Quem está acompanhando essa temporada da coluna Teoria Literária desde o comecinho, já deve ter percebido que estamos chegando à conclusão do Modelo de Análise Estilística de Romances (MAER). O MAER é uma ferramenta de pesquisa acadêmica que permite aos analistas literários investigarem os estilos dos romancistas de uma maneira estruturada, prática e objetiva. No mês passado, por exemplo, apresentamos a terceira etapa desta matriz, a Análise Horizontal. Em setembro, agosto e julho, por sua vez, explicamos, respectivamente, a etapa 2, a Definição Estatística do Estudo, a etapa 1, a Identificação do Tipo de Estudo, e os Elementos Constituintes do MAER. No post de hoje, vamos debater a Etapa 4 - a Análise Vertical. Essa é a antepenúltima fase do Modelo de Análise Estilística de Romances.
Uma vez realizada a Análise Horizontal de todos os romances da amostra, o analista literário deve colocar as informações coletadas em um grande quadro. Também chamada de quadro geral do MAER, essa matriz tem a propriedade de sintetizar as descobertas feitas até então. Ela deve organizar as principais informações das obras estudadas em categorias. Obviamente, o termo categorias da frase anterior se refere aos elementos da narrativa: o enredo, as personagens, o espaço narrativo, o tempo narrativo, a ambientação, a realidade ficcional, o narrador, a linguagem, o discurso, a textualidade e a tipologia. Assim, será possível comparar romance a romance pela perspectiva de cada um dos onze elementos da narrativa.
A partir da montagem do quadro geral, o analista literário pode iniciar a investigação efetiva da etapa 4 do Modelo de Análise Estilística dos Romances, que é a Análise Vertical. Para fazê-la, o pesquisador deve procurar padrões ou semelhanças de características entre os romances investigados em cada categoria. Uma forma interessante para melhorar essa análise é fragmentar o quadro geral em vários quadros específicos ou monotemáticos. Veja, a seguir, alguns exemplos dessa divisão.
Através da Análise Vertical, é possível descobrir, por exemplo, que a maioria dos romances de Machado de Assis possui narradores que dialogam diretamente com o leitor. Nas obras do japonês Haruki Murakami, as personagens principais são normalmente indivíduos solitários, melancólicos, sem muitos amigos e com quase nenhuma relação com a família. Quando comparamos a linguagem dos livros de João Guimarães Rosa, encontramos em todos eles a presença de neologismos. Na literatura da francesa Régine Deforges, um elemento fundamental da narrativa é o erotismo de suas personagens femininas. E em Jorge Amado, o espaço em que as tramas ocorrem tradicionalmente é a Bahia.
Esses elementos podem ser considerados, portanto, aspectos característicos dos estilos literários desses autores, porque aparecem de maneira objetiva em todos, em quase todos ou na maioria de seus romances.
Vejamos um caso mais concreto. Ao comparar os protagonistas dos romances de Rubem Fonseca, chegamos aos seguintes quadros:
Ao fazermos a Análise Vertical dos romances de Rubem Fonseca, percebemos que seus protagonistas são sempre anti-heróis. E eles possuem como características preponderantes o fato de serem homens bonitos, hedonistas, viciados em sexo, mulherengos, mentirosos, amantes das artes e propensos à violência e ao crime.
A função da Análise Vertical é encontrar pontos convergentes entre as obras, elemento a elemento. Quando semelhanças aparecem aos olhos do analista literário, é possível decretar a descoberta de uma característica própria do autor investigado.
Em dezembro, a coluna Teoria Literária trará a penúltima etapa do MAER, a Análise Transversal. E em janeiro de 2021, apresentaremos a última etapa, a Conclusão do Estudo. Não perca as partes finais do debate sobre o Modelo de Análise Estilística dos Romances no Bonas Histórias!
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