Às vésperas do Natal, o Bonas Histórias tem o prazer de apresentar os vencedores da décima edição da tradicional premiação da Música Brasileira. Confira as 24 melhores canções nacionais ruins deste ano, conforme a rigorosíssima avaliação feita pelo corpo de jurados do SOSAMOR, a Sociedade Orelhuda Secreta dos Adoradores das Músicas Orgulhosamente Ruins.
O Natal já está aí, senhoras e senhores do cada vez mais quente (posso dizer infernal?) Brasil! Em um piscar de olhos, Papai Noel (com seus pesados casacos vermelhos e trenó com renas saltitantes) baterá à porta daqueles que têm porta. E para presentear os leitores do Bonas Histórias com algum regalito nem um pouco especial (como se alguém tivesse se comportado entre janeiro e dezembro e merecesse muita coisa neste finalzinho de ano), temos a honra de divulgar com exclusividade os vencedores da décima edição do Prêmio Melhores Músicas Ruins. É isso mesmo o que você leu, incauto(a) visitante das tortuosas páginas deste blog escondido nos recônditos da internet em língua portuguesa. A honraria tão desejada (ou não) pelos intérpretes e compositores brasileiros alcançou, em 2024, a surpreendente marca de 10 anos de existência. Quem disse que apenas o que é bom consegue perdurar por muito tempo, hein?!
Para quem ainda não conhece o Melhores Músicas Ruins (seja bem-vindo à Terra, querido marciano ou querida marciana), aviso (sem medo do meu nariz crescer ainda mais) que se trata do mais prestigiado e aguardado evento da Música Brasileira (depois de todos os outros, claro). Tal qual o Guia Michelin para a Gastronomia, o Oscar para o Cinema, o Jabuti para a Literatura, o IgNobel para as ciências não naturais e AVN Award para a indústria do desespero, essa tradicional premiação musical é capaz de transformar completamente a carreira dos vencedores e dos perdedores do dia para a noite – só não me pergunte se para melhor ou pior.
Não acredita no que estou dizendo (ou, no caso, escrevendo), oh pá?! Ai, ai, ai. Assim fica difícil para um pobre escriba propagar uma boa fake news por aí, né? Por favor, faça a sua parte como leitor(a) ingênuo(a) e desmiolado(a) – todo mundo tem um pouco dessa persona dentro de si. O povo acredita em coisas muito piores no WhatsApp, no Telegram e nas igrejas e não faz quaisquer contestações. Por que você não pode crer em uma sequência de míseros e singelos absurdos da minha parte, hein?! Me ajude a te ajudar, poxa vida!
Para corroborar com o que estou falando (tá bom, escrevendo), veja o que se passou com Ana Castela (de “Solteiro Forçado”, hit ganhador do Melhores Músicas Ruins de 2023), Juliano Maderada & Tiago Doidão (de “Tá Na Hora do Jair Já Ir Embora”, campeão do Melhores Músicas Ruins de 2022), Raí Saia Rodada (de “Tapão na Raba”, vencedor do Melhores Músicas Ruins de 2021), Guilherme & Benuto (de “Três Batidas”, primeiro colocado no Melhores Músicas Ruins de 2020), Marília Mendonça (de “Todo Mundo Vai Sofrer”, obra-prima reconhecida pelo Melhores Músicas Ruins de 2019), Thiago Brava (de “Dona Maria”, grande hit do Melhores Músicas Ruins de 2018), MC Livinho (de “Fazer Falta”, primeiríssimo colocado no Melhores Músicas Ruins de 2017), Anitta (de “Essa Mina É Louca”, faixa número um no Melhores Músicas Ruins de 2016) e Edson & Hudson (de “Meu Amor é Dez”, clássico da nossa cultura popular que foi enfim cultuado pelo Melhores Músicas Ruins de 2015).
Sejamos realistas: esses artistas só foram alçados ao mais elevado patamar do show business brasileiro depois que receberam a supracitada honraria. Se eu não estiver enganado (às vezes, acontece de eu me enganar um tantinho, tá?), vários desses músicos citaram em suas biografias que só atingiram efetivamente o auge profissional quando subiram ao palco para colocar as mãozinhas no cobiçado prêmio concedido anualmente pelo Bonas Histórias. Para aqueles que ainda não o faturaram, tal qual Messi antes da Copa do Mundo de 2022, a sensação é que falta alguma coisa importante na longa trajetória de êxito. É amigo, haja emoção!
Ciente da importância crescente do Melhores Músicas Ruins, procuramos torná-lo cada vez melhor e mais plural ao longo desses anos. O evento é organizado desde o início pelo Bonas Histórias e apresentado em uma festa de arromba (Roberto Carlos e Erasmo Carlos cantariam: “Hey, hey, que onda/Que festa de arromba”). Às vezes, os festejos são programados para dezembro, às vezes para janeiro. Tudo depende da vontade dos patrocinadores e, principalmente, do nível de esquecimento dos organizadores na hora de reservar as datas nos teatros. Como disse, estamos procurando tornar o Melhores Músicas Ruins melhor a cada edição – o que não quer dizer que conseguimos nem que tenhamos chegado a um nível de excelência minimamente aceitável.
A nova edição, especial de uma década, foi realizada na semana retrasada em Mi Buenos Aires Querido (pela primeira vez, a premiação ocorreu fora de São Paulo e do Brasil). Ela contou com a presença de ilustres personalidades do mundo artístico (beijo, Scarlett Johansson, China Soares, Lou de Laâge e Isis Valverde) e de patrocinadores gabaritados (abraço, diretorias da EV Publicações, Epifania Comunicação Integrada e Dança & Expressão). Dessa vez, a divulgação do Melhores Músicas Ruins aconteceu em conjunto com a Festa de Aniversário de 10 anos do Bonas Histórias. Daí a maior dimensão do evento.
Como reza a tradição, o júri avaliador do prêmio é constituído por integrantes do SOSAMOR (pronuncia-se SOS AMOOOOOOOOOOR), a Sociedade Orelhuda Secreta dos Adoradores das Músicas Orgulhosamente Ruins. Seus membros (estou falando das pessoas...) passam o ano inteiro selecionando as pérolas que entram à força por seus orifícios auriculares e, na proximidade do Ano-Novo Cristão, têm a paciência de Jó de se reunir para discuti-las e quantificá-las. Santo Deus! Se essa gente não for para o Céu (sem escala), ninguém mais vai.
Chega de lero-lero e diz-que-me-diz. Sem mais voltas, vamos diretamente para o que o povo gosta – os vencedores da mais recente edição. Em 2024, o Orelhão de Ouro (a estatueta do 1º lugar tem esse nome – a culpa não é minha!) foi para “Lua”, mistura de Sertanejo, Hip Hop e Eletrônico. A faixa campeã é interpretada por Ana Castela e Hungria. De maneira inédita no Melhores Músicas Ruins, tivemos uma bicampeã. A Boiadeira, essa menina encantadora e talentosíssima de apenas 21 aninhos, não apenas levou seu segundo troféu dourado para casa como o fez de maneira consecutiva. E como já havia acontecido no ano passado, Aninha não é cantora de apenas um hit. Novamente, ela emplacou mais de um sucesso em nossa premiação. A nona melhor canção deste ano é “RAM Tchum”, mix de Sertanejo e Funk. Lançada em parceria com Dennis e MC GW, essa faixa de Ana Castela esteve envolvida em graves acusações de plágio no primeiro semestre. Independentemente da originalidade e da verdadeira autoria, o SOSAMOR analisou essa composição estritamente por sua qualidade musical e a colocou no Top 10 da temporada.
“Lua” e “RAM Tchum” indicam algumas tendências entre as faixas que chegaram ao topo da Música Verdadeiramente Popular Brasileira (MVPB). Logo de cara, dá para dizer que várias canções premiadas mesclam gêneros musicais. É um tal de Sertanejo com Hip Hop, Hip Hop com Funk, Funk com Pagode, Pagode com Forró, Forró com Eletrônico, Eletrônico com não sei mais o quê e não sei mais o quê com alguma coisa que não sei o nome. Se ainda estivesse vivo (não está?!), certamente Raul Seixas acharia que os colegas contemporâneos estão imitando sua versatilidade musical. Como gosto dessas misturebas (sou do tipo que adora misturar requeijão com bolacha recheada de chocolate no lanche da tarde), confesso que fico feliz de ver a pluralidade das novas composições nacionais.
A segunda observação que podemos fazer é que o Sertanejo continua reinando absoluto do Oiapoque ao Chuí. Das 24 melhores composições de 2024, nada mais, nada menos do que 11 são desse gênero musical – aproximadamente 46% da lista vencedora, se eu ainda estiver usando corretamente a calculadora. Além de Ana Castela, Lauana Prado (“Depois” e “Haverá Sinais”), Simone Mendes (“Dois Tristes”), Paula Fernandes (“Amor Simprão”), Jorge & Mateus (“Haverá Sinais”), Traia Véia (“Wi-Fi”) seguem imbatíveis quando o quesito é chegar ao topo das paradas de sucesso do Sertanejo e conquistar novos Orelhões de Lata (estatuetas do 4º ao 24º lugar) da nossa premiação.
Até Bruna Viola (com “Amor Simprão”), quem diria, resolveu aparecer neste ano no Melhores Músicas Ruins. Afinal, quem nunca cometeu deslizes na carreira, não é mesmo? Outras surpresas positivas da nova safra sertaneja ficaram por conta da ascensão de Kaique & Felipe (de “Saveiro”), Felipe & Rodrigo (“Gosta de Rua”), Luiza Martins (“Carinho e Respeito”) e Luan Pereira (“Eu Sou Sentimento”, “Wi-Fi” e “Saveiro”), figuras até então desconhecidas do grande público. Por falar em Luan Pereira, ele foi o cantor com mais hits emplacados na premiação deste ano – três faixas. Curiosamente, em nenhuma dessas músicas ele foi o intérprete-protagonista. Pereira foi sempre o cantor convidado (atuou com coparticipação) dos hits premiados com o Orelhão de Lata. Nada como ter bons amigos nessa vida, hein?!
Contudo, a grande revelação de 2024, já que estamos falando do Sertanejo, foi “Só Fé”, música chiclete que transformou Grelo no cantor onipresente nos quatro cantos do Brasil. Se você passou ao menos 24 horas no Brasil no último ano, certamente escutou (e se lembra) desse hit. Executado ininterruptamente nas redes sociais por dias, semanas e meses, “Só Fé” conquistou o Orelhão de Bronze (terceiro lugar). Nada mal para quem não precisava de muito na vida para ser feliz, além do dinheiro para comprar o mé, o leitinho das crianças e o modes da muié. O resto é só fé, só fé, só fé.
Já que falamos do Orelhão de Bronze, tenho a obrigação de revelar o Orelhão de Prata (segundo colocado no Melhores Músicas Ruins) desta temporada, por mais que meu coraçãozinho bata mais forte só de pensar nessa música. A desejada estatueta prateada foi para a incrível (quase escrevi apaixonante) “Do Jeito que Você Mete”, Funk de MC Thaizinha com DJ L30. Essa obra-prima da música brasileira traz uma letra poética, sensível e bastante romântica – ideal para casais em início de relacionamento. O mais interessante é que ela vem com um batidão contagiante que explica o porquê Thaizinha voltou. Impossível não ficarmos encantados com essa criação artística (e com as suas ouvintes mais entusiasmadas). No caso, o “voltou” é porque MC Thaizinha foi finalista da premiação do ano retrasado com o inesquecível “Tuf Tuf Pof Pof”, cuja interpretação foi feita em parceria com MC Reino, MC Babu e MC PR. Contudo, a antiga canção não foi premiada nem mesmo com um Orelhão de Lata – uma polêmica que até hoje os integrantes do SOSAMOR não conseguiram explicar. Para mim, foi uma das maiores injustiças da história.
Para quem pensou que “Do Jeito que Você Mete” é o único funkão-raiz da nossa seleta lista, saiba que há também “Pocpoc”, de Pedro Sampaio (qualquer semelhança com “Tuf Tuf Pof Pof” não é mera coincidência), e “Let's Go 4”, de DJ GBR, IG, Ryan SP, PH, Davi, Luki, Don Juan, Kadu, GH do 7, GP e TrapLaudo (e a torcida do Flamengo e do Corinthians).
Para provar que o mundo musical brasileiro não gira apenas em torno das estrelas do Sertanejo e do Funk, informo que o Melhores Músicas Ruins de 2024 traz faixas de Axé (“Macetando”, de Ivete Sangalo e Ludmilla), Pop Romântico (“Eu Sou Sentimento”, de Luan Santana e Luan Pereira, “Eduardo e Mônica dos Dias Atuais”, de Gabi Fernandes, e “Clone”, Luan Santana), Pagode (“Coração Partido”, do Grupo Menos é Mais), Hip-Hop/Rap (“Carta Aberta”, de MC Cabelinho), POP (“Sagrado Profano”, de Luísa Sonza e KayBlack), Forró (“Página de Ex”, de Mari Fernandez) e Eletrônico (“Físico”, de Suel).
Provando que nossa premiação é cada vez mais versátil e, por que não, internacional, nesse ano ainda tivemos um exemplar do melhor do Reggaeton, a versão caribenha do Reggae (que é uma febre em quase toda a América Latina, menos no Brasil, país que acredita não ser latino-americano). A façanha de ter colocado o Reggaeton no Melhores Músicas Ruins foi de um dos meus cantores estrangeiros favoritos, Manu Chao. A faixa “São Paulo Motoboy” é cantada em português e é terrivelmente boa. Quem gosta de música ruim não pode perdê-la. Seja muito bem-vindo, Chao, à nossa prestigiosa premiação!
Depois de comentarmos rapidamente os perfis e as qualificações dos vencedores (seção do post também conhecida como “enrolação pura” ou “encheção de linguiça” para o conteúdo da página ficar maior), vamos agora à lista completa dos ganhadores do Prêmio Melhores Músicas Ruins de 2024:
24ª posição: “Saveiro” – Kaique & Felipe e Luan Pereira – Sertanejo
23ª posição: “Físico” – Suel – Pop e Eletrônico
22ª posição: “Página de Ex” – Mari Fernandez – Forró
21ª posição: “Let's Go 4” – DJ GBR, IG, Ryan SP, PH, Davi, Luki, Don Juan, Kadu, GH do 7, GP e TrapLaudo – Funk
20ª posição: “Gosta de Rua” – Felipe & Rodrigo – Sertanejo
19ª posição: “Carinho e Respeito” – Luiza Martins – Sertanejo
18ª posição: “Pocpoc” – Pedro Sampaio – Funk
17ª posição: “Sagrado Profano” – Luísa Sonza e KayBlack – Pop
16ª posição: “Amor Simprão” – Bruna Viola e Paula Fernandes – Sertanejo
15ª posição: “Clone” – Luan Santana – Pop Romântico
14ª posição: “São Paulo Motoboy” – Manu Chao – Reggae e Reggaeton
13ª posição: “Wi-Fi” – Traia Véia e Luan Pereira – Sertanejo
12ª posição: “Carta Aberta” – MC Cabelinho – Hip-Hop/Rap
11ª posição: “Haverá Sinais” – Jorge & Mateus e Lauana Prado – Sertanejo
10ª posição: “Eduardo e Mônica dos Dias Atuais” – Gabi Fernandes – POP Romântico
9ª posição: “RAM Tchum” – Ana Castela, Dennis e MC GW – Sertanejo e Funk
8ª posição: “Dois Tristes” – Simone Mendes – Sertanejo
7ª posição: “Coração Partido" – Grupo Menos é Mais – Pagode
6ª posição: “Eu Sou Sentimento” – Luan Santana e Luan Pereira – Pop Romântico
5ª posição: “Macetando” – Ivete Sangalo e Ludmilla – Axé e Funk
4ª posição: “Depois” – Lauana Prado – Sertanejo
3ª posição: “Só Fé” – Grelo – Sertanejo
2ª posição: “Do Jeito que Você Mete” – MC Thaizinha e DJ L30 – Funk
1ª posição: “Lua” – Ana Castela e Hungria – Sertanejo, Hip Hop e Eletrônico
No mês que vem, prometo regressar à coluna Melhores Músicas Ruins. Afinal, a partir desta temporada não ficaremos restritos às maravilhas da música brasileira. Nananinanão. Agora nossa premiação terá um braço internacional – surgiu (que rufam os tambores) o Melhores Músicas Ruins da América Latina. Uhu! É isso mesmo que você leu, querido(a) leitor(a) do Bonas Histórias. Se você já pensava em cometer suicídio ao ler (e ouvir) o conteúdo de um post por ano, agora teremos duas premiações anuais (versão Brasil e versão América Latina). Quem tiver estômago forte e espírito aventureiro, faço o convite para conferir as novidades musicais do próximo mês do blog. Já adianto que o Melhores Músicas Ruins da América Latina está pessimamente bom. Enquanto o apocalipse não chega, sugiro que todos aproveitem o Natal, independentemente do credo e do cruz-credo. Ótimas festas para vocês, amigos das boas e das más músicas.
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