Em cartaz nos cinemas, a produção roteirizada por Rose Gilroy e estrelada por Scarlett Johansson e Channing Tatum tem como mote uma antiga teoria da conspiração que garante que os norte-americanos encenaram a chegada à Lua em julho de 1969.
Fazia alguns meses que eu não alimentava a coluna Cinema. O último filme que analisei no Bonas Histórias foi “Pobres Criaturas” (Poor Things: 2023), no longínquo, quente e caótico fevereiro. Bons tempos aqueles! Isso não quer dizer que não esteja frequentando semanalmente as salas de exibição ou que não haja excelentes opções em cartaz. Recentemente, quase comentei “Dias Perfeitos” (Perfect Days: 2023), “Rivais” (Challengers: 2024) e “Divertida Mente 2” (Inside Out 2: 2024). Gostei tanto dos longas-metragens de Wim Wenders, Luca Guadagnino e Kelsey Mann, cineastas que seguem com trabalhos geniais, que cheguei, acredite se quiser, a fazer suas análises. Porém, não as publiquei aqui. Coisa de um blog de literatura, arte e entretenimento com cada vez mais conteúdo multicultural.
Parodiando Fabi Santina, como a vida não é uma linha reta, acabei quebrando o jejum de posts cinematográficos com o mais improvável dos filmes. Fui na sexta-feira ao Multiplex Belgrano de maneira despretensiosa. A ideia era conferir algo leve e divertido, sem qualquer compromisso profissional. Por isso, escolhi “Como Vender a Lua” (Fly Me to The Moon: 2024), a nova comédia romântica de Greg Berlanti protagonizada por Scarlett Johansson e Channing Tatum. Juro que só queria, além de dar umas boas risadas e me proteger da friaca, matar as saudades da minha loira favorita de Hollywood – olha o complemento da frase antes de atirar pedras, por favor! Não via Johansson nas telonas desde Asteroid City (2023), o excelente drama histórico de Wes Anderson. Contudo, o roteiro de “Como Vender a Lua” é tão diferente, surpreendente e engraçado que não resisti. E cá estou comentando na coluna Cinema uma comédia romântica depois de muito, muito tempo.
Quem me conhece sabe o quão crítico sou deste gênero cinematográfico. Preciso dizer que não há nada de errado com esse tipo de filme (nem com seu público). É apenas gosto pessoal, nada mais, nada menos. Quando vejo um terror ou um thriller, por exemplo, aceito com mais facilidade os títulos medianos. Por quê? Porque aprecio naturalmente esses estilos. Assim, consigo fazer análises de obras como “O Exorcista do Papa” (The Pope's Exorcist: 2023), “M3gan” (2022) e “Sorria” (Smile: 2022), para ficarmos nos longas mais recentes. Faço isso sem qualquer constrangimento ou dificuldade, mesmo sabendo que estão longe (muuuuuuuito longe) de proporcionar experiências marcantes para os cinéfilos.
Tal princípio não vale para as comédias românticas. Como não acho normalmente graça nelas, não engulo qualquer produção e travo na hora de elogiá-las. Essa é a explicação para não ter comentado, por exemplo, “Todos Menos Você” (Anyone But You: 2024) e “Pedido Irlandês” (Irish Wish: 2024) no Bonas Histórias. Por mais que o pessoal tenha adorado e se divertido na sessão em que estive, admito envergonhado que não achei muita graça nem fui impactado por suas tramas. Culpa de um coração peludo, gélido e amargurado? Pode ser.
O fato é que para me agradar, a comédia romântica tem que ser muito, muito, muito boa. Daí a justificativa para, de tempos em tempos, debater títulos como “El Duelo” (2023), “Belle Époque” (La Belle Époque: 2019), “De Quem é o Sutiã?” (The Bra: 2018), “Yesterday” (2019), "A Love You" (2015) e o hors-concours "Encontro Marcado" (5 to 7: 2014). Cada um deles traz algum elemento inovador ao gênero. Acho que “Como Vender a Lua” entrou nessa seleta lista de longas-metragens surpreendentes.
O que faz o novo filme de Greg Berlanti, diretor do intrigante “Com Amor, Simon” (Love, Simon: 2018) e do tolinho “Juntos pelo Acaso” (Life As We Know It: 2010), tão especial é a mistura bombástica de fake news/teoria da conspiração, narrativa histórica, momentos hilários e, claro, Scarlett Johansson. Pegue uma panela e coloque “Teoria da Conspiração” (Conspiracy Theory: 1997), “Rebobine, Por Favor” (Be Kind Rewind: 2008), “Oppenheimer” (2023), "Ponto Final - Match Point" (Match Point: 2005) e “Querido John” (Dear John: 2010). Misture bem os ingredientes e ponha no set de filmagem a temperatura da Guerra Fria. O resultado é, voilà, “Como Vender a Lua”!
A trama desta comédia romântica se baseia na maior teoria da conspiração do século XX: a ideia de que os Estados Unidos não pousaram na Lua em julho de 1969 e sim armaram um espetáculo audiovisual para ludibriar a população mundial. É uma espécie de avó das fake news atuais. Se hoje há quem acredite que as vacinas são prejudiciais à saúde, que a Terra é plana, que não há crise climática e que a pandemia foi armação da mídia e dos governos, há cinquenta anos a crença era de que a Apollo 11 jamais havia chegado ao seu destino.
Para os novinhos que possam achar inacreditável essa linha de pensamento, relato que quando era criança (lá em Barbacena), tinha um tio que adorava falar que duvidava que os norte-americanos pousaram na lua. Certamente você conhece o tipo do ignorantão metido a sabichão. Um dos meus primos, nessa linha, garantia que tinha visto reportagens e documentos secretos (!?) que atestavam a armação das fotos e dos vídeos da missão da NASA. Ou seja, os encontros familiares há tempos eram recheados de barbaridade. Estou falando do início dos anos 1990... Não preciso dizer em qual candidato essa parte da família votou nas duas últimas eleições presidenciais no Brasil e os absurdos que seguem falando nas reuniões com os parentes, né?
Orçado em US$ 100 milhões, “Como Vender a Lua” é a primeira parceria da Apple com a Sony Pictures depois de “Napoleão” (Napoleon: 2023). O filme de Greg Berlanti estreou nos cinemas brasileiros e internacionais na semana passada (mais precisamente em 11 de julho de 2024) e deverá entrar na programação da Apple TV tão logo deixe as salas de exibição (mais ou menos no final de agosto, início de setembro). O roteiro é da norte-americana Rose Gilroy, que apesar de não ser conhecida deu um show na construção dessa história ficcional. Além de Scarlett Johansson e Channing Tatum, que pela terceira vez trabalham juntos – as outras vezes foram “Como Não Perder Essa Mulher” (Don Jon: 2013) e “Ave, César!” (Hail, Caesar: 2016), mas nenhuma como par romântico –, o elenco desta comédia romântica tem nomes como Woody Harrelson, Anna Garcia, Ray Romano, Jim Rash, Joe Chrest, Noah Robbins, Colin Woodell, Christian Zuber e Donald Elise Watkins.
Curiosamente, “Como Vender a Lua” recebeu apoio da NASA, que entrou no espírito da brincadeira e não boicotou o olhar alternativo para o seu momento histórico mais emblemático. A agência espacial dos Estados Unidos não só permitiu que as gravações fossem feitas em suas dependências como contribuiu tecnicamente com a equipe de cineastas. Em uma mistura de ficção e realidade, podemos dizer que foi um excelente trabalho de Relações Públicas e de Propaganda & Marketing da National Aeronautics and Space Administration.
O enredo de “Como Vender a Lua” se passa no auge da Guerra Fria. Na intensa disputa para ver quem seria a primeira nação a levar o homem para a Lua, Estados Unidos e União Soviética disputavam a façanha de construir quase do zero a tecnologia aeroespacial. Para conseguir tal proeza, os dois governos despejaram vultuosas quantias de capital financeiro e alocaram riquíssimo capital humano nas pesquisas e no desenvolvimento desta indústria. Essa batalha tecnológico-científica começou no meio da década de 1950, dez anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Contudo, em meados dos anos 1960, os comunistas estavam na dianteira do que se convencionou chamar de Corrida Espacial. Eles colecionavam êxitos: enviaram o primeiro satélite artificial, o primeiro ser vivo e o primeiro cosmonauta para o espaço. Enquanto isso, os norte-americanos acumulavam fracassos e vexames. Essa é a parte histórica e real desse período marcante do século XX que o filme está ancorado.
Agora entremos na ficção propriamente dita de “Como Vender a Lua”. Para dar fim a interminável lista de derrapadas da NASA, Moe Burkus (interpretado por Woody Harrelson), um dos principais assessores do presidente dos Estados Unidos, tem uma sacada aparentemente genial. Ele contrata Kelly Jones (Scarlett Johansson), uma picareta que está fazendo muito sucesso como profissional de Marketing em Nova York. A moça é escalada para cuidar da área de Relações Públicas (RP) da agência espacial. Na visão dos poderosos da Casa Branca, com a melhoria da comunicação e da imagem do projeto Artemis (no longa-metragem, o Projeto Apollo é chamado de Projeto Artemis), a opinião pública passaria a apoiar a iniciativa do governo, o que facilitaria a obtenção de recursos por parte de deputados e senadores. Ao invés de ser um poço de escândalos e polêmicas, a NASA seria fonte de orgulho e alavancagem da nação tanto interna quanto internacionalmente.
Dessa maneira, Kelly Jones se muda para a Flórida para cuidar do RP do projeto Artemis. O problema é que o ambiente em que ela se insere é machista e pouco afeito às técnicas mercadológicas. Ninguém quer colaborar com a equipe de Kelly. Um dos principais oponentes é Cole Davis (Channing Tatum), o diretor de lançamentos da NASA. Ele não vê com bons olhos a chegada da linda e sagaz publicitária. Enquanto os engenheiros e cientistas precisam se desdobrar para encontrar soluções técnicas para os desafios espaciais, a publicitária e sua assistente (Anna Garcia) querem promover entrevistas com a mídia e fechar parcerias comerciais com as grandes empresas.
Apesar da nítida atração entre a dupla de protagonistas desde o primeiro momento, eles possuem atividades e personalidades totalmente distintas. Kelly é extrovertida, engraçada, carinhosa, competente e, claro, trambiqueira. Muito trambiqueira! Beijo, Cidinha! Ela usa o charme, a inteligência e a moral torta para conseguir o que precisa. É o tipo de pessoa que acredita piamente que os fins justificam os meios. Se tiver que vender a mãe, ela negocia tranquilamente (exigindo pagamento à vista e sem direito à devolução).
Por outro lado, Cole é introvertido, sério, frio, coleciona incontáveis erros e tem pouca afeição às maracutaias. Em um ambiente de tantos riscos e acidentes, ele sabe que precisa ser extremamente profissional e correto. Mesmo assim, convive com a consciência pesada pelos insucessos e pelas perdas de colegas e funcionários do passado. É, portanto, o tipo certinho que não permite nada fora do script e se culpa por tudo. Diante de tantas diferenças, é claro que a dupla vive em constantes brigas. Ao mesmo tempo, Kelly e Cole se sentem cada vez mais atraídos um pelo outro.
O êxito profissional de Kelly enche os olhos do pessoal da NASA e, principalmente, de Moe Burkus. O assessor do presidente nota o poder do Marketing para o país e tem planos cada vez mais ousados para a talentosa publicitária. Assim, ele faz uma proposta para lá de polêmica à moça: coordenar a filmagem alternativa (no caso, falsa) do pouso na Lua. Imaginando que o projeto Artemis pudesse dar errado, nada melhor do que ter um plano B na gaveta. Se o foguete com Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin falhasse, o governo norte-americano colocaria no ar o filme produzido por Kelly. Aí pronto: o mundo acreditaria no êxito da empreitada espacial da NASA.
Não é preciso dizer que a nova missão de Kelly é supersecreta. Ninguém pode saber da filmagem da chegada alternativa à Lua. Nem mesmo Cole. O que ele achará da publicitária se descobrir que ela está cogitando o insucesso de seu trabalho, hein? Ai, ai, ai. Essa história tem tudo para não terminar bem. Pelo menos pela perspectiva sentimental do casal de protagonistas. De certa maneira, Kelly Jones e Cole Davis acabam ficando involuntariamente em lados opostos na trama.
“Como Vender a Lua” tem aproximadamente duas horas e 15 minutos de duração. Este filme não tem o primor visual de “Oppenheimer” nem a comicidade de “Pobres Criaturas”. Também está longe de exalar o romantismo de “Belle Époque” e "Encontro Marcado", títulos que citei no início deste post da coluna Cinema. Apesar disso, eu adorei o resultado. Gosto de ser surpreendido e ver propostas originais nas telonas. Se você busca uma comédia romântica diferente, certamente curtirá esta experiência cinematográfica. Contudo, se estiver esperando por velhas fórmulas e viver preso(a) ao receituário convencional das tramas açucaradas, talvez saia desapontado(a) da sala de cinema.
O primeiro elemento que merece elogio em “Como Vender a Lua” é o seu brilhante roteiro. Sei que já disse isso neste post do Bonas Histórias, mas repito sem medo de parecer repetitivo: Rose Gilroy arrebentou no desenvolvimento desta narrativa. Se não estiver impecável, a história do filme beira a perfeição. Além de todas as peças ficcionais estarem em seu devido lugar, temos humor, ação, drama, romance e muitas reviravoltas. Entretanto, o que mais gostei do longa-metragem foi o uso inteligente e cômico de uma velha lenda urbana. Ah que bom seria se o mundo mantivesse as fake news e as absurdas teorias da conspiração apenas no campo da ficção, né?
A beleza e a sagacidade do roteiro ficam mais evidentes na metade final do filme. É aí que temos os instantes mais engraçados, dramáticos e surpreendentes. Isso não quer dizer que a primeira metade da produção não seja boa. Ela é. O que estou dizendo é que o clímax e o desfecho são excelentes. Outra questão marcante é que mesmo brincando com a fake news da encenação do pouso na lua, o longa-metragem se manteve acertadamente com os dois pés na realidade. Achei incrível essa mistura bem calibrada de divagação fantástica e concretude histórica.
Gostei também do ritmo narrativo de “Como Vender a Lua”. Para um longa-metragem com mais de duas horas de extensão, ele até que passa rapidinho. Não fiquei cansado, incomodado nem entediado na sala de cinema – algo que geralmente acontece em sessões muito longas e/ou em comédias românticas fraquinhas. O segredo da boa fluidez está na delimitação mais ou menos clara das diferentes partes da história, algo que até o expectador recreativo consegue visualizar/sentir. Nesse caso, temos sete divisões: (1) a contextualização, (2) a apresentação das personagens principais, (3) o conflito profissional dos protagonistas, (4) o conflito sentimental dos protagonistas, (5) algumas reviravoltas, (6) clímax e desenlace da trama da NASA e (7) clímax e desenlace da trama afetiva do casal de heróis. Com tanta coisa acontecendo em cena, não dava mesmo para reduzir o tempo da produção.
Apesar de não serem de outro mundo (desculpe-me pelo trocadilho involuntário), os efeitos visuais, a fotografia, o cenário, os figurinos e a trilha sonora de “Como Vender a Lua” são adequados. Se não passam vergonha, também não empolgam o público mais exigente. Em outras palavras, cumprem seus papéis com tranquilidade, mas sem grandes pretensões cinematográficas.
O que é empolgante é a atuação do elenco. Scarlett Johansson e Channing Tatum mostram bom repertório cênico tanto para o drama quanto para a comédia. Obviamente por causa do seu papel mais rico, Johansson teve margem maior para demonstrar seu talento. Sua personagem é ótima! Kelly Jones é uma anti-heroína charmosa, inteligente e carismática. Não por acaso, ela vai roubar o seu coração já na primeira cena, por maior que seja o trambique protagonizado. Já Tatum fica limitado ao papel do militar bronco e melancólico. O diretor de lançamentos da NASA em “Como Vender a Lua” é a versão mais velha e traumatizada de John Tyree, de “Meu Querido John”, filme adaptado do romance de Nicholas Spark.
Os coadjuvantes também se saem muito bem. Woody Harrelson, Anna Garcia, Ray Romano e Jim Rash roubam a cena em alguns momentos-chave do longa-metragem e potencializam o humor. Repare que não coloquei nessa conta o pequeno felino negro que pouco a pouco ganha espaço na trama até se tornar o grande vilão da história, em uma sacada criativa genial do roteiro. Além disso, o gigantesco elenco de apoio (estamos falando de quase uma centena de figurantes!) não atrapalha o desenvolvimento da produção, um risco sempre presente quando se trabalha com multidões de atores não profissionais.
Para encerrar a seção elogiosa, me sinto na obrigação de reconhecer que desta vez acertaram na nomeação do filme para o português. Aleluia! Isso quer dizer que traduziram literalmente o título do inglês para o nosso idioma, certo? Não. Curiosamente, eles fugiram da tradução literal e, por isso mesmo, acertaram na mosca. Acho que “Como Vender a Lua” (nome no Brasil) é muito melhor do que “Fly Me to The Moon” (nome original em inglês). São dois os motivos principais da minha preferência: (1) a história principal não é sobre a viagem ao satélite natural da Terra e sim sobre o trabalho mercadológico da equipe comandada por Kelly Jones; e (2) existem vários filmes (só eu conheço três) com o nome “Fly Me to The Moon”. Por que colocar um título repetido (e, portanto, pouco original) que só vai causar confusão, hein?! Seria vontade para reverenciar a música que ficou imortalizada na voz de Frank Sinatra? Não sei. O que sei é que os norte-americanos chegam à lua, mas não conseguem usar a criatividade para escolher um bom nome para o longa-metragem.
Falemos agora dos problemas de “Como Vender a Lua” (se bem que acho que já entrei nesse tópico no final do último parágrafo). Em primeiro lugar, o lado romântico da trama é fraquinho, muito fraquinho. Só chamei este filme de comédia romântica porque assim ele foi classificado pelo estúdio. Na minha visão, ele é mais um drama histórico ou uma aventura cômica do que uma história de amor. Por mais carismáticos que sejam, Scarlett Johansson e Channing Tatum não convencem no papel de casal apaixonado. Eles são bonitos, exalam sexy appeal e são cativantes, mas juntos não funcionaram. Sabe aquele casal que é lindo, mas que não tem química nenhuma? É o que temos aqui. Individualmente eles foram melhores do que em dupla. Sinto que o par romântico ideal para Scarlettizinha fora do cinema (desculpe-me, Colin Just) é um brasileiro que ama literatura, tem olhos verdes e vive na Argentina. Olha a dica!!!
É verdade que o roteiro não ajudou na criação do clima sentimental entre os protagonistas. Por mais engraçada que seja, a cena em que Kelly Jones e Cole Davis se conhecem no bar/restaurante na beira da estrada (e lançam as fagulhas das brigas e do amor) é forçada e um tanto inverossímil. Para piorar, não se explora a tensão sexual e sentimental dos dois ao longo da produção. A exceção é a bela cena do avião/visita ao senador religioso. Porém, é um único instante marcante de romance em um filme de mais de duas horas. Em resumo, Scarlett Johansson e Channing Tatum não convencem como casal porque o roteiro não os ajudou.
Também não gostei do início do filme. Ele é extremamente didático e parece mais um documentário do que uma ficção. A sensação que tive é que “Como Vender a Lua” duvida da inteligência e do repertório cultural do expectador ao pontuar detalhadamente o contexto histórico. Será mesmo que precisava falar por A mais B o que era a Guerra Fria e a Corrida Espacial?! Sinceramente, acho que não. Essa mania de explicar tudo acabou refletindo em outras partes do longa-metragem. Mesmo sendo possível entender o que está ocorrendo em cena, uma personagem surge para explicar o que já compreendemos. Que raiva! O melhor exemplo disso é a listagem dos engenheiros no momento da decolagem.
Outra questão que me incomodou um pouco foi a sensação de caricatura de personagens, figurinos e cenários. Na tentativa de reconstruir a década de 1960 com fidedignidade, por vezes “Como Vender a Lua” acabou escorregando em estereótipos. Assim, notamos o tom artificial e a pegada de Filme B em vários momentos. Juro que não sei se esse expediente foi proposital – possivelmente para potencializar o humor. De qualquer maneira, não gostei (até porque a comicidade maior do filme está nas sacadas inteligentes da trama e não no visual).
Confira, a seguir, o trailer de “Como Vender a Lua” (Fly Me to The Moon: 2024):
Confesso que adorei este filme. Sabe quando você entra na sala de cinema com a expectativa lá embaixo e sai maravilhado com a experiência obtida? Foi o que aconteceu comigo no último final de semana no Multiplex Belgrano. “Como Vender a Lua” tem roteiro inteligente, ótimas cenas, protagonistas cativantes, excelentes surpresas e atuações destacadas. Para completar, rende boas risadas e permite que matemos as saudades de Scarlettizinha. O que mais podemos desejar de uma sessão de sexta-feira à noite na Buenos Aires de Inverno polar, hein?!
Se você está reticente (como eu estava!) em conferir o novo longa-metragem de Greg Berlanti, saiba que “Como Vender a Lua” está mais para “Com Amor, Simon” do que para “Juntos pelo Acaso”. Ainda assim, é infinitamente inferior tecnicamente a “Dias Perfeitos”, “Rivais” e “Divertida Mente 2”. Como deu para perceber, ainda não entendi o porquê não postei as análises desses títulos na coluna Cinema. Se bem que ainda não desisti de publicá-los, principalmente a animação da Pixar, que ainda permanece em cartaz no circuito comercial brasileiro. Por outro lado, é inegável que “Como Vender a Lua” é o filme mais surpreendente desta temporada cinematográfica. Daí a explicação da sua presença no Bonas Histórias.
É verdade que o componente da comédia romântica não é o que mais chama a atenção neste caso. As almas mais sensíveis certamente vão reclamar. Se o seu mozão é assim, saiba que ele/ela poderá chiar com razão ao final da sessão. Porém, quem liga para isso quando os outros elementos compensam a falta de uma história de amor mais bem construída e empolgante, né? Lá vem o meu coração peludo atrapalhar mais uma vez a minha análise! Ai, ai, ai. Desculpem-me, senhoras e senhores, a falta de tato deste que vos escreve. Talvez o post da semana que vem explique melhor a recente falta de romantismo da minha parte (que atingiu níveis preocupantes até mesmo para mim).
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