Conheça a origem, a evolução, as ramificações e os detalhes da Dança do Ventre, a modalidade mais feminina e sensual que nos encanta há milhares de anos.
Gente, fazia um ano certinho que eu não dava as caras na coluna Dança. Para que ninguém pensasse que eu não escrevo mais no Bonas Histórias, resolvi falar hoje de uma das modalidades dançantes que mais admiro: a Dança do Ventre. Também chamado de Dança Oriental, esse estilo é, sem dúvida nenhuma, bastante sensual, sinuoso, envolvente e técnico. Não por acaso, é considerado a dança mais feminina que conhecemos. Se eu tinha mencionado que o Jazz Dance exalava sensualidade e feminilidade nos passos e nos movimentos, na Dança do Ventre assistimos à potencialização desses aspectos a níveis absurdos. Se você está duvidando de minhas palavras, veja, então, as fisionomias, os olhares ou as reações corporais dos homens durante as apresentações. Eles ficam hipnotizados pelas dançarinas e por suas coreografias.
Além disso, a Dança do Ventre/Dança Oriental possui muita história. Ela é a primeira modalidade de dança feminina que a humanidade tem registros. Ou seja, estamos falando de uma arte dançante com milhares e milhares de anos. É sobre esse incrível estilo que vamos discutir detalhadamente nesse novo post da coluna Dança. Minha proposta é contar sua origem, evolução, trajetória, ramificações e curiosidades. Então, se prepare: vamos entrar agora no mundo envolvente, mágico e sensual da Dança do Ventre!
A origem da Dança do Ventre é incerta. Não há um registro seguro de quando ela nasceu. Porém, a hipótese mais aceita pelos historiadores da arte é que ela surgiu como uma variação da Dança Pélvica. A Dança Pélvica apareceu no Oriente Médio, entre 8 mil e 5 mil anos antes de Cristo. Nos dias de hoje, é possível encontrarmos a tal Dança Pélvica em sua versão mais primitiva em regiões como o Oriente Médio e o Norte da África. Essa dança tinha um caráter religioso. Ela servia para reverenciar os deuses e estava ligada à fertilidade não só das mulheres como da natureza de maneira geral. E acreditava-se que as praticantes dessa modalidade dançante conseguiam fazer partos melhores e mais seguros, pois tinham a região pélvica fortalecida.
É importante dizer que, até então, as danças eram praticadas exclusivamente pelos homens, sempre com alguma ligação com a natureza, como a dança para a promoção da chuva ou a dança para ajudar na obtenção de caça farta. Em outras palavras, a Dança Pélvica foi a primeira dança efetivamente feminina que temos conhecimento. As próprias mulheres desenvolveram essa modalidade em benefício próprio. Afinal, esse estilo dançante ajudava a aliviar as dores provenientes da menstruação e já preparava a musculatura da gestante para o trabalho do parto.
Foi no Egito que a Dança Pélvica foi ganhando em sofisticação até se tornar a Dança do Ventre que conhecemos atualmente. Do Egito é que ela se expandiu depois para o Oriente (e não o contrário, como muita gente pensa) e se tornou parte da cultura árabe. As festividades árabes têm sempre dançarinas do ventre se apresentando e entretendo o público. Nos casamentos, as praticantes dessa modalidade possuem um papel extra: os noivos precisam tirar fotos com elas. Cada um dos recém-casados deve sair na foto com uma das mãos sobre o ventre da dançarina. Só assim, eles têm a certeza de que aquela união será fértil.
Os ciganos foram os principais responsáveis pela disseminação da Dança do Ventre nos países ocidentais. E, claro, por onde passavam, acrescentavam peculiaridades da cultura local à dança. Por exemplo, para os ciganos, a Dança do Ventre não estava relacionada apenas às festividades e às cerimônias formais (como na cultura árabe). A dança poderia acontecer normalmente nas ruas e em dias comuns. E era através dessas apresentações corriqueiras que as dançarinas conseguiam ganhar dinheiro. No final do século XIX, a Dança do Ventre foi se adaptando cada vez mais aos gostos e às exigências do público ocidental. Assim, a modalidade deixou de se apresentar nas ruas e passou a frequentar os clubes noturnos e os cassinos. Nessa migração, as vestimentas também ganharam em requinte e variedade.
Se tornou comum a realização de shows de Dança do Ventre na Europa e nos Estados Unidos. Ao entrar no hall dos estilos dançantes dessas regiões, a modalidade vinda do Egito acabou incorporando naturalmente características das danças ocidentais. A Dança do Ventre ganhou em refinamento e técnica a partir da influência do Ballet Clássico e do Ballet Contemporâneo. Os movimentos de mãos e braços ficaram mais delicados, foi incorporado o dançar na meia ponta e o figurino ganhou ainda mais brilho, lantejoulas e pedras. Dessa forma, a Dança do Ventre se consolidou como um espetáculo de alto nível no Ocidente, sendo apresentado nos grandes palcos de teatro e nas principais casas de show da Europa e dos Estados Unidos.
O nome original da Dança do Ventre/Dança Oriental, como esse estilo ainda hoje é conhecido nos países do Oriente, é Raqs Sharqi, que significa Dança do Leste. A referência geográfica se deve à posição do nascimento do Sol. É onde o Sol nasce que as mulheres recebem as energias e os poderes solares para brilhar. Na França, essa dança recebeu o nome de Danse du Ventre. Nos Estados Unidos, sua denominação ficou sendo Belly Dance. E aqui no Brasil, a modalidade ganhou mesmo o nome de Dança do Ventre ou Dança Oriental.
A Dança do Ventre é muito rica em gestos e movimentos. Ela trabalha bastante o quadril e o peitoral com o propósito de realizar movimentos redondos ou circulares. O quadril pode ter o movimento em oito, quando o corpo é o eixo e o quadril desenha o oito tanto horizontal quanto verticalmente. Os braços e mãos são bem desenhados e têm papel importante na dança. Eles têm movimentos sensuais de ondulação que misturam leveza e delicadeza. A cabeça também tem seu destaque com movimentos laterais. Um passo importante nessa dança é o tremido, conhecido como “shimmy”. Segundo essa técnica, a dançarina faz tremer (daí o nome: tremido!) as pernas, o abdômen e o peitoral. A expressão fisionômica da praticante da dança também é um item importante a ser observado pela plateia. Ela traduz com quais sentimentos a dançarina do ventre interpreta a música. As emoções são variadas: alegria, dor, angústia, sensualidade, medo, tristeza etc.
Diferentemente do que o próprio nome e a origem da modalidade sugerem, a Dança do Ventre tem sido praticada, nos últimos anos, pelos homens. A dança para eles é mais simples, sem rebolados complexos, e se restringe aos movimentos de ombros e quadris sendo sacudidos.
A Dança do Ventre ou Dança Oriental é rica em acessórios. Os mais conhecidos são o véu, a vela, a espada, a bengala, o snuj e o pandeiro. E claro, como muitos já devem ter visto, um elemento muito utilizado nas apresentações é a cobra.
Os cinco tipos de Dança do Ventre e Dança Oriental mais conhecidos são:
– Dança dos Sete Véus: a dançarina se apresenta com sete véus, cada um com uma cor diferente. Eles representam os sete chakras que serão abertos durante a dança.
– Dança dos Cinco Elementos: tem um aspecto mais ritualístico e de devoção. Reverencia elementos da natureza como a água, o fogo, a terra, o ar e o éter. A dança é dividida em cinco partes, cada uma representando um elemento.
– Dança com Bastão: essa é a versão feminina da dança Tahtib, uma modalidade essencialmente masculina. Por isso, não possui muitos passos delicados e femininos. Porém, é uma dança bem alegre e contagiante.
– Dança com Espada: a espada deve ser equilibrada com sensualidade na cabeça, na cintura e no peito. Isso demonstra o nível de equilíbrio e de habilidade corporal da dançarina do ventre.
– Dança com o Snuj: instrumento antigo feito com peças de metal, o snuj se assemelha a uma castanhola. Pode ser utilizado tanto pela dançarina, que o prende no corpo com um elástico, quanto pelos músicos que acompanham a apresentação.
No Brasil, a Dança do Ventre já existe há muitos anos e ganhou ainda mais notoriedade e praticantes com as telenovelas da Rede Globo, como “O Clone” (2001). A telenovela mostrava como essa dança está presente no cotidiano e nas festividades do povo árabe. E hoje, nosso país tem algumas das melhores dançarinas de Dança do Ventre do planeta. Os nomes que mais se destacam são: Lulu Sabongi, que já ministrou aulas de dança em mais de 25 países e é conhecida como a “mestra das mestras” por ter ensinado grandes nomes da Dança do Ventre no Brasil e no mundo; Shahar, que foi aluna de Lulu Sabongi; e Soraia Zaied, que começou a dançar aos 17 anos e hoje vive no Cairo há mais de duas décadas.
E como estamos na seção de homenagens, não poderia me esquecer de mencionar a minha professora de Dança do Ventre, Mara Pineda. No ano passado, fiz aulas com a Mara na Dança & Expressão e amei. Em 2023, infelizmente, minha grade de aulas de Dança de Salão aumentou tanto que eu não consegui mais frequentar a sua turma (nem escrever para o Bonas Histórias). Porém, não pense que desisti da Dança do Ventre, professora! Assim que conseguir organizar o horário das minhas aulas, eu volto para a sua.
Nos últimos, tem se tornado muito popular a Fusão Oriental, que nada mais é do que a mistura de elementos da Dança do Ventre com outros estilos musicais e dançantes. Há várias artistas pop que estão incorporando a Dança do Ventre (no caso, a Fusão Oriental) em suas apresentações e melodias. Um bom exemplo disso é Shakira, que, sempre que pode, demonstra sua habilidade nessa dança em cima do palco ou em videoclipes.
Se você se interessou por essa modalidade de dança, não deixe de praticá-la. Ela ainda proporciona inúmeros benefícios para a saúde física e mental. A Dança do Ventre ajuda, por exemplo, a tonificar a musculatura, perder a barriga, fortalecer o ventre, a corrigir a postura corporal e a estimular o sistema digestivo. Além disso, essa modalidade trabalha com a sensualidade da mulher e desenvolve a autoestima e a autoconfiança das dançarinas. E fora que é uma dança linda! Pergunte para os homens se eles não acham sexy uma apresentação de Dança do Ventre.
Finalizado esse post, já começo a pensar no próximo. Não posso deixar a coluna Dança tanto tempo sem novos conteúdos. Sobre o que eu poderia falar em julho no Bonas Histórias, hein?! Se alguém tiver alguma sugestão, pode me enviar. Só lembrando que, entre as modalidades dançantes, já tratamos da Dança Moderna e Dança Contemporânea, Ballet Clássico, Dança de Salão, Frevo, Dança Solta, Forró, K-Pop, Dança dos Noivos e Jazz Dance.
Até a próxima!
Dança é a coluna de Marcela Bonacorci, dançarina, coreógrafa, professora e diretora artística da Dança & Expressão. Esta seção do Bonas Histórias apresenta mensalmente as novidades do universo dançante. Gostou deste conteúdo? Não se esqueça de deixar seu comentário aqui. Para acessar os demais posts sobre este tema, clique na coluna Dança. E aproveite também para nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.