Li, nesta semana, “Meu País Inventado” (Bertrand Brasil), o quarto livro de Isabel Allende do Desafio Literário de outubro. Esta obra é classificada formalmente como as memórias da escritora chilena. Lendo essas linhas, um fã mais atento (e crítico) poderá reclamar: mais uma autobiografia de Allende, né?! O comentário ácido faz, à princípio, todo o sentido. “Paula” (Bertrand Brasil), publicado oito anos antes, tinha essa mesma característica/função. Naquela primeira narrativa biográfica, a autora, uma das principais figuras da literatura contemporânea em língua espanhola, descrevia de maneira sublime sua trajetória pessoal, familiar e profissional. Não à toa, “Paula” é um dos títulos mais famosos e emocionantes de Isabel Allende até hoje.
Então, “Meu País Inventado” é um livro sem muitas novidades para quem já leu a obra de memórias anterior, certo? Errado! Confesso que eu tinha a expectativa, no início desta leitura, de me deparar com um texto repetitivo e com um conteúdo sem grandes atrativos. Entretanto, Isabel Allende soube construir um relato inteiramente novo e com um viés completamente diferente de “Paula”. Em “Meu País Inventado”, a escritora explica o que representa para ela ser chilena e descreve as características típicas de quem possui essa nacionalidade. Assim, mais do que uma publicação de memórias (biografia), “Um País Inventado” adquire o tom de crônica de um país (o Chile). Sob este novo ponto de vista, este título é impecável e extremamente original.
Publicado em 2003, “Meu País Inventado” nasceu da necessidade pessoal de Isabel Allende de se posicionar sobre sua condição de imigrante. Depois de fugir do Chile, em 1975, quando o Golpe Militar comandado por Augusto Pinochet se tornava cada vez mais violento (ainda mais para alguém com o sobrenome Allende), ela se exilou na Venezuela por 13 anos. Na sequência, foi morar nos Estados Unidos ao lado do segundo marido. Portanto, Isabel nunca mais voltou a viver em seu país natal, mesmo após o restabelecimento da democracia (e o fim do Estado policialesco). Atualmente, a escritora apenas visita o Chile uma ou duas vezes por ano. Em outras palavras, seu retorno é pontual e com um caráter de passeio/lazer.
Nesse interminável ir-e-vir, Isabel Allende sempre se interroga: o que significa ser chilena? O que implica viver tanto tempo distante da terra em que cresceu e em que se formou adulta e mulher? E quais as diferenças culturais, sociais, políticas e geográficas desta nação andina? Essas três questões de ordem pessoal se transformaram também nos pontos centrais deste livro. Mais do que uma viagem pela história de vida da autora, “Meu País Inventado” permite ao leitor fazer uma jornada até o lugar onde Isabel Allende passou boa parte de sua infância e juventude. Não dá para entendermos exatamente quem é uma pessoa sem compreendermos primeiramente as características de sua família e de seus conterrâneos. Se “Paula” é a biografia mais formal e convencional de Allende, “Meu País Inventado” pode ser visto como uma publicação autobiográfica mais informal e menos convencional. Mesmo assim, eu prefiro enxergar este título como uma grande crônica da autora sobre o que é ser chileno(a).
Este livro começa com Isabel Allende explicando o motivo de ter voltado a produzir um texto autobiográfico. Segundo suas palavras, esta obra foi a maneira encontrada para encarar a idade que avançava rapidamente e, ao mesmo tempo, discutir um tema central do seu trabalho ficcional, o saudosismo. Como uma exímia narradora, ela faz essa justificativa de um jeito velado – a partir de um comentário do neto e de uma pergunta de alguém em uma palestra. Veja:
"Dois acontecimentos recentes desencadearam esta epidemia de recordações. O primeiro foi uma observação ocasional do meu neto Alejandro, o qual me surpreendeu a esquadrinhar diante do espelho o mapa das minhas rugas e disse, compassivo: “Não te preocupes, velha, vais viver pelo menos mais três anos”. Decidi nesse momento que tinha chegado a hora de olhar a minha vida de modo diferente, para averiguar como desejo conduzir esses três anos que tão generosamente me foram concedidos. O outro acontecimento foi a pergunta de um desconhecido durante uma conferência de escritores (...). Quando terminei o meu breve discurso, levantou-se um braço no meio do público e um jovem perguntou-me qual o papel da nostalgia nos meus romances. Fiquei momentaneamente sem palavras. Nostalgia... segundo o dicionário é “a dor de estar ausente da pátria, a melancolia provocada pela recordação de uma felicidade perdida”. A pergunta cortou-me a respiração, porque até esse instante não me tinha dado conta de que escrevo como um exercício constante de saudade. Fui estrangeira durante quase toda a minha vida, condição que aceito porque não tenho alternativa. Várias vezes me vi forçada a partir, rompendo laços e deixando tudo para trás, para começar de novo em outro lugar; fui peregrina por mais caminhos do que os que a memória me consente. De tanto me despedir secaram me as raízes e tive de gerar outras que, à falta de um lugar geográfico onde se fixarem, o fizeram na memória; mas, cuidado!, a memória é um labirinto onde espreitam minotauros (...). Essas duas perguntas, a do meu neto e a do desconhecido na conferência, deram origem a este livro, que ainda não sei para onde irá; por enquanto divago, como sempre divagam as recordações, mas peço ao leitor que me acompanhe mais um pouco”.
A partir daí, Isabel Allende constrói seu relato em três níveis distintos: (1) crônicas do que é ser chileno; (2) cenas e passagens de familiares que foram importantes para a autora (avô materno, avó materna, padrasto, mãe e filhos, por exemplo); e (3) sua descrição autobiográfica. De alguma forma, as duas últimas facetas dialogam intimamente com a primeira e vice-versa. É como se a história chilena, a constituição geográfica deste país e as características socioculturais do Chile definissem a trajetória pessoal e profissional de Isabel, além de formarem grande parte de sua personalidade. Veja um pouco dessa característica no próprio texto do livro:
“Um pouco de história - E porque falamos de nostalgia, suplico ao leitor que tenha um pouco de paciência, pois não posso separar o tema Chile da minha própria vida. O meu destino é feito de paixões, surpresas, êxitos e perdas; não é fácil contá-lo em duas ou três frases. Suponho que em todas as vidas humanas há momentos nos quais a sorte muda ou o rumo se desvia e há que partir em outra direção. Na minha isso ocorreu diversas vezes, mas um dos acontecimentos mais definitivos deve ter sido o golpe militar de 1973. Se não fosse este evento, certamente que eu nunca teria emigrado do Chile, não seria escritora e não estaria casada com um americano a viver na Califórnia; tão pouco me acompanharia esta imensa nostalgia e hoje não estaria a escrever estas páginas. E assim me dirijo inevitavelmente ao tema da política. Para entender como ocorreu o golpe militar, devo referir-me brevemente à nossa história política, desde os começos até ao general Augusto Pinochet, que hoje é um avô senil em prisão domiciliar, mas cuja importância não é possível ignorar. Não faltam historiadores que o consideram a figura política mais singular do século, o que não é, necessariamente, um juízo favorável (...)”.
“Quando vou de férias tenho de confrontar o Chile real com a imagem sentimental que transportei durante vinte e cinco anos. Dado que vivi no estrangeiro durante um período tão longo tenho a tendência para exagerar as virtudes e para esquecer os traços desagradáveis do caráter nacional. Esqueço a arrogância e a hipocrisia da classe alta; esqueço quão conservadora e machista é a maior parte da sociedade; esqueço a esmagadora autoridade da Igreja católica. Espantam-me o rancor e a violência alimentados pela desigualdade; mas também me comovem as coisas boas, que apesar de tudo não desapareceram, como essa familiaridade imediata com que nos relacionamos, a forma carinhosa de nos saudarmos com beijos, o humor retorcido que sempre me faz rir, a amizade, a esperança, a simplicidade, a solidariedade na desgraça, a simpatia, a coragem indomável das mães, a paciência dos pobres. Arquitetei a ideia do meu país como um quebra-cabeças, escolhendo aquelas peças que se ajustam ao meu desenho e ignorando as outras. O meu Chile é poético e pobrezinho, por isso rejeito as evidências dessa sociedade moderna e materialista, onde o valor das pessoas se mede pela riqueza bem ou mal adquirida, e insisto em ver por todo o lado sinais do meu país de antes. Também criei uma versão de mim mesma sem nacionalidade ou, melhor dito, com múltiplas nacionalidades. Não pertenço a um território, mas a vários, ou talvez só exista no âmbito da ficção que escrevo. Não pretendo saber quanto da minha memória são fatos verdadeiros e quanto inventei, porque a tarefa de traçar a linha entre ambos me ultrapassa. A minha neta Andrea escreveu uma composição para a escola na qual disse: “Gostaria de ter a imaginação da minha avó”. Perguntei-lhe ao que se referia e respondeu sem vacilar: “Tu lembras-te de coisas que nunca aconteceram (...)”.
“A escrita, ao fim e ao cabo, é uma tentativa de compreender as circunstâncias próprias e clarificar a confusão da existência, inquietudes que não atormentam as pessoas normais, só os inconformistas crônicos, muitos dos quais acabam convertidos em escritores depois de terem fracassado em outros ofícios. Esta teoria tirou-me um peso de cima: não sou um monstro, há outros como eu. Nunca vesti em parte alguma, nem na família, a classe social ou a religião que me tocaram em sorte; não pertenci aos bandos que andavam de bicicleta pela rua; os primos não me incluíam nas suas brincadeiras; era a moça menos popular do colégio e depois fui durante muito tempo a que menos dançava nas festas, mais por ser tímida do que por ser feia, prefiro supor. Fechava-me na capa do orgulho, fingindo que não me importava, mas teria vendido a alma ao Diabo para ser do grupo, se por acaso Satanás se tivesse apresentado com uma proposta tão atrativa. A raiz do meu problema foi sempre a mesma: incapacidade de aceitar o que a outros parece natural e uma tendência irresistível para emitir opiniões que ninguém deseja ouvir, o que afugentou alguns potenciais pretendentes. (Não quero ser convencida, nunca foram muitos.) Mais tarde, durante os meus anos de jornalista, a curiosidade e o atrevimento tiveram algumas vantagens. Pela primeira vez fiz então parte de uma comunidade, tinha carta de alforria para fazer perguntas indiscretas e divulgar as minhas ideias, mas isso acabou bruscamente com o golpe militar de 1973, que desencadeou forças incontroláveis. Da noite para o dia vi-me estrangeira na minha própria terra, até que finalmente tive de partir, porque não podia viver e criar os meus filhos num país onde imperava o medo e onde não havia lugar para dissidentes como eu. Nesse tempo a curiosidade e o atrevimento estavam proibidos por decreto. Fora do Chile esperei durante anos que se reinstalasse a democracia para regressar, mas quando isso aconteceu não o fiz, porque estava casada com um norte-americano, a viver perto de São Francisco. Não voltei a residir no Chile, onde na verdade passei menos de metade da minha vida, embora o visite com frequência; mas para responder à pergunta daquele desconhecido sobre a nostalgia, devo limitar-me quase exclusivamente aos anos que lá vivi”.
“Meu País Inventado” é um livro de 238 páginas. Em extensão, ele é o menor das seis obras de Isabel Allende que estamos analisando no Bonas Histórias neste mês. Normalmente, os títulos da chilena têm mais de 400 páginas. A estrutura de “Meu País Inventado” é quase de um texto corrido. Não há qualquer divisão em capítulos. Dessa forma, a sensação que temos é de estar diante de uma conversa ininterrupta com a autora. Levei em torno de cinco horas para concluir esta leitura. Praticamente, li a obra inteira em duas sentadas. Comecei o livro na manhã do feriado de segunda-feira, 12 de outubro, e logo depois do almoço já tinha chegado à sua última página.
O primeiro aspecto que chama atenção neste livro é o bom humor (diria ótimo humor!). Allende apresenta seu relato de um jeito sincero, desbocado e alegre. Até mesmo as desgraças e as fatalidades são comentadas comicamente. O tom é, portanto, de tragicomédia. A maneira como Isabel fala de seu país e de seus conterrâneos, além de apontar passagens autobiográficas, demonstra uma grande coragem e ousadia. Ela não tem medo de olhar para o mundo e dizer o que está vendo/interpretando. Essa pegada bem-humorada é o oposto de “Paula”, um texto evidentemente sombrio e com uma carga negativa absurda (afinal, ele foi produzido no instante em que a filha da escritora estava em coma no hospital).
Outro ponto essencial de “Meu País Inventado” é o debate, cada vez mais atual e necessário, sobre a questão da imigração. Isabel Allende, queiramos ou não, é uma pessoa que padeceu/padece no exílio. Ela teve de deixar sua terra natal em função de conflitos políticos. E essa ausência prolongada do Chile, curiosamente, não começou em sua vida adulta. Desde criança, ela precisou viver em diferentes lugares - seu pai e, depois, seu padrasto eram diplomatas. Não por acaso, Isabel nasceu no Peru (apesar de ter nacionalidade chilena). E ainda menina, viveu na Bolívia e no Líbano (coisas de um mundo cada vez mais globalizado).
Esse tipo de orfandade (que chamo de orfandade nacional) acarreta problemas, inquietações e dores que demoram para serem cicatrizadas. Lembro-me, por exemplo, do drama de Fernando Meligeni, descrito em “Aqui Tem!” (Ediouro) por André Kfouri, que era visto como argentino no Brasil e brasileiro na Argentina. Entender o quão dolorido é para alguém deixar seu país, independentemente da classe social e o êxito profissional futuro, é algo que merece ser analisado adequadamente (algo que a autora se compromete a fazer e faz muito bem). Outro livro que fala deste assunto de forma bem-humorada e de um jeito muito inteligente é "A Extraordinária Viagem do Faquir que Ficou Preso em um Armário Ikea" (Record), romance do francês Romain Puértolas.
Assim, Isabel Allende discute, em “Meu País Inventado”, como é viver como uma norte-americana (ela mora em São Francisco, na Califórnia), mas tendo a essência de uma típica chilena (algo que não pode mudar). Os vários choques culturais provocados por esta condição rendem ótimas reflexões. Uma das mais interessantes é o contraponto do 11 de setembro para chilenos e norte-americanos. Enquanto para os sul-americanos a maior tragédia ocorrida nesta data se deu em 1973 (Golpe Militar), para os vizinhos do norte ela se deu em 2001 (atentado terrorista da Al-Qaeda).
“Meu País Inventado” é, como já falei, muito mais um retrato histórico, social, político e cultural do Chile do que um livro exclusivamente de memórias. Sua beleza e graça residem justamente desta característica híbrida. Allende, a partir de sua experiência de vida e das vivências dos seus familiares, conta o que caracteriza ser um(a) chileno(a) e o que define este país andino. Para ela, seus conterrâneos são tradicionalmente: reclamões, violentos, preconceituosos, machistas, elitistas, religiosos, ufanistas, generosos, apegados à família, vaidosos, apaixonados, carinhosos, com uma quedinha pela infidelidade conjugal, pudicos, conservadores em público e progressistas no âmbito privado, tímidos, recatados, místicos, orgulhosos, sérios, sóbrios, modestos, simples, adoradores da burocracia e das leis, hospitaleiros, selvagens no trânsito, solenes, com humor negro (daquele politicamente incorreto), admiradores dos ingleses e com alma poeta.
Por falar em alma poeta, é nítida a admiração de Isabel Allende por Pablo Neruda, um dos principais escritores latino-americanos de todos os tempos. E essa admiração vai muito além do orgulho pela conquista do Nobel de Literatura. Afinal, Gabriela Mistral também venceu a maior honraria literária, mas nunca despertou metade da paixão que os chilenos têm pelo seu colega. Isabel e seus conterrâneos enxergam nos versos de Neruda algumas características intrínsecas do seu povo: dedicação intensa aos desmandos do coração, admiração pela natureza exuberante do país e visão idílica e poética da vida.
O mais legal desta narrativa de Allende é que caminhamos pela história chilena enquanto assistimos às desventuras pessoal e familiar da escritora. As três facetas de “Meu País Inventado” (coletiva, familiar e pessoal) estão embaralhadas na maior parte do tempo. Muitas vezes, um mesmo episódio apresenta intrínsecas relações entre essas três pontas narrativas. E isso é feito de uma maneira serena e verossímil. Não há exageros e ufanismos aqui. O texto do livro de Isabel Allende é coerente e está no tom certo. À título de comparação, essas características não estão presentes, por exemplo, em “Confesso que Vivi” (Difel), o livro de memórias de Pablo Neruda. A sensação ao ler a autobiografia do poeta é de estarmos acompanhando o relato de um Forest Gump sul-americano.
Gostei também do posicionamento da autora em relação ao feminismo. Allende apresenta o machismo da sociedade chilena de maneira nua e crua, sem aliviar nem exagerar. Seu feminismo é do tipo inteligente e lúcido. Seu texto é mais parecido ao excelente e instigante “Um Teto Todo Seu” (Tordesilhas), de Virginia Woolf, do que os cambaleantes e pueris “Sejamos Todos Feministas” (Companhia das Letras) e “Para Educar Crianças Feministas” (Companhia das Letras), de Chimamanda Ngozi Adichie.
“Meu País Inventado” é um ótimo livro, tanto para quem já leu “Paula” quanto para quem ainda não o leu. Em termos biográficos, contudo, ele é inferior ao primeiro título de memórias da autora. Mesmo com o excelente texto e com a pegada de crônicas, ainda sim esta obra possui dois pontos negativos. Em primeiro lugar, recebemos pouquíssimas novidades autobiográficas. De certa forma, o que Isabel Allende tinha de importante para nos contar sobre seu passado e sobre seu trabalho ficcional, ela o fez em “Paula”. Por isso, a sensação de déjà vu.
As únicas notas realmente interessantes, para quem leu as memórias anteriores, são: a apresentação dos nomes verdadeiros dos avós maternos (Agustin e Isabel) e do padrasto da escritora (Ramón Huidobro); a explicação sobre a construção de alguns romances de Allende que não tinham sido produzidos quando “Paula” foi lançado (por exemplo, “O Plano Infinito”); a revelação que o avô materno se casou pela segunda vez (algo que até então fora omitido); e a comoção do público e dos jornalistas para conhecer a residência verídica da família que serviu de ambientação para “A Casa dos Espíritos” (Bertrand Brasil).
O segundo (e, talvez, maior) problema de “Meu País Inventado” está nas generalizações feitas por Isabel Allende sobre o que é ser chileno. Apesar de interessantes e divertidos, esses comentários são baseados única e exclusivamente na experiência pessoal e nas características dos familiares da escritora. A partir daí, ela tece dezenas de comentários sobre seus conterrâneos que, obviamente, não tem muitos fundamentos críveis. Quem pode assegurar efetivamente que a maioria dos chilenos têm amantes? É correto afirmar que toda a população deste país é machista e elitista? E o que dizer, então, que eles adoram tramites burocráticos e são selvagens no trânsito, hein?! É impossível fazer essas afirmações categoricamente.
Se por um lado, essas generalizações possuem um caráter bem-humorado e estão devidamente explicadas no livro, por outro lado elas escondem meias-verdades. Fiquei imaginando o que eu diria sobre os brasileiros se os fosse definir a partir de minhas experiências pessoais e do perfil dos meus familiares. Pensando bem, acho melhor nem imaginar algo assim! Por isso, não dá para levar as palavras de Isabel Allende ao pé da letra. Em alguns trechos deste livro, ela se parece com aquela tia chata que fica criticando todos os parentes (no caso, os conterrâneos) e as novas gerações (que fazem tudo errado!). Em outros momentos desta leitura, lembrei-me de “O que os Chineses Não Comem” (Companhia das Letras), coletânea de crônicas em que Xinran desce a lenha em seus compatriotas. Porém, “Meu País Inventado” é infinitamente melhor como narrativa do que a obra da chinesa, apesar de ambas as autoras descambarem para as generalizações indevidas.
O Desafio Literário de outubro retornará na próxima quarta-feira, dia 21, com a análise de mais um livro de Isabel Allende. A próxima obra a ser debatida no Bonas Histórias será "Zorro – Começa a Lenda" (Bertrand Brasil). Publicado em 2005, este romance apresenta uma nova perspectiva do trabalho literário da principal escritora chilena da atualidade. Não perca esta nova análise. Até lá!
Gostou da seleção de autores e de obras do Desafio Literário? Que tal o Blog Bonas Histórias? Seja o(a) primeiro(a) a deixar um comentário aqui. Para saber mais sobre as Análises Literárias do blog, clique em Desafio Literário. E não deixe de nos acompanhar nas redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn.