Histórias foram coletados e divulgados pelo PublishNews, a principal fonte de informações e de números do mercado brasileiro de livros nos últimos anos. Exatamente por isso, recorro sem pestanejar ao PublishNews quando construo meus textos para a coluna Mercado Editorial. Então chega de papo e confira de uma vez por todas (e em ordem decrescente) a lista dos 25 maiores best-sellers ficcionais em nosso país no ano passado:
1º “É Assim que Acaba” (2016) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 127 mil unidades.
2º “Nas Pegadas da Alemoa” (2021) – Ilko Minev (Brasil/Bulgária) – Literatura Brasileira – Buzz – 90 mil unidades.
3º “Amor & Gelato” (2016) – Jenna Evans Welch (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Intrínseca – 69 mil unidades.
4º “É Assim que Começa” (2022) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 67 mil unidades.
5º “Torto Arado” (2019) – Itamar Vieira Junior (Brasil) – Literatura Brasileira – Todavia – 57 mil unidades.
6º “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” (2017) – Taylor Jenkins Reid (Estados Unidos) – Literatura Estrangeira – Paralela – 50 mil unidades.
7º “Heartstopper – Dois Garotos, Um Encontro” (2019) – Alice Oseman (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Seguinte – 45 mil unidades.
8º “A Hipótese do Amor” (2021) – Ali Hazelwood (Itália) – Literatura Estrangeira – Arqueiro – 41 mil unidades.
9º “A Garota do Lago” (2016) – Charlie Donlea (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Faro Editorial – 38 mil unidades.
10º “Todas As Suas (Im)Perfeições” (2018) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 37 mil unidades.
11º “Vermelho, Branco e Sangue Azul” (2019) – Casey McQuiston (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Seguinte – 37 mil unidades.
12º “Os Dois Morrem no Final” (2017) – Adam Silveira (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Intrínseca – 34 mil unidades.
14º “Tudo é Rio” (2014) – Carla Madeira (Brasil) – Literatura Brasileira – Record – 29 mil unidades.
15º “Coraline” (2002) – Neil Gaiman (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Intrínseca – 28 mil unidades.
16º “Heartstopper – Minha Pessoa Favorita” (2019) – Alice Oseman (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Seguinte – 28 mil unidades.
17º “A Rainha Vermelha” (2015) – Victoria Aveyard (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Seguinte – 25 mil unidades.
18º “Diário de Um Banana – Um Romance em Quadrinhos” (2007) – Jeff Kinney (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – VR Editora – 23 mil unidades.
19º “Os Últimos Jovens da Terra” (2015) – Max Brallier (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Milk Shakespeare – 22 mil unidades.
20º “Heartstopper – Um Passo Adiante” (2020) – Alice Oseman (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Seguinte – 22 mil unidades.
21º “Mil Beijos de Garoto” (2016) – Tillie Cole (Inglaterra) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Outro Planeta – 20 mil unidades.
22º “Até o Verão Terminar” (2020) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 19 mil unidades.
23º “A Seleção” (2012) – Kiera Cass (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Seguinte – 19 mil unidades.
24º “Eu e Esse Meu Coração” (2018) – C. C. Hunter (Estados Unidos) – Literatura Estrangeira – Jangada – 18 mil unidades.
25º “Verity” (2018) – Colleen Hoover (Estados Unidos) – Literatura Infantojuvenil Estrangeira – Galera – 17 mil unidades.
Para quem estiver curioso(a) para saber quais foram os outros autores brasileiros que caíram no gosto dos leitores nacionais em 2022, em maio retornarei à coluna Mercado Editorial com um novo ranking dos best-sellers em nossas livrarias. A ideia é listar apenas os livros da ficção brasileira que estiveram no topo dos mais vendidos no país no ano passado. Enquanto o novo ranking não chega, continue curtindo os demais posts do Bonas Histórias. O blog trará muita literatura, cinema, música, dança, cultura e entretenimento para vocês. Não percam!
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