Escritor argentino revolucionou a prosa ficcional, foi um dos precursores do Realismo Fantástico e se consolidou como um dos maiores contistas da história.
O Desafio Literário chega agora à análise do terceiro (e último) escritor de 2021. Depois de estudar em profundidade a literatura de Orhan Pamuk, em abril e maio, e a literatura de Elena Ferrante, em julho e agosto, o Bonas Histórias abre espaço para a investigação da prosa ficcional de Julio Cortázar. Ou seja, depois de uma passagem pela Turquia e de uma escapada pela Itália, aportamos dessa vez de mala e cuia na boa e velha Argentina. Ao longo de outubro e novembro, o blog se debruçará sobre o trabalho de um dos principais autores argentinos de todos os tempos e um dos escritores mais inovadores do século XX.
Como cartão de visita, basta dizer que Julio Cortázar foi um dos precursores do Realismo Fantástico, gênero narrativo que colocou a ficção latino-americana em evidência mundial. Ele também se consolidou como um dos maiores contistas da história. Suas narrativas curtas (contos e novelas) são reverenciadas até hoje como símbolo das maluquices criativas de um gênio que quebrou regras e reinventou conceitos literários.
Do ponto de vista da literatura argentina, é até difícil apontar quem foi maior: teria sido Julio Cortázar ou foi Jorge Luis Borges, hein?! Essa discussão lembra outras rivalidades artístico-culturais. Afinal, quem se destacou mais, Gabriel García Márquez ou Vargas Llosa? Greta Garbo ou Marlene Dietrich? Chico Buarque ou Tom Jobim? Pablo Picasso ou Salvador Dalí? Bette Davis ou Joan Crawford? Virginia Woolf ou James Joyce? John Lennon ou Paul McCartney? Leonardo da Vinci ou Michelangelo? José Saramago ou António Lobo Antunes? Emilinha Borba ou Marlene? Quentin Tarantino ou Spike Lee? Édouard Manet ou Edgar Degas? Jane Austen ou as irmãs Brontë? Nessas eternas disputas pelo coração do público, confesso que não tenho coragem de meter o bedelho.
Depois dessa rápida divagação, voltemos a falar da literatura de Julio Cortázar e dos estudos do Desafio Literário, que chegou nesse ano à sétima temporada. Para conhecermos à fundo o trabalho artístico do escritor argentino, iremos analisar individualmente, nas próximas oito semanas, oito de seus principais livros. Nossa lista é composta por: “Os Reis” (Civilização Brasileira), peça teatral de 1949; “Bestiário” (Civilização Brasileira), coletânea de contos de 1951; “Final do Jogo” (Civilização Brasileira), coletânea de contos de 1956; “Os Prêmios” (Civilização Brasileira), romance de 1960; “Histórias de Cronópios e de Famas” (Best Seller), coletânea de contos de 1962; “O Jogo da Amarelinha” (Companhia das Letras), romance de 1963; “Todos os Fogos o Fogo” (Best Seller), coletânea de contos de 1966; e (ufa!) “62 Modelo para Armar” (Civilização Brasileira), romance de 1968.
Uma vez concluída a etapa de análise obra-a-obra, o Desafio Literário seguirá para a fase derradeira, a da construção do panorama das trajetórias pessoal e profissional, do estilo literário e do legado ficcional de Julio Cortázar. Por sinal, o desenvolvimento do raio X da literatura do argentino é o principal objetivo do Bonas Histórias nesse bimestre. Prova disso é que a análise completa da literatura de Cortázar ganhará um post exclusivo que será publicado no final de novembro. Nesse material, a ideia é revelar as particularidades da ficção de Julio Cortázar que o alçaram ao status de um dos mais geniais escritores da língua espanhola, um dos mais importantes autores do século passado e um mestre nas narrativas curtas. Curiosamente, Cortázar é mais aclamado pelos críticos literários, pelos estudiosos da Teoria Literária, pelos editores e pelos escritores do que pelo público leitor e pela imprensa que cobre a literatura comercial. Não à toa, Julio Cortázar continua influenciando incontáveis artistas contemporâneos.
Em uma rápida reconstituição da vida e da carreira de Julio Cortázar, podemos dizer que ele nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em agosto de 1914. Quando o futuro escritor veio ao mundo, a Primeira Guerra Mundial tinha eclodido há pouco (dois meses). Com o clima cada vez mais violento e instável na Europa, os pais de Julio, que eram argentinos, resolveram voltar para a terra natal em 1917. Foi na Argentina que Julio Cortázar passou a infância, a adolescência e a juventude. Graduado em Letras, trabalhou como professor de literatura e tradutor.
A estreia de Cortázar na literatura aconteceu, em 1938, com a publicação de “Presencia” (não editado em português), antologia poética lançada sob o pseudônimo de Julio Denis. Na década seguinte e já com o nome verdadeiro estampando seus textos, Julio Cortázar passou a produzir contos para as principais revistas literárias argentinas. Nos anos 1940, temos a publicação de “La Otra Orilla” (sem edição no Brasil), a primeira coletânea de narrativas curtas do autor, e “Os Reis” (Civilização Brasileira), sua estreia na dramaturgia.
A fase de ouro da carreira literária de Cortázar viria nas décadas de 1950 e 1960. Foi nesse período que o escritor argentino lançou suas principais coleções de contos e seus mais admirados romances. São dessa época, por exemplo, “Bestiário” (Civilização Brasileira), “Histórias de Cronópios e de Famas” (Best Seller) e “O Jogo da Amarelinha” (Companhia das Letras), os três livros mais famosos do autor. Outros importantes títulos dessa fase foram “Final do Jogo” (Civilização Brasileira), “Os Prêmios” (Civilização Brasileira), “Todos os Fogos o Fogo” (Best Seller), e “62 Modelo para Armar” (Civilização Brasileira).
O apogeu profissional de Julio Cortázar coincidiu com a mudança de Buenos Aires para Paris. Em 1951, ele abandonou a Argentina e foi viver na França. O motivo do autoexílio foi a oposição política à Ditadura Militar portenha, então com cinco anos de duração e que se tornava, já naquele instante, cada vez mais violenta e repressora. Ao longo de toda a vida, Cortázar expressou por várias vezes e publicamente a repulsa que nutria pelos regimes antidemocráticos, fossem eles de direita ou de esquerda. E essa defesa aos ideais democráticos renderam algumas críticas pesadas e alguns dissabores ao escritor. Não podemos nos esquecer que ele viveu em uma época em que dar golpes de Estado e perseguir a população era uma marca dos países latino-americanos e da Península Ibérica. Imagine só se Cortázar vivesse nos dias de hoje no Bras.... Esqueça!
Na capital francesa, Julio se casou, em 1953, com Aurora Bernárdez, escritora e tradutora argentina. O casal viveu a maior parte do tempo com sérias dificuldades financeiras. Por maior que fosse o prestígio do autor em seu país e na Europa, ainda sim ele nunca foi um best-seller nas livrarias nem conseguiu ganhar muito dinheiro da venda de seus títulos. O casamento com Aurora durou aproximadamente vinte anos. Com a separação da primeira esposa na década de 1970, Cortázar viveu com a agente literária lituana Ugné Kurvelis e, mais tarde, com a fotógrafa e escritora canadense Carol Dunlop. Contudo, quando ele ficou seriamente doente, em 1983, quem cuidou dele foi Aurora Bernárdez – Carol Dunlop tinha falecido no ano anterior.
Julio Cortázar continuou publicando novos livros nos anos 1970 e no começo da década de 1980. Entretanto, seus melhores e mais revolucionários trabalhos tinham ficado para trás. Mesmo assim, foram nas duas últimas décadas de vida que o autor argentino conquistou os principais prêmios literários e o reconhecimento definitivo do mercado editorial internacional. Com a volta da democracia à Argentina, o escritor aceitou visitar o país algumas vezes, mas jamais cogitou voltar a morar em Buenos Aires. Em fevereiro de 1984, Cortázar morreu de leucemia na França. Seu corpo foi enterrado em um cemitério parisiense.
E aí, curtiu a proposta desse bimestre do Desafio Literário? Para você não perder nenhuma novidade do estudo sobre a literatura de Julio Cortázar, segue, abaixo, o calendário de posts do Bonas Histórias com as análises dos livros do escritor argentino:
- 9 de outubro de 2021 – Análise de “Os Reis” (1949) – conto/novela/peça teatral.
- 15 de outubro de 2021 – Análise de “Bestiário” (1951) – coletânea de contos.
- 21 de outubro de 2021 – Análise de “Final do Jogo” (1956) – coletânea de contos.
- 27 de outubro de 2021 – Análise de “Os Prêmios” (1960) – romance.
- 2 de novembro de 2021 – Análise de “Histórias de Cronópios e de Famas” (1962) – coletânea de contos/microcontos.
- 8 de novembro de 2021 – Análise de “O Jogo da Amarelinha” (1963) – romance.
- 14 de novembro de 2021 – Análise de “Todos os Fogos o Fogo” (1966) – coletânea de contos.
- 20 de novembro de 2021 – Análise de “62 Modelo para Armar” (1968) – romance.
- 26 de novembro de 2021 - Análise Literária de Julio Cortázar.
Então, chega de papo e mãos à obra. A análise da produção ficcional de Julio Cortázar começará de fato na próxima semana. A primeira obra do autor argentino do Desafio Literário é “Os Reis” (Civilização Brasileira), peça teatral lançada originalmente em 1949. O post desse livro será publicado no Bonas Histórias no outro sábado, dia 9. Não perca o Desafio Literário de outubro e novembro. E uma ótima leitura para todos!
Gostou da seleção de autores e de obras do Desafio Literário? Que tal o Blog Bonas Histórias? Seja o(a) primeiro(a) a deixar um comentário aqui. Para saber mais sobre as Análises Literárias do blog, clique em Desafio Literário. E não deixe de nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.