Na semana retrasada, fui ao Centro Cultural Fiesp da Avenida Paulista para ver a exposição “Olá, Maurício!”. Inaugurada em julho, a mostra faz uma homenagem às seis décadas de carreira de Maurício de Sousa, o criador da Turma da Mônica e um dos cartunistas mais famosos e carismáticos do Brasil. Para se ter uma ideia da dimensão do trabalho deste artista, a Maurício de Sousa Produções (MSP), empresa fundada pelo ilustrador, representa mais de 80% do mercado brasileiro de quadrinhos. Com 400 funcionários em sua sede na Lapa de Baixo, bairro da zona oeste da cidade de São Paulo, a MSP é um dos maiores estúdios de Histórias em Quadrinhos (HQ) do mundo. A empresa produz mensalmente mais de 1.500 páginas inéditas. É um volume admirável.
Das pranchetas de Maurício de Sousa (e, por consequência, da MSP), nasceram mais de 500 personagens que coloriram revistas ilustradas, desenhos animados, filmes, animações, aplicativos para celular, canais no Youtube, parques de diversões e incontáveis produtos e serviços que não sou capaz de lembrar agora. Só de artigos licenciados são mais de 3.500. Muitas dessas personagens se tornaram ícones culturais do Brasil. São o caso de Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento e Bidu, que permanecem no imaginário coletivo de gerações e gerações de brasileiros. Não à toa, Maurício de Sousa é membro da Academia Paulista de Letras desde 2011.
A curadoria de “Olá, Maurício!” é de Jacqueline Mouradian, funcionária de longa data da Maurício de Sousa Produções. Logo na entrada da exposição, o visitante conhece a primeira tirinha publicada pelo ilustrador. Em julho de 1959, o jornal Folha de São Paulo veiculou uma historinha de Maurício de Sousa com o simpático cachorrinho Bidu. Era o início de uma carreira fértil e duradoura do mais famoso cartunista infantil do nosso país. Para conferir as demais personagens da Turma do Bidu, o participante da mostra entra em uma rua do bairro do Limoeiro, cenário das aventuras dos animais de estimação de Maurício.
À medida que avança na exposição, o visitante conhece os cenários e os protagonistas das principais tramas do artista. Estão ali a Turma da Mônica (não poderia faltar, né?), a Turma do Chico Bento (meu personagem favorito!), Horácio (sempre tive um carinho especial por ele, pois meu pai tem o mesmo nome do dinossauro), a Turma do Penadinho, a Turma do Piteco, o Astronauta... É tanta gente que ficamos de queixo caído. Sinceramente, a maioria das criações de Maurício de Sousa eu já tinha esquecido (e foi ótimo relembrá-las).
Em “Olá, Maurício!”, cada grupo de personagens possui um espaço exclusivo, onde são apresentadas as evoluções dos desenhos, os cenários das aventuras, as biografias fictícias dos protagonistas e algumas características peculiares dos principais integrantes de cada turminha. Essa setorização tem a capacidade de escancarar a amplitude e a profundidade do trabalho de Maurício de Sousa ao longo dos anos, além de evidenciar a genialidade do artista. Não é preciso dizer que o público fica encantado com a riqueza de materiais expostos na mostra. Na sequência, assistimos às produções mais contemporâneas do cartunista: a Turma da Mônica Jovem e Chico Bento Moço, dois grandes sucessos recentes da MSP.
Terminada a fase de categorização do portfólio, “Olá, Maurício!” apresenta detalhes da vida e da carreira de Maurício de Sousa. São mostradas, por exemplo, cópias originais das ilustrações do artista e fotos de momentos marcantes de sua trajetória profissional. Há também uma réplica do escritório onde Maurício produziu suas histórias e os vários prêmios nacionais e internacionais por ele conquistados.
Já na parte final da exposição, vemos telas com paródias de clássicos da pintura universal. Essa seção é chamada de “Histórias em Quadrões”. Ao invés das personagens originais, esses quadros estampam as criações de Maurício de Sousa. Assim, Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão ocupam o cenário até então destinado às figuras célebres da arte. Incrível este tipo de releitura! Para mim, essa parte é disparada a mais divertida de “Olá, Maurício!”. Por fim, podemos ver a mesma técnica de releitura em esculturas. As mais famosas peças da história da arte agora possuem uma versão com o protagonismo das figuras carismáticas de Maurício de Sousa. Hilário!
A experiência de visitação não acaba quando o participante da mostra sai de “Olá, Maurício!”. Assim que entramos no espaço, recebemos um gibi contendo a segunda historinha do mais novo integrante da Turma da Mônica: Edu. Sim, Maurício de Sousa não para de criar novas personagens! É muita vitalidade para um senhor que já passou dos 80 anos. Incrível! Voltemos, porém, a historinha do gibi que ganhamos no início da exposição...
Edu é um garoto de nove anos de idade que possui uma doença rara, a Distrofia Muscular de Duchenne (mais conhecida pela sigla DMD). A enfermidade tem causas genéticas e se caracteriza pela perda progressiva de força muscular nos braços e nas pernas. Ou seja, a previsão é que Edu precise usar cadeira de rodas no futuro. A trama desta história em quadrinhos apresenta este drama e, ao mesmo tempo, a compreensão dos amigos de Edu durante um passeio ao zoológico. Aí surgem as principais criações de Maurício de Sousa: Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão. Curiosamente, neste enredo o quarteto exerce papel secundário. Fui lendo a HQ no caminho de volta para casa (fui de metrô).
É legal notar que a exposição foi criada pensando na mania dos participantes em querer fotografar seu passeio. Por isso, há vários cenários desenvolvidos especificamente para os cliques dos visitantes. Se por um lado esse expediente torna a mostra mais interativa, por outro ela provoca alguns atrasos no fluxo interno das pessoas pelos ambientes. Nos dias mais calmos tudo bem, mas nos dias mais agitados temos um problema sério...
Por falar nisso, quem se assustou com as filas intermináveis da mostra nos dois primeiros meses em cartaz (julho e agosto), a boa notícia é que agora está muito mais tranquilo para conferi-la. Durante a semana quase não há visitantes em “Olá, Maurício!” e aos finais de semana o volume de pessoas é aceitável (para quem está acostumado com a dinâmica da cidade de São Paulo). Esse é justamente o motivo para eu não ter ido antes à exposição. Admito que fiquei aterrorizado com o tamanho da multidão que rumou ao Centro Cultural Fiesp nas primeiras semanas de “Olá, Maurício!”. Naquele momento, posso dizer que era quase impossível caminhar pelos corredores da mostra. Agora, não: tudo está sossegado e a experiência de visitação voltou a ser extremamente agradável.
A exposição “Olá, Maurício!” permanecerá em cartaz até o dia 15 de dezembro no Espaço de Exposições do Centro Cultural Fiesp. A entrada é franca, a classificação é livre e os textos descritivos das obras são bilíngues (versão em português e em inglês). Reserve ao menos uma hora para realizar o passeio com a atenção que ele merece. A visitação é possível das terças-feiras aos sábados das 10h às 22h e aos domingos das 10h às 20h. O Centro Cultural Fiesp fica localizado na Avenida Paulista, 1313. “Olá, Maurício!” é apresentado no subsolo do prédio, em frente ao Teatro Fiesp.
Este é o tipo de programa imperdível para quem mora em São Paulo ou para quem está de visita à capital paulista. O mais legal é que este passeio é interessante para todas as idades. No dia em que fui a “Olá, Maurício!”, o público era bem eclético. Havia crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Todos pareciam encantados com a experiência de mergulhar nos bastidores da Turma da Mônica. A sensação que tive é de que as personagens de Maurício de Sousa fazem parte da vida de quase todos os brasileiros. Assim, a visitação à exposição torna-se um passeio familiar (as personagens da Turma da Mônica e as demais criações de Maurício são quase que integrantes informais das nossas famílias). Emocionante perceber isso.
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