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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

Foto do escritorMarcela Bonacorci

Dança: Dançarinas Históricas - Márcia Haydée

Uma das mais importantes bailarinas e coreógrafas brasileiras, Márcia Haydée tem uma carreira de destaque no exterior.

Dançarinas Históricas - Márcia Haydée

Em 2021, apresentamos na coluna Dança a série Dançarinas Históricas. Até aqui falamos da trajetória artística de três estrangeiras – Isadora Duncan, uma das pioneiras da Dança Moderna, Anna Pavlova, o nome mais importante do Ballet Clássico russo, e Martha Graham, a protagonista da Dança Moderna norte-americana. Não podíamos terminar esse ano sem tratar, no Bonas Histórias, de uma dançarina brasileira, né?


E nada melhor do que trazer para esse post uma das mais importantes bailarinas e coreógrafas da história do nosso país. Estou falando de Márcia Haydée. Seu prestígio não ficou restrito ao Brasil. Haydée é uma das maiores referências internacionais da dança do século XX. Não à toa, seu nome já desfilou no Bonas Histórias quando apresentei a história, as curiosidades e as características do Ballet Clássico.


Márcia Haydée Salaverry Pereira da Silva nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, em 18 de abril de 1937. Desde muito pequena, ela teve como sua grande paixão o Ballet. A menina adorava assistir aos espetáculos de dança. Aos três anos de idade, Márcia já experimentava os primeiros passinhos no Ballet. A garota passou a maior parte da infância sob os cuidados dos avós. Afinal, sua mãe era muito nova, tinha 19 anos quando ela nasceu.


Em 1943, Márcia Haydée, então com seis anos, começou a ter aulas de Ballet com Yuco Lindberg, Vaslav Veltchek e Tatiana Leskova, professores estrangeiros que viviam no Rio de Janeiro. E foi justamente nesse ano em que a pequena bailarina, acredite se quiser, ganhou seu primeiro contrato como dançarina, devidamente assinado pelo avô. Com esse registro, a menina se apresentou pela primeira vez no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A obra apresentada ali era a comédia “Era o Cavaleiro da Rosa”, de Richard Strauss. A aparição da pequena Márcia se deu apenas na primeira e na última cena do espetáculo. E mesmo sem entender nenhuma palavra de alemão, seu dom musical e seu talento precoce para a dança a ajudaram a se sair muito bem no palco.

Márcia Haydée, bailarina e coreógrafa brasileira

Em Londres, para onde se mudou em 1954, a adolescente Márcia Haydée foi estudar na The Royal Ballet School. E durante os quase três anos que permaneceu na capital inglesa, ela teve aulas com Winifred Edwards, ex-bailarina da companhia de Anna Pavlova, e com Harold Turner. Nesse período, a brasileira conheceu o coreógrafo sul-africano John Cranko, diretor do Stuttgart Ballet, companhia de dança alemã. Márcia se tornou a principal discípula de Cranko. Depois de se mudar para Paris, em 1957, ela teve aulas com Lubov Egorova e Olga Preobrajenska. Nesse ano, participou também do Grand Ballet du Marquis de Cuevas.


A carreira profissional de Márcia Haydée na dança começou para valer em 1961 quando ela entrou para o Ballet de Stuttgart. Um ano após seu ingresso na companhia alemã, a brasileira se tornou a primeira bailarina do grupo de John Cranko. Trabalhando ao lado do sul-africano durante doze anos, Haydée fez apresentações em diversos países e se tornou uma estrela internacional do Ballet. Cranko, inspirado na dança de Márcia Haydée, coreografou diversas obras para ela, como “Romeu e Julieta” (1962), “Onegin” (1965), “Présence” (1968), “A Megera Domada” (1969), “Carmen” (1971) e “Spuren” (1973). A dançarina brasileira assumiu a direção do Ballet de Stuttgart em 1976, dois anos após a morte de John Cranko. Ela ocupou esse cargo até 1996.


Márcia trabalhou ainda com coreógrafos renomados como Kenneth MacMillan, Glen Tetley, John Neumeier e Maurice Béjart. Assim como John Cranko havia feito anteriormente, todos esses artistas fizeram peças inspiradas na dança de Haydée. As mais importantes foram: “Las Hermanas” (1963), “Lied von der Erde” (1965), “Fräulien Julie” (1970) e “Requiem” (1977), de Kenneth MacMillan; “Voluntaires” (1973), de Glen Tetley; “Hamlet Connotations” (1976), “Die Kameliendame” (1978) e “Endstation Sehnsucht” (1983) de John Neumeier; “Leda y el Cisne” (1980), “Divine” (1981), “Nur du Allein” (1982), “Die Stühle” (1984) e “Madre Teresa et les Enfants du Monde” (2002), de Maurice Béjart.


Márcia Haydée foi considerada pela crítica internacional como a Maria Callas da dança por sua força interpretativa e por sua capacidade de atuar em todos os papéis (ela interpretava comédia e tragédia com a mesma excelência). A brasileira teve como partenaires importantes bailarinos internacionais como Mikhail Baryshnikov, Rudolf Nureyev, Paolo Bertoluzzi, Anthony Dowel, Jorge Donn e Richard Cragum. Inclusive, Richard Cragum foi marido de Márcia por 16 anos.

Márcia Haydée, dançarina brasileira

Ainda como diretora do Ballet de Stuttgar, Márcia Haydée foi convidada pelo Ballet Nacional do Chile, em 1992, para montar “Pássaro de Fogo”, uma das peças criadas para ela por John Cranko. No ano seguinte, Márcia assumiu a direção do Ballet de Santiago. E ainda em 1993, ela se apresentou no Rio de Janeiro com coreografia de Roberto de Oliveira. Haydée recebeu o título honorífico de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro.


De volta aos palcos alemães, Márcia Haydée dançou “Tristão e Isolda” com o também bailarino brasileiro Ismael Ivo. Em 2001, participou do Festival de Artes, em Hong Kong. Em 2004, voltou a dirigir o Ballet de Santiago. Na Alemanha, em 2009, recebeu a Cruz Federal de Mérito, prêmio concedido às personalidades que contribuíram significativamente para a política, a economia e a cultura. E no ano passado, Márcia deixou a direção do Ballet de Santiago. Aos 84 anos, ela não pensa em parar de trabalhar com a dança. Márcia irá atuar como assessora internacional do Ballet assim que a pandemia do novo coronavírus terminar definitivamente.


Márcia Haydée é casada atualmente com Günther Schöber, professor de Yoga vinte anos mais novo do que ela. Por ter se dedicado quase que exclusivamente à sua arte, a bailarina brasileira preferiu não ter filhos. Em sua mais recente entrevista, concedida ao The Clinic em janeiro deste ano, Márcia se diz perdida por não poder pisar em um teatro. A pandemia está fazendo com que ela aprenda a conviver mais com ela mesma. Em 2021, Haydée voltou a residir na Alemanha, onde deseja aprender a cozinhar. Certa vez ela disse: “Não existe idade. A gente é que cria (a noção do tempo). Se você não acredita na idade, não envelhece até o dia da morte”. Pelo visto, ela está levando essas palavras bem à sério. Sorte nossa e dos admiradores do Ballet.

Dança - Márcia Haydée

Há ainda muitas mulheres que fizeram (e fazem) parte da história da dança. Esse nosso recorte é apenas uma pequena amostra de bailarinas e dançarinas talentosas que nos brindaram com sua arte e seu talento nos palcos (e, agora, nos posts da coluna Dança). Ainda falaremos, no Bonas Histórias, de outras mulheres importantes para a dança. Espero que vocês tenham gostado da apresentação de Isadora Duncan, Anna Pavlova, Martha Graham e Márcia Haydée.


Ótimas festas e excelente 2022 para todos!!!


Dança é a coluna de Marcela Bonacorci, dançarina, coreógrafa, professora e diretora artística da Dança & Expressão. Esta seção do Bonas Histórias apresenta mensalmente as novidades do universo dançante. Gostou deste conteúdo? Não se esqueça de deixar seu comentário aqui. Para acessar os demais posts sobre este tema, clique na coluna Dança. E aproveite também para nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.

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