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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

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Livros: Acinte 2020 - A coletânea de haicais de Paulo Sousa sobre o ano pandêmico

Publicada em maio de 2021, essa obra mistura poesia, jornalismo e relatos pessoais ao enfocar o emblemático ano de 2020.

Acinte 2020 é a coletânea de haicais de Paulo Sousa

Vamos ser sinceros: 2020 não foi fácil para ninguém. A pandemia do novo coronavírus chegou de supetão e colocou o mundo civilizado em quarentena. Como desgraça pouca é bobagem, o Brasil ainda se viu aterrorizado por ameaças golpistas, destruição das florestas, escândalos de corrupção, desmandos conservadores, disseminação de fake news e polarização ideológica. Diante do caos, das incertezas e das preocupações com a saúde pública, com a política, com a economia e com o meio-ambiente, indivíduos, famílias, empresas e nações tiveram suas rotinas viradas do avesso do dia para a noite. O que fazer diante da nova realidade, hein?! Cada um parece ter encontrado um jeito para encarar as agruras provocadas pelo avanço implacável da Covid-19 e das instabilidades político-econômico e social.


No caso de Paulo Sousa, escritor paulistano e colunista do Bonas Histórias, a ideia foi produzir, durante o confinamento obrigatório, um livro de poesia que retratasse justamente o clima e os acontecimentos da fatídica temporada pandêmica. A obra em questão é Acinte 2020 (Pomelo), coletânea de haicais que apresenta os principais episódios transcorridos no Brasil e no mundo em 2020. Misturando fatos jornalísticos, homenagens/citações culturais e relatos pessoais, Paulo Sousa tece em seus versos um caprichado panorama dos dias que abalaram o país e o planeta. Com um jeito ora dramático, ora divertido, o autor recria de maneira inteligente e sensível o ano que ficará marcado para sempre em nossas vidas.


Lançado em maio de 2021, “Acinte 2020” está disponível por enquanto apenas em e-book na Loja Kindle. A Editora Pomelo ainda não definiu a data da publicação da versão impressa desse título ou mesmo se irá levá-lo às gráficas. Pelo que entendi, há grandes chances de o livro não ganhar uma edição física. Como não quis esperar uma definição da empresa, acabei adquirindo o e-book de “Acinte 2020” no site da Amazon no comecinho do mês passado. O valor do novo título de Paulo Sousa era de R$ 19,90 (acho que não mudou de lá para cá). E no último final de semana, consegui lê-lo com a atenção merecida. Empolgado com o que encontrei em suas páginas, resolvei fazer esse post na coluna Livros – Crítica Literária. Afinal, a literatura não vive apenas da prosa ficcional, né? Doses de poesia são sempre bem-vindas tanto em nossas vidas quanto no Bonas Histórias.

Paulo Sousa, escritor, jornalista e empresário paulistano

Inegavelmente, “Acinte 2020” é uma das mais interessantes e criativas obras que abordam o tema da Covid-19 e o drama provocado pela pandemia e pela quarentena. Ao invés de ser uma coletânea de contos ou uma coleção de ensaios, como várias publicações desse tipo que inundaram as estantes das livrarias nos últimos meses, esse livro de Paulo retrata os perrengues que vivenciamos por meio de versos que emulam a estrutura e a dinâmica do haicai, tradicional gênero da poesia japonesa. Impossível não gostar de uma proposta sagaz como essa! Se o conteúdo de “Acinte 2020” não é tão original assim (quem aguenta ler sobre esse tema ainda hoje?!), a sua forma é o que traz beleza e encanto ao texto, tornando-o convidativo aos leitores.


“Acinte 2020” é a segunda publicação de Paulo Sousa, a primeira na categoria da poesia. Em 2019, o escritor nascido em 1986, em São Paulo, estreou na literatura comercial com o romance “A Peste das Batatas” (Pomelo), uma sátira político-social ambientada justamente em uma grave pandemia que assolou o Brasil. Sim, essa narrativa tem um quê de premonição. Antes disso, Paulo já tinha lançado digitalmente a novela “Histórias de Macambúzios”. Essa obra foi apresentada na coluna Contos & Crônicas aqui no blog, mas não chegou a ganhar as estantes das livrarias.


Aos 35 anos, Paulo Sousa é empresário do setor da comunicação (é proprietário da Epifania Comunicação Integrada, agência de Marketing B2B) e escreve mensalmente a coluna Miliádios Literários, uma das melhores seções do Bonas Histórias. Confesso que para mim foi uma surpresa danada saber que ele também atuava (e bem!) como poeta. Admito envergonhado que demoro para assimilar como alguém que navega com êxito na prosa também consegue surfar de maneira satisfatória na poesia e vice-versa. Para um escritor como eu que não consegue produzir boas linhas em nenhum gênero, assistir aos artistas versáteis é sempre impactante.

Livro Acinte 2020 de Paulo Sousa

Portanto, essa minha surpresa não é restrita ao trabalho do Paulo Sousa, tá? Só no ano passado, por exemplo, fiquei encantado com a versatilidade de figuras como Carolina Zuppo Abed, escritora paulistana responsável pela coletânea de contos “Tecle 2 Para Esquecer” (Patuá) e pela coletânea poética “Passatempoemas – Desafios Verbo-lógico-matemáticos” (Quelônio); José Eduardo Agualusa, autor angolano de romances como “O Vendedor de Passados” (Tusquets) e “A Sociedade dos Sonhadores Involuntários” (Tusquets) e de obras poéticas como “O Coração dos Bosques” (União dos Escritores Angolanos); da portuguesa Teresa Vieira Lobo, cujo pseudônimo é José Vieira, autora de romances e novelas como “A Dor do Esquecimento” (Chiado Books) e “Dedicação, Palavra e Honra” (ebook independente) e da coletânea de poesias “(In)Constante” (ebook independente); e da curitibana Jéssica Iancoski, que vai tranquilamente da prosa, “Por Onde Vai a Ilha” (EU-i) e “Histórias Para Dormir” (EU-i), à poesia, “Poilhias” (EU-i).


Feita essa rápida divagação (ou seria um desabafo?!), voltemos ao “Acinte 2020”. Esse livro possui 184 páginas e está dividido em dez partes: “Citação”, “Prefácio”, “Epígrafe”, “Verão”, “Outono”, “Inverno”, “Primavera”, “Verão de Novo”, “Notícias e Estultícias” e “Agradecimentos”. Apesar do elevado número de páginas para uma coleção poética, “Acinte 2020” tem uma leitura extremamente rápida. Devo ter levado pouco mais de uma hora para concluir esse livro no último sábado. Como minha leitura foi pelo Kindle, acabei não tendo a experiência de acompanhar cada haicai ou cada conjunto de haicais em uma página específica (algo que seria obtido na versão impressa). Na versão digital, os tercetos vêm em sequência.


As duas primeiras seções de “Acinte 2020”, “Citação” e “Prefácio”, integram o que chamo de introdução. Como uma boa coletânea de haicais, temos na abertura a “Citação”. Paulo Sousa traz as palavras do poeta japonês Matsuo Bashô. Em seguida, surge o “Prefácio”. Aqui, o escritor paulistano explica a proposta de sua obra (usar os haicais para a exposição dos principais fatos jornalísticos ocorridos em 2020), apresenta os conceitos dos haicais (poemas estruturados em tercetos e com redondilhas menores nas pontas e maior no meio – trinca de versos com 5, 7 e 5 sílabas poéticas, respectivamente) e detalha as liberdades poéticas que assumiu (por exemplo, acrescentar rimas).

Livro Acinte 2020 de Paulo Sousa

Esses textos introdutórios ainda estão em prosa (calma, a poesia já vai começar!). Nesse momento, Paulo usa e abusa do bom humor e das sacadas inteligentes para convidar o(a) leitor(a) a mergulhar em seu livro. A relação do haicai com o sushi é ao mesmo tempo hilária e precisa. Impossível ler o Prefácio e não avançar para as páginas seguintes da publicação. Se houvesse um prêmio literário direcionado às diferentes partes dos títulos ficcionais e poéticos, diria que o “Prefácio” de “Acinte 2020” merecia a medalha de ouro – sem dúvida nenhuma, esse é o melhor início de obra que li nos últimos anos.


As seis partes seguintes de “Acinte 2020” (“Epígrafe”, “Verão”, “Outono”, “Inverno”, “Primavera” e “Verão de Novo”) correspondem à essência dessa publicação. A partir de agora surgem os haicais de Paulo Sousa, devidamente ordenados por ordem cronológica e relacionados às estações do ano. Pronto, a poesia começou (não falei que ela não demoraria para dar as caras?!). Usando exclusivamente tercetos, ora individuais, ora integrados dependendo da temática explorada, e com as tradicionais métricas 5-7-5, o poeta versa sobre os principais acontecimentos jornalísticos que chamaram sua atenção no Brasil e no mundo.


Temos em “Acinte 2020”, portanto, desde as patacoadas do presidente brasileiro e sua turminha barra-pesada (família miliciana, assessores suspeitos e ministros transloucados), tragédias climáticas, eventos geopolíticos, incidentes internacionais, cenas do cotidiano, informações econômicas, falecimentos de figuras importantes, datas comemorativas, feitos esportivos e referências artísticas. E, como não poderia faltar em se tratando de 2020, acompanhamos as evoluções das notícias sobre a pandemia. É muito interessante olharmos, com o devido distanciamento temporal, as repercussões das notícias daquela época.

Livro Acinte 2020 de Paulo Sousa

Juntamente com o noticiário jornalístico, e seguindo as tradições dos haicais, Paulo Sousa ainda acrescenta relatos pessoais e, principalmente, referências à paisagem, ao clima e à flora em seus versos. O resultado é uma coletânea poética que mescla o geral e o particular, o importante e o banal, o jornalismo e a vida real, o sofisticado e o popular e a razão e a emoção. Grande parte da graça do livro está nessas constantes dualidades.


As duas partes finais de “Acinte 2020” são “Notícias e Estultícias” e “Agradecimentos”. Em “Notícias e Estultícias”, temos acesso às datas e às manchetes jornalísticas usadas pelo poeta para a construção dos haicais. Essa seção é primordial para a compreensão dos versos. Afinal, há muitas passagens que só fazem sentido para o(a) leitor(a) uma vez que ele(a) entenda o contexto pela qual a poesia foi desenvolvida (ou seja, saiba qual é a notícia usada como referência). E os “Agradecimentos” é a parte, obviamente, em que o poeta corteja quem foi importante para a concretização dessa obra.


A primeira coisa que chama nossa atenção em “Acinte 2020” é que esse é um livro redondinho, redondinho. Não apenas a ideia da obra é excelente (quem aí pensou em fazer uma retrospectiva de 2020 em haicais, hein?!) como sua produção foi muito bem executada. Esse primor é perceptível nos mínimos detalhes. Por exemplo, o título da obra é quase um haicai (Acinte/Dois mil/e vinte) e há rima logo de cara (acinte/vinte). Mesmo se você ler o nome do livro de outra maneira (no caso, acinte/vinte/vinte) os elementos estruturais do terceto e da rima interna se mantêm intactos (ou são até mesmo potencializados). Incrível!

Paulo Sousa, escritor, jornalista e empresário paulistano

E o que dizer da capa de “Acinte 2020”, hein? Acredito que não haja imagem mais precisa para definir o ano passado do que uma grande escuridão com uma luz no fim do túnel. Se você reparar bem, é mais ou menos isso o que o projeto gráfico da publicação e o design da capa fazem referências.


Algo que é inerente à literatura de Paulo Sousa e que caiu muito bem nesse livro é o bom humor. De um jeito leve, divertido e astuto, o poeta recapitula os acontecimentos de 2020 deixando-os bonitos no texto. Até mesmo os fatos mais trágicos ganham contornos nobres nas páginas de “Acinte 2020”. Temos aqui quase que uma epopeia moderna com uma pegada de literatura japonesa. Em certo sentido, o novo livro de Paulo é uma versão brasileira, contemporânea, dramática (ou seria tragicômica?!) e em haicais de “O Canto Geral” (Bertrand Brasil), a coleção poética de Pablo Neruda que reconstruiu a história da América Latina.


É uma pena que Paulo Sousa não tenha o interesse de fazer anualmente um livro como esse. Já pensou termos sempre uma retrospectiva anual dos principais acontecimentos do país e do mundo em formato poético, hein? Admito que eu compraria todas as edições dessa obra – sou louco por retrospectivas. Porém, infelizmente, parece que “Acinte 2020” ficará restrito ao ano pandêmico. O que precisamos torcer é para que esse período conturbado e atípico fique mesmo limitado aos doze meses de 2020 (e a um pedacinho de 2021).


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