Com quase dois séculos de existência, esta obra é praticamente um manual contemporâneo da produção textual.
Na semana passada, li um livro que há muito tempo jazia desprezado na estante de minha biblioteca. Sabe aquele título que você tem uma curiosidade enorme para conhecer, mas sempre pensa: depois eu leio. E esse depois nunca chega... Foi mais ou menos o que aconteceu comigo em relação a “A Arte de Escrever” (L&PM Pocket), a coleção de ensaios de Arthur Schopenhauer sobre o fazer literário. Admito que já tinha lido algumas partes dessa publicação nas oficinas literárias e nos cursos de escrita criativa que realizei nos últimos cinco anos. Entretanto, faltava-me disposição (ou seria coragem?!) para pegar o dito cujo pela capa e lhe dar um trato da primeira à última página.
Estaria eu começando este post da coluna Livros – Crítica Literária de forma melodramática? Talvez. O problema é que me considero um estudioso inveterado do processo artístico de produção textual. O histórico do Bonas Histórias atesta essa minha predileção. Pelo blog já passaram avaliações de “Sobre a Escrita” (Suma das Letras), de Stephen King, “Como Melhorar Um Texto Literário” (Gutenberg), de Lola Sabarich e Felipe Dintel, “A Arte do Romance” (Companhia das Letras), de Milan Kundera, “A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram Num Bar” (Tinta da China), de Ricardo Araújo Pereira, “Como Se Encontrar na Escrita” (Biblioteca Azul), de Ana Holanda, “A Oficina do Escritor Sobre Ler, Escrever e Publicar” (Ateliê Editorial), de Nelson de Oliveira, “Manual do Futuro Redator” (Novatec), de Sérgio Calderaro, “O Rio do Meio” (Mandarim), de Lya Luft, entre outros. Agora deu para entender a minha agonia pelo adiamento perene desta obra de Schopenhauer, hein?
O principal mérito de “A Arte de Escrever” é que ele serviu de base para todos os livros posteriores que abordaram as peculiaridades da produção literária. Ou seja, estamos falando aqui de um título clássico de seu gênero e leitura obrigatória para quem trabalha ou deseja trabalhar com literatura. Obviamente, Arthur Schopenhauer, em pleno século XIX, não foi o primeiro pensador a debater as questões do fazer literário. Lembremos que esse tema já era amplamente discutido na Grécia Antiga e na Roma Antiga. O conteúdo de “Poética” (Edipro) e “Retórica” (Edipro), de Aristóteles, e de “Arte Poética” (Autêntica), de Horácio, corroboram com essa minha afirmação. Na Antiguidade, os aspectos formais da produção textual já eram estudados em profundidade.
Contudo, Schopenhauer pode ser visto como um dos pioneiros a trazer esse velho debate para a Modernidade ocidental. Com seu jeitão impositivo, que não fugia das polêmicas, e um texto sincero, sujeito obviamente a críticas, o filósofo alemão construiu as bases contemporâneas pelas quais a arte literária está ancorada até hoje. Suas dicas, seus ensinamentos e suas opiniões são, atualmente, propagadas direta ou indiretamente pelos escritores, editores, críticos literários e estudiosos da Teoria Literária.
Sabendo disso, não faltavam motivos para eu correr para a estante e ler “A Arte de Escrever”. Porém, confesso um pouco envergonhado que tinha também certo preconceito em relação a este título. Sempre que o pegava e olhava a sua capa, eu pensava: “O que um livro do século XIX pode trazer de novidade no campo da literatura, hein?! Talvez seja mais interessante conhecer o que os novos estudiosos desse tema estão dizendo”. Por isso, fui postergando, postergando, postergando a leitura de Arthur Schopenhauer.
Até que, no começo deste mês, Débora Pesso, minha amiga de longa data e artista versátil (escritora, atriz, dançarina, coreógrafa, redatora, tradutora, diretora e crítica teatral e mais um monte de coisa que nunca consigo lembrar), avisou-me toda empolgada que tinha lido “A Arte de Escrever” e que (pasmem!) havia gostado. Pronto! Era o pontapé que precisava para sair da letargia. Valeu, Debinha! Agora posso dizer em alto e bom som: também li esta obra. Minha leitura aconteceu na quinta-feira passada e (voila!) fiquei encantado com seu conteúdo. Este livro é muito melhor do que imaginava.
“A Arte de Escrever” reúne oito ensaios de Schopenhauer sobre o fazer literário. Antes de serem conectados em uma publicação, esses textos foram lançados de maneira independente. Alguns são datados das primeiras décadas do século XIX. Portanto, há partes deste título com quase 200 anos! A reunião deles em uma obra só é decorrência da temática em comum. O resultado dessa integração potencializou realmente o conteúdo. O leitor é agraciado com uma visão completa e crítica de Arthur Schopenhauer sobre vários aspectos da produção textual: o papel do livro no desenvolvimento do conhecimento dos leitores; a importância da fluência de mais de um idioma; os erros e os acertos dos autores; as dicas práticas do bom estilo literário; o processo de consolidação dos cânones; o papel da crítica literária; e os elementos que fazem um escritor e um livro serem considerados geniais.
Curiosamente, Schopenhauer nunca escreveu um livro chamado “A Arte de Escrever”. Ele até pode ter desenvolvido vários tratados sobre os mais diferentes assuntos – “A Arte de Se Fazer Respeitar” (Sextante), “A Arte de Insultar” (Martins Fontes), “A Arte de Ter Razão” (Vozes de Bolso), “A Arte de Ser Feliz” (Martins Fontes) e “A Arte de Lidar com as Mulheres” (Martins Fontes) –, mas nunca fez algo especificamente sobre a produção literária. Os ensaios contidos em “A Arte de Escrever” foram extraídos essencialmente de outro livro, “Parerga e Paralipomena” (Editora Zouk). Essa obra foi publicada em 1851 e compilou boa parte do trabalho do alemão. Foi exatamente “Parerga e Paralipomena” que rendeu fama e prestígio a Arthur Schopenhauer, que até então era um grande desconhecido para seus compatriotas e conterrâneos. O reconhecimento de suas crenças e pensamentos veio tarde, quando o filósofo tinha mais de 60 anos.
Juntamente com os vários tratados filosóficos que discorriam sobre inúmeros temas, “Parerga e Paralipomena” trazia textos que abordavam diretamente o fazer literário. Aí um editor contemporâneo teve a ideia genial de lançar um livro apenas com esses trechos mais voltados para a arte da escrita. O resultado dessa combinação é simplesmente espetacular. Nascia, assim, “A Arte de Escrever”. Vale a pena esclarecer que há uma versão menor desta obra que ganhou, no Brasil, o título de “Sobre o Ofício do Escritor” (Martins Fontes). Essa edição é mais enxuta e traz apenas três ensaios de Schopenhauer sobre o fazer literário (contra os oito de “A Arte de Escrever”).
Nascido em Danzig (hoje cidade polonesa, mas na segunda metade do século XVIII era um povoado prussiano) em 1788 e falecido em Frankfurt (onde morou por quase três décadas) em 1860, Schopenhauer foi um dos principais filósofos do século XIX. Adepto do Pessimismo, introdutor do Budismo na metafísica alemã e seguidor incondicional das teorias kantianas, Arthur Schopenhauer influenciou figuras do porte de Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche e Henri Bergson. Além de “Parerga e Paralipomena”, sua obra mais famosa é “O Mundo Como Vontade e Representação” (Contraponto). Lançado em 1819, esse clássico da filosofia ocidental apresenta o mundo como um mero produto das vontades cegas e malignas do universo metafísico. Agora entendeu a pegada pessimista deste alemão?
“A Arte de Escrever” é um livro enxuto. A edição que tenho em mãos possui apenas 172 páginas. Seus oito capítulos são: (1) “Sobre o Aprendizado do Homem”; (2) “Do Estudo do Latim”; (3) “Dos Autores”; (4) “Do Estilo”; (5) “Pensando por Si Mesmo”; (6) “Sobre a Crítica”; (7) “Sobre a Fama”; e (8) “Sobre o Gênio”. Levei cerca de cinco horas para percorrer seu conteúdo. Inicie a leitura na quinta-feira depois do almoço e no começo daquela noite já tinha concluído a obra.
No primeiro capítulo, “Sobre o Aprendizado do Homem”, Schopenhauer apresenta os caminhos, as possibilidades e os erros mais comuns no processo de desenvolvimento intelectual. Ele mostra, por exemplo, a tendência de mercantilização da educação, explora as diferenças conceituais de obtenção da informação e de conquista da sabedoria e debate se o conhecimento ainda está prioritariamente nas mãos da academia e das instituições formais de ensino. Além disso, discute-se nessas páginas o perigo da proliferação de conteúdos falsos e vazios por amadores, a importância das bibliotecas (e dos livros) como fonte principal de conhecimento, as rupturas estéticas, ideológicas e conceituais provocadas sempre que há mudanças geracionais e o perigo da especialização (ela vai contra o aumento potencial do conhecimento; nesse sentido, a generalização é mais vantajosa).
Em “Do Estudo do Latim”, o filósofo alemão discorre sobre a importância do idioma de Horácio como língua integradora entre os diferentes povos. Além disso, o latim é uma ponte entre passado, presente e, quem sabe, futuro. Assim, o desuso desse idioma representou uma fragmentação da comunicação e, principalmente, de acesso ao conhecimento clássico (de gregos e romanos da Antiguidade). Para completar, o aprendizado e a fluência de vários idiomas trazem habilidades linguísticas que afetam a capacidade cognitiva das pessoas.
“Dos Autores” é a terceira seção de “A Arte de Escrever”. Aqui, entramos efetivamente nas questões mais concretas do fazer literário. Primeiramente, Arthur Schopenhauer faz uma distinção entre o que é uma boa literatura e o que é uma má literatura. Na sequência, apresenta uma série de dicas práticas do que os autores devem se atentar na hora de produzir uma obra de qualidade. Assim, ele fala dos diferentes tipos de escritores (os movidos pela paixão/vontade de transmitir um conhecimento salutar e os movidos pelo interesse particular/vontade de ganhar dinheiro), da relação entre a escrita e a formulação do processo de produção textual (autores que pensam enquanto escrevem e autores que pensam antes de escrever), da importância do estudo do processo literário, da intrínseca união de conteúdo e forma e das características elementares dos livros (eles devem ser autoexplicativos, não precisando exigir quaisquer explicações posteriores dos seus autores).
No quarto capítulo, “Do Estilo”, a coisa começa a pegar fogo. Nessa parte, recebemos um pequeno manual da boa escrita. Schopenhauer lista os oito aspectos que um bom livro obrigatoriamente possui: (1) tem algo útil para dizer; (2) tem um texto claro; (3) não é excessivamente informal; (4) evita exageros (predominância dos substantivos aos adjetivos); (5) é objetivo (menos é mais); (6) esforço do autor para se atingir a precisão das palavras; (7) exposição de uma ideia de cada vez; (8) seu título tem uma única palavra (OK, essa é difícil de engolir!); uso de metáforas e símiles como estratégias de comparação; (10) planejamento da escrita antes de começá-la. Em contraponto, são apresentadas também as cinco características do escritor limitado/medíocre: (1) imita o estilo dos outros; (2) abusa das frases longas; (3) usa um linguajar rebuscado (como estratégia para ocultar a fraqueza de seu conteúdo); (4) escreve desnecessariamente muitas páginas (como se isso fosse compensar o leitor pela falta de profundidade dos conceitos abordados); e (5) simplesmente não tem o que dizer de novo (o equívoco principal dos escritores limitados/medíocres).
Em “Pensando por Si Mesmo”, assistimos a um dos mais famosos e importantes ensaios de Arthur Schopenhauer. Nesse texto, ele fala da importância da reflexão e da organização do pensamento como forma de desenvolvimento intelectual. O homem realmente inteligente é aquele que possui a capacidade de pensar por si mesmo (e não aquele que extrai as opiniões de terceiros dos textos lidos). Portanto, mais importante do que ler livros (conhecer as ideias alheias) é pensar sobre o que leu (processar as informações recebidas). As conclusões obtidas por si mesmo são mais intensas, duradouras e poderosas do que aquelas recebidas pelos outros. Pensar pela própria cabeça é muito mais coerente, apesar de não ser fácil. A leitura, vale a pena dizer, é apenas o primeiro passo para a reflexão ativa. As fontes do pensamento são a soma de leitura e de conhecimento concreto do mundo físico (uma parte não vive sem a outra).
Ainda neste capítulo, Schopenhauer avança em mais conceitos da produção textual. Para ele, uma mente capaz tem o que expressar e sabe como fazê-la. Nem todo pensamento importante deve ser colocado no papel. Afinal, ele pode ser relevante para seu autor, mas não para o restante da humanidade. Assim, há dois tipos de escritores: o que escrevem pensamentos para os outros; e o que escrevem pensamentos para si. Para finalizar essa parte, temos a explicação sobre as engrenagens clássicas do drama, os dois tipos de histórias (resumidamente: a história real e a estória ficcional), uma forte crítica ao jornalismo (que levaria os radicais de direita e de esquerda ao delírio!), as características dos cânones literários e as maneiras distintas de se ler um texto.
“Sobre a Crítica”, o sexto e antepenúltimo capítulo desta coleção ensaística, é voltado exclusivamente para a análise da crítica literária. Esse texto expõe as distorções, as imprecisões, as falhas e as más intenções dos críticos na hora de julgar as obras de arte. Segundo Arthur Schopenhauer, toda obra, por mais brilhante que seja, tem lá seus defeitos (todos somos imperfeitos!). A dificuldade do crítico literário está em distinguir os textos ótimos dos regulares. E não é só ele que tem essa dificuldade. De maneira geral, o público médio não consegue reconhecer os gênios e as obras-primas. Por isso, pouquíssimos artistas fenomenais e suas grandes produções artísticas são valorizados em seu tempo. O reconhecimento demora porque precisa se solidificar. E essa solidificação passa essencialmente pela validação das autoridades (são elas que definem o que é genial e não os críticos nem o público em geral) e pelas gerações posteriores (mais capazes de distinguir o que é superior do que é simplesmente comum).
Ainda nessa seara, é interessante notar a grande quantidade de julgamentos negativos que Schopenhauer faz do trabalho dos críticos. Para o filósofo alemão, a crítica literária apresenta falhas tanto de ordem técnica (não consegue ver o que é ótimo em meio à banalidade) quanto de natureza ética (é corrupta, injusta e pouco rigorosa) e ideológica (valorização dos autores do presente em detrimento aos do passado). Por isso mesmo, é fundamental a autoria do crítico literário nos veículos de imprensa (o anonimato pode potencializar injustiças e leviandades).
“Sobre a Fama” é a sétima seção de “A Arte de Escrever”. Aqui temos uma explicação detalhada sobre o processo de conquista do sucesso – sucesso, obviamente, do ponto de vista do universo artístico-literário. De acordo com Arthur Schopenhauer, os escritores podem ser divididos em três grupos: os meteóricos (fama rápida e efêmera), os planetas (sucesso mais longo, mas sem luz própria) e os estrelas (reconhecimento perene e feito com base na luz própria). O filósofo alemão também trata dos efeitos deletérios da inveja e da má crítica sobre o trabalho genial. Não por acaso, uma obra de grande dimensão artístico-intelectual acaba demorando tanto tempo para ser valorizada (às vezes, precisa esperar mais de uma geração para alcançar o posto merecido). A partir desse ponto de vista, o tempo é o melhor remédio contra a inveja, a maldade e a incompetência dos contemporâneos do artista genial. De certa forma, esse processo mais demorado é positivo porque uma vez consolidado o cânone, dificilmente ele perde seu valor depois.
Por fim, temos “Sobre o Gênio”. Nessa parte final do livro assistimos à descrição das características do artista genial. Suas preocupações e comportamentos diferenciam do homem normal. Basicamente, o gênio: (1) aparece raramente; (2) pode demorar para ser reconhecido; (3) ilumina algo que até então era obscuro para a humanidade; (4) não se preocupa com as opiniões e as impressões que os outros têm de si; (5) sua mente tem luz própria; (6) trabalha para a posteridade (e não para o presente); (7) muitas vezes são indivíduos insociáveis, repelentes e arrogantes; (8) o trabalho intelectual é mais importante do que as questões práticas e rotineiras; (9) não está imune a falhas (ele é genial, mas não é perfeito!); (10) e não trabalha pensando em dinheiro, fama e/ou reconhecimento.
“A Arte de Escrever” é um livro rico, interessante e extremamente atual. É difícil até de acreditar que seu conteúdo tenha por volta de dois séculos. Mesmo sendo uma obra tão antiga, ela dialoga com questões contemporâneas e aborda assuntos ainda hoje relevantes. Um leitor mais atento e que não se interesse tanto pelo processo de escrita criativa poderá ainda relacionar os conceitos trazidos pelo filósofo alemão do século XIX a temas do momento.
Acredite se quiser, mas Schopenhauer aborda assuntos com a cara do século XXI: o perigo da proliferação de informações falsas por amadores e por pessoas mal intencionadas (olha os vídeos e as correntes do WhatsApp aí gente!); a overdose de informações em oposição ao emburrecimento da população média (é só entrar nas redes sociais para conferir os comentários dos usuários mais reacionários); o aumento exponencial de produções literárias (o que chamo de Efeito Kindle), mas de péssima qualidade em sua maioria; a mercantilização da educação e do conhecimento; o questionamento se a maior parte do conhecimento atual ainda está nas mãos da academia e das instituições formais de ensino...
Achou que a lista terminou? Ela não acabou, não! Os temas contemporâneos prosseguem: a necessidade de idiomas verdadeiramente universais; os erros mais comuns dos livros (por incrível que pareça, eles continuam os mesmos de duzentos anos atrás); a importância de se refletir as informações recebidas (com risco de se propagar mentiras e de viver em um mundo da lua); a supervalorização de autores e de obras medíocres (em oposição à subvalorização de escritores e trabalhos geniais); o comportamento meio amalucado de artistas geniais; e as falhas da crítica literária (muitas delas propositais).
Se por um lado ficamos embasbacados com a contemporaneidade de “A Arte de Escrever”, por outro lado notamos um certo déjà vu. Sabe quando um autor fala/escreve um monte de coisa e temos a impressão de que já ouvimos/lemos antes aquilo em algum lugar? Foi mais ou menos essa minha sensação durante a leitura deste livro. Aí preciso apontar um detalhe que o leitor atual pode se esquecer. Se vários conceitos abordados por Arthur Schopenhauer são propagados em excesso até hoje, trata-se de mais um mérito do trabalho analítico deste filósofo e não um defeito de sua obra. Se estão reproduzindo constantemente os argumentos de Schopenhauer em pleno século XXI, é porque eles têm qualidade e perenidade.
De maneira geral, Arthur Schopenhauer acerta muito mais do que erra em suas posições. Há alguns comentários que nos deixam em dúvida (será mesmo?). Outros demoram para cair a ficha (o que ele quis dizer exatamente com isso?). O que pode causar alguma estranheza são os exemplos utilizados pelo escritor (obviamente, são muito antigos e estão desvinculados da realidade do leitor contemporâneo) e as generalizações (normalmente toda generalização é burra). Além disso, o autor peca pela visão excessivamente romântica da arte textual e da produção artística e por alguns preconceitos de ordem linguística. Mesmo assim, o placar é favorável para o alemão (tipo 7 a 1).
“A Arte de Escrever” é uma obra mais adequada para ensaístas, filósofos, cronistas e autores não ficcionais. Afinal, seus capítulos abordam muito mais a questão conceitual do texto em detrimento à parte estética. Mesmo assim, acredito que romancistas, contistas, novelistas e poetas conseguem extrair dicas valiosas para melhorar sua produção textual.
Arthur Schopenhauer acerta quando valoriza o passado e os cânones literários, quando propõe um consumo mais ativo por parte dos leitores, quando questiona o processo de obtenção de conhecimento e, principalmente, quando faz uma análise profunda e rigorosa do desenvolvimento literário. Apesar dos vários aspectos positivos, seu maior mérito está em fazer tudo isso utilizando-se das dicas e das sugestões contidas em seu próprio livro. Repare, por exemplo, que o escritor alemão usa nessas páginas todos os elementos citados em seu manual da boa escrita (conteúdo do capítulo 4). Ou seja, “A Arte da Escrita” é, por si só, uma exemplificação perfeita do material proposto aos leitores. Nesse caso específico, fiquei encantado com algumas comparações feitas (lembremos que uma das dicas de Schopenhauer é a utilização de metáforas e símiles). Elas são simplesmente fantásticas (dignas de um autor que domina completamente a arte da produção textual).
Por tudo isso, eu só tenho mais uma coisa para dizer: se você tem esse livro em casa e está de nhenhenhém para lê-lo, não perca mais tempo. Conhecer as ideias de Arthur Schopenhauer contidas em “A Arte de Escrever” é como entrar em contato com as questões clássicas da produção textual. Não me surpreenderia se esse texto se mantiver atual e válido pelos próximos dois séculos.
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