Um dos maiores sucessos da carreira de Roberto Carlos completa, em 2019, 50 anos. A música em questão é “Nas Curvas da Estrada de Santos”, a principal faixa do décimo primeiro álbum do cantor capixaba. Criada, em 1969, por Roberto e Erasmo Carlos, a canção foi gravada naquele mesmo ano pelo Rei. Para completar a trajetória da agora cinquentona, ela integrou a trilha sonora do filme “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa” (1970), uma das maiores bilheterias do cinema nacional até hoje.
Em termos de relevância histórica e musical, “Nas Curvas da Estrada de Santos” só perde para “Detalhes” como a principal criação de Roberto Carlos. Eu, pessoalmente, sou muito mais fã de “Detalhes” do que “Nas Curvas da Estrada de Santos”. Porém, é inegável a força desta música. Atualmente, ela é pedida obrigatória nos shows e nos especiais de fim de ano do cantor. É impensável ouvir uma boa coletânea do Rei e não ter entre as faixas a melancólica e angustiante viagem em alta velocidade pela estrada que liga São Paulo à Baixada Santista.
O álbum de 1969 dá início a fase mais madura de Roberto Carlos. No final dos anos 1960, ele foi, pouco a pouco, deixando para trás muitas das características da Jovem Guarda. Isso se acelerou quando ele deixou o programa semanal na TV Record e se distanciou dos colegas que integravam esse movimento musical.
Neste disco, Roberto inova ao incorporar em seu repertório alguns elementos típicos do soul e do funk. Curiosamente, “Nas Curvas da Estrada de Santos” é uma das músicas mais Jovem Guarda do LP. Ao lado de “Do Outro Lado da Cidade” e “Não Adianta”, ela revive um pouco a fase precedente do músico.
Veja a letra desta canção:
Nas Curvas da Estrada de Santos (1969) – Roberto Carlos e Erasmo Carlos:
Se você pretende
Saber quem eu sou
Eu posso lhe dizer
Entre no meu carro
na Estrada de Santos
E você vai me conhecer
Você vai pensar
Que eu não gosto
Nem mesmo de mim
E que na minha idade
Só a velocidade
Anda junto a mim
Só ando sozinho
E no meu caminho
O tempo é cada vez menor
Preciso de ajuda,
Por favor me acuda
Eu vivo muito só
Se acaso numa curva
Eu me lembro
Do meu mundo
Eu piso mais fundo,
Corrijo num segundo
Não posso parar
Eu prefiro as curvas
da Estrada de Santos
Onde eu tento esquecer
Um amor que eu tive
E vi pelo espelho
Na distância se perder
Mas se amor que eu perdi
Eu novamente encontrar
As curvas se acabam
E na Estrada de Santos
Não vou mais passar
Não, não vou mais passar
Veja a interpretação original de Roberto Carlos:
Muita gente considera que o disco de 1969 representou simbolicamente o fim da Jovem Guarda (período musical também chamado de Iê-iê-iê). Afinal, com a decretação do AI-5 (Ato Institucional Número 5) pelo governo de Artur da Costa e Silva, em dezembro de 1968, ficava difícil para os músicos brasileiros continuarem cantando a futilidade juvenil da classe média (primeiros amores, viagens, festonas, carros e aventuras românticas) como tinha sido feito até então. A partir de 1969, temos o apogeu das músicas de protesto e o início do Tropicalismo. Além disso, com a chegada da década de 1970, Roberto Carlos, nessa altura um homem casado e com filhos, passou a compor e a gravar mais letras românticas. Assim, ele deixava de lado a fase musical do jovem cabeludo, rebelde e namorador e começava a incorporar o homem maduro, responsável e extremamente romântico.
De certa maneira, “Nas Curvas da Estrada de Santos” é uma das últimas músicas de Roberto Carlos com o DNA da Jovem Guarda. Nesta canção, o personagem principal é um jovem solitário e triste que encontra um pouco de adrenalina quando pisa fundo na Estrada de Santos. Os únicos prazeres que tem são dentro do veículo. Depois que foi deixado pela amada, o rapaz vê seu carro como a melhor companhia. E é nas altas velocidades do veículo que ele desafia as amarguras da vida, talvez desejando morrer para aplacar toda a dor que sente ou ansiando encontrar um novo amor que o tire daquela vida perigosa. Nos raros momentos de lucidez, ele grita por socorro.
Essa trinca temática (carro, velocidade e sofrimento amoroso) foi muito abordada por Roberto Carlos e pelos cantores da Jovem Guarda ao longo de toda a década de 1960. De cabeça, por exemplo, lembro-me de “Por isso Eu Corro Demais”, do álbum do próprio Roberto de 1967, e “Rua Augusta”, de 1963, o maior sucesso de Ronnie Cord (criação de Hervé Cordovil).
“Nas Curvas da Estrada de Santos” é uma das principais músicas brasileiras de todos os tempos. Em toda lista séria, ela aparece entre as 100 maiores composições nacionais. Esta dobradinha de Roberto Carlos e Erasmo Carlos é realmente cativante. Seu carisma resiste ao tempo e ainda consegue emocionar o público. E imaginar que esta canção é agora uma cinquentona. Incrível!
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