Depois de analisar a literatura de Jack Kerouac (Estados Unidos), em abril, e de Maria José Dupré (Brasil), em maio, o Desafio Literário viajará, neste mês, para o outro lado do planeta. Nosso destino é mais precisamente o Japão. A ideia é debatermos em junho o trabalho artístico de Kenzaburo Oe. Prêmio Nobel de Literatura de 1994, o escritor japonês se destacou na produção de romances, contos, crônicas e ensaios de teor naturalista. Seus títulos abordam invariavelmente questões políticas (democracia, armas nucleares, energia nuclear), sociais (não-conformismo) e filosóficas (existencialismo).
Polêmico e extremamente popular em sua terra natal, Oe é ainda hoje uma das principais vozes da literatura contemporânea. Sua obra-prima é “Uma Questão Pessoal” (Companhia das Letras), romance com elementos autobiográficos sobre um professor de inglês que tem um filho com problemas cerebrais. Esse livro também foi publicado em língua portuguesa com um nome diferente: “Não Matem o Bebê”. Outro texto seu marcante foi “Notas Sobre Hiroshima”. Nesse ensaio crítico de 1965, o autor debate o lançamento da bomba atômica pelos Estados Unidos em Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao falar de Kenzaburo Oe, vale a pena comentar que o Naturalismo foi a principal corrente literária do Japão no século XX. Além de Oe, esse movimento teve a participação de Yasunari Kawabata, outro japonês vencedor do Nobel de Literatura, Shimazaki Toson, Akutagawa Ryunosuke, Junichiro Tanizaki, Mori Ogai, Natsume Soseki, Yukio Mishima e Abe Kobo. O naturalismo japonês teve forte influência da literatura ocidental, principalmente das ficções francesa e norte-americana, e se caracterizou pelo retrato da realidade de maneira nua e crua (em oposição ao mundo fantástico e místico da literatura do século XIX).
Kenzaburo Oe possui atualmente 85 anos. Ele nasceu em Ose, um pequeno povoado montanhoso da Ilha de Shikoku, ao sul do arquipélago japonês. Se antigamente Shikoku foi um centro pesqueiro simplório, hoje é um dos principais destinos turísticos do país. Kenzaburo ficou órfão do pai no final da Segunda Guerra Mundial. O patriarca dos Oe era combatente do Império japonês e morreu no campo de batalha. Criado apenas pela mãe desde os nove anos, o futuro escritor só saiu de Ose pela primeira vez aos 19 anos, quando se mudou para Tóquio, em 1954, para fazer faculdade. Na capital do país, o rapaz tímido, amável e de óculos redondos e de lentes grossas se formou em Licenciatura em Literatura Francesa.
A estreia de Kenzaburo Oe na literatura aconteceu em 1957 com a publicação de contos em revistas literárias. Já em 1958, ele conquistou o Prêmio Akutagawa, um dos principais do Japão, com seu primeiro romance, “A Captura” (Luna). Nessa obra, Oe retrata o drama de uma região simples e subdesenvolvida do interior do Japão. Sob o olhar de uma criança, assistimos à surpreendente chegada de um soldado inimigo. Em plena Segunda Guerra Mundial, seu avião caiu na área montanhosa do país e ele foi feito prisioneiro pela comunidade local.
Seu livro mais famoso, “Uma Questão Pessoal”, foi publicado em 1964. É na segunda metade da década de 1960, já professor de literatura na Universidade de Tóquio, que Kenzaburo Oe se consolida como um escritor de primeira linha no Japão. Ele conquistou o Prêmio Tanizaki, um dos mais importantes do país, em 1967, por “Um Grito Silencioso” (Francisco Alves). Nesse romance emblemático, o autor aborda o drama de um acadêmico obcecado com o passado de sua família.
Nas décadas seguintes, Kenzaburo Oe continuou publicando seus romances e suas coletâneas de contos e de crônicas. Das narrativas curtas, podemos destacar “Jovens de um Novo Tempo, Despertai!” (Companhia das Letras), conjunto de sete crônicas em que expõe aspectos de sua vida pessoal e de sua formação como literato, e “14 Contos de Kenzaburo Oe” (Companhia das Letras), material que abrange suas historietas escritas entre 1957 e 1990. A partir do final dos anos 1960, Oe também acrescentou ao seu portfólio os ensaios críticos. Nessa nova categoria textual, o autor japonês aborda de maneira direta e ácida as questões mais espinhentas do cenário político-social de sua nação. Não à toa, esses são seus materiais mais polêmicos até hoje.
Para englobar todas as facetas da ficção de Kenzaburo Oe, selecionei seus principais romances e coletâneas de contos e de crônicas para análise. Assim, em junho, vou ler e comentar os seguintes títulos:
- 5 de junho - “A Captura” (1958) - novela/romance
- 9 de junho - “Uma Questão Pessoal” (1964) - romance
- 13 de junho - “O Grito Silencioso” (1967) - romance
- 17 de junho - “Jovens de um Novo Tempo, Despertai!” (1983) - coletânea de crônicas
- 21 de junho - “14 Contos de Kenzaburo Oe” (1957/1990) - coletânea de contos
- 29 de junho - Análise Literária de Kenzaburo Oe
Portanto, o primeiro livro do Desafio Literário de Kenzaburo Oe que vamos discutir no Bonas Histórias é seu romance de estreia, “A Captura” (Luna). O post com a análise desta obra será publicado na próxima sexta-feira, dia 5. Boa leitura a todos!
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