A norte-americana Martha Graham é uma das dançarinas mais importantes do século XX e ficou conhecida como a mãe da Dança Moderna.
Nessa edição de outubro da coluna Dança, daremos sequência à série Dançarinas Históricas. Como você já sabe, esse espaço do Bonas Histórias é dedicado à apresentação da vida, da trajetória profissional, das realizações e do legado artístico das mulheres que marcaram a história da dança. Até agora, já comentamos as carreiras de Isadora Duncan, uma das pioneiras da Dança Moderna, e de Anna Pavlova, a mais importante bailarina russa de todos os tempos. No post de hoje, vamos falar de Martha Graham, a norte-americana que revolucionou a Dança Moderna e influenciou gerações de dançarinos no mundo inteiro.
Martha Graham, bailarina e coreógrafa, nasceu em 11 de maio de 1894, na Pensilvânia. Seu objetivo maior era desvendar e revelar a alma humana através da arte dançante. Ela teve papel fundamental na história da Dança e é conhecida até hoje como a mãe da Dança Moderna. Se você estiver acompanhando assiduamente o conteúdo da coluna Dança aqui no Bonas Histórias, com certeza se lembrará desse nome. No post sobre a Dança Moderna e Dança Contemporânea – Surgimento e características, como não podia deixar de ser, mencionamos Martha Graham. E agora, nesse material produzido especialmente em homenagem às maiores dançarinas de todos os tempos, não poderíamos deixar de falar mais um pouco sobre ela.
Martha Graham teve um papel tão fundamental para a dança que sua influência sobre essa arte é comparada à influência que Pablo Picasso teve nas artes visuais, a que Ígor Stravinsky teve na música e a que Frank Lloyd Wright exerceu na arquitetura (aliás, a arquitetura é uma das minhas outras paixões além da dança!). Duas revistas importantes demonstraram toda a magnitude de Graham: a Time a chamou de “A Dançarina do Século” e a People a colocou na lista das mulheres “Ícones do Século XX”.
Martha Graham não foi efetivamente a primeira dançarina a iniciar as mudanças impostas pela Dança Moderna. Porém, seu trabalho não só ajudou a disseminar os novos paradigmas dessa modalidade, que abandonou a formalidade e a rigidez da dança clássica, como ainda revolucionou a própria Dança Moderna. Ela foi a responsável por influenciar as bailarinas de sua geração e teve seu trabalho reconhecido pelas gerações seguintes.
A dança entrou na vida de Martha só na adolescência. E seu interesse por essa arte se deve muito ao seu pai. Ele era médico, especialista em disfunções neurológicas, e tinha uma atenção especial aos movimentos corporais de seus pacientes. Martha herdou do pai a crença de que o corpo é capaz de expressar os sentimentos e as sensações mais íntimas. Uma das frases mais famosas de Martha e que representa muito bem seus conceitos da dança é: “O corpo diz o que as palavras não podem dizer”.
Em 1911, Martha Graham teve seu primeiro contato com a dança ao assistir à apresentação da bailarina Ruth St. Denis realizada no Mason Opera House, em Los Angeles. Fascinada pelo espetáculo, Martha se matriculou em um colégio voltado às artes. Assim que Ruth St. Denis fundou sua própria escola, a Denishawn, juntamente com seu marido Ted Shawn, a experiente dançarina recebeu uma nova e entusiasmada aluna – Martha Graham. A jovem que aspirava dançar profissionalmente fez parte da escola de Ruth St. Denis e Ted Shawn por oito anos, primeiramente como aluna e depois como professora.
Esse momento foi muito importante para a formação de Martha, pois ela teve contato com danças do mundo inteiro, o que era uma novidade para as escolas norte-americanas. Assim, Martha Graham pôde conhecer a dança folclórica, a clássica, a experimental, a asiática, entre outras. O principal mestre de Graham foi Ted Shawm, que descobriu a força e a intensidade expressiva da pupila. Ele usou todo o potencial da jovem aluna em sua obra de balé asteca, “Xochitl”. Nessa peça, a atuação de Martha foi formidável, o que gerou grande repercussão entre o público e os profissionais da dança. A partir daí, Martha Graham se tornou a grande estrela da Denishawn.
Em 1923, ela deixou a Denishawn e entrou para a revista Greenwich Village Follies, onde ficou por dois anos como a dançarina de destaque. Greenwich Village Follie foi uma revista musical que se apresentou de 1919 a 1927 no Teatro Greenwich Village. Em seguida, Graham foi para Eastman School of Music, companhia de Rochester, em Nova Iorque. Lá, ela deu aulas e fez experimentações no palco.
Apenas em 1926, Martha Graham, então com 32 anos, lançou-se na carreira de dançarina solo em Nova Iorque. Nesse ano, ela fundou sua própria companhia de dança, a Martha Graham Dance Company. Dirigida por sua fundadora até o último dia de vida, a Martha Graham Dance Company existe ainda hoje e é considerada a companhia de dança com mais tempo ininterrupto de atuação nos Estados Unidos.
Martha Graham foi responsável por coreografar mais de 200 peças. Suas obras apresentavam inovações nos movimentos e trabalhavam diversos temas como o folclore americano, a mitologia grega, questões sociais e políticas, a psicologia humana, a sexualidade e a sensibilidade feminina.
O Ballet Clássico não era malvisto por Graham. Entretanto, aos seus olhos, essa era uma modalidade muito limitada, pois impossibilitava ao dançarino expor suas emoções, desejos, paixões e dramas. Os passos que Martha criou para sua dança queriam sempre expor os sentimentos e buscavam prioritariamente leveza, explosão e dramaticidade. Ela fez uso de movimentos básicos do corpo associando-os à respiração. Seu estilo era caracterizado por gestos amplos e pelo contato direto do corpo com o chão.
Sua atuação não se limitava apenas à dança. Ela produzia e desenhava o próprio figurino e tinha papel importante na criação das músicas dos espetáculos. Martha Graham foi responsável por revelar grandes bailarinos e coreógrafos como Alvin Ailey, Anna Sokolow, Twyla Tharp, Elisa Monte, Paul Taylor, Merce Cunningham, entre outros.
Em seus mais de 70 anos de carreira, Graham ganhou muitos prêmios e foi homenageada várias vezes. Ela foi a primeira bailarina a dançar na Casa Branca e a viajar para fora do país como embaixadora cultural. Em 1959, ganhou o prêmio The Laurel Leaf da American Composers Alliance por seus serviços prestados à música. Em 1976, o presidente norte-americano Gerald R. Ford, reconhecendo o papel relevante de Martha Graham na cultura de seu país, concedeu à dançarina o maior prêmio civil dos Estados Unidos, a Medalha Presidencial da Liberdade, e a declarou um “tesouro nacional”. Em 1985, RonaldReagan fez questão que Martha fosse uma das primeiras a receber a Medalha Nacional das Artes. Fora da América do Norte, Martha Graham também recebeu homenagens e prêmios. A Chave da Cidade de Paris e a Ordem da Coroa Preciosa do Império Japonês foram algumas honrarias entregues à dançarina.
Martha traçou uma das mais importantes e longevas trajetórias da dança no século XX. Considerada por muitos como uma dançarina à frente de seu tempo, ela disse em uma entrevista ao Observer de Londres, em 8 de julho de 1979: “Nenhum artista está à frente do seu tempo. Ele é o seu tempo. Os outros é que estão atrás”. Ela faleceu em 1º de abril de 1991, em Nova Iorque, aos 96 anos.
Em dezembro, voltarei ao Bonas Histórias para apresentar mais um capítulo da série Dançarinas Históricas. No último mês do ano, falarei de Márcia Haydée, uma das mais importantes bailarinas e coreógrafas brasileiras de todos os tempos. Não perca as novas edições da coluna Dança.
Dança é a coluna de Marcela Bonacorci, dançarina, coreógrafa, professora e diretora artística da Dança & Expressão. Esta seção do Bonas Histórias apresenta mensalmente as novidades do universo dançante. Gostou deste conteúdo? Não se esqueça de deixar seu comentário aqui. Para acessar os demais posts sobre este tema, clique na coluna Dança. E aproveite também para nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.