O mercado editorial brasileiro vive uma crise sem fim. Quem acompanha regularmente a coluna Mercado Editorial do Bonas Histórias já está familiarizado com este drama. De 2013 para cá, o setor sofreu uma queda vertiginosa. Neste período, de 30% a 40% do seu faturamento desapareceram. Como consequência, inúmeras livrarias e editoras precisaram fechar as portas. O pior é que o fundo do poço parece estar longe de ser atingido. Aí está a péssima novidade das últimas semanas. Para quem pensava que o cenário de história de terror não podia ficar mais dramático, saiba que o enredo do mercado editorial nacional ganhou agora tons de trama apocalíptica.
Com o recente caos socioeconômico provocado pelo surto do coronavírus (Covid-19), há quem estime uma nova e expressiva queda nas receitas. E o que já era ruim deverá ficar ainda pior. Se a economia nacional deverá cair até 5% neste ano (maior depressão dos últimos cinquenta anos, superando as quedas provenientes da crise de 2014, de 2008, de 2000, de 1990 e de 1981), o mercado editorial deverá ter um decréscimo de dois dígitos. As previsões mais pessimistas apontam para inacreditáveis 70% de queda em 2020. 70%?! Sim, você leu direito. Há quem calcule um recuo de quase três quartos do faturamento de 2019 para este ano. Como isso é possível?!
A explicação para essa deterioração acentuada do quadro setorial passa pela situação das duas maiores redes de livrarias do país: a Saraiva e a Cultura. Se elas entraram em 2020 em situação de recuperação judicial, é dado como quase certo de que ambas as livrarias vão falir nos próximos meses. Na semana passada, elas suspenderam o pagamento de fornecedores por tempo indeterminado. Ou seja, o cheirinho de calote geral ficou mais forte. Com a derrocada definitiva da Saraiva e da Cultura, muitas editoras de grande e médio porte deverão ter suas operações inviabilizadas (principalmente aquelas que concentravam suas vendas nas duas redes). Assim, a tempestade que já se mostrava grave ficou desta vez caótica.
O mais triste é que a crise financeira do mercado livreiro não é uma exclusividade da Saraiva e da Cultura. Muitas livrarias, grandes, médias e pequenas por todo o Brasil, também lutam para sobreviver há alguns anos. Hoje, estima-se que 45% das vendas de livros no país ocorra pelo comércio eletrônico (o que afeta diretamente a operação física das livrarias). Com a paralização total das vendas nas últimas semanas, a maioria das lojas físicas de livros não conseguirá honrar suas pendências financeiras.
A Livraria Martins Fontes, por exemplo, já comunicou ao mercado a suspensão de parte de seus pagamentos aos fornecedores. As grandes editoras, responsáveis por 70% do faturamento da rede, precisarão negociar o recebimento dos produtos consignados (praxe do setor). Apenas as editoras menores, responsáveis por 30% da receita da livraria, estão recebendo normalmente. Pelo menos até agora.
Com este cenário desolador, as editoras brasileiras já se preparam para o pior. Afinal, a bola de neve que desce a montanha tende a ficar cada vez mais volumosa e perigosa. Sem receber, as editoras devem ter dificuldades para pagar seus autores, profissionais do setor (revisores, editores, ilustradores, capistas, ghost writers, etc.), gráficas e demais parceiros. Não à toa, novos lançamentos foram cancelados e a maioria dos projetos editoriais até então em andamento foi paralisado.
O pessimismo é geral. Muitos executivos e empresários do setor acham que muitas empresas não sobreviverão a esses dias difíceis. O coronavírus jogou, querendo ou não, uma pá de cal em um segmento da economia que caminhava há anos de forma moribunda. Uma pena!
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