Todas as narrativas literárias possuem alguns elementos em comum. Independentemente da época da sua produção, do autor responsável por sua construção e do gênero narrativo escolhido, alguns aspectos nunca mudam em uma história ficcional (GANCHO, 2014, p.26). Você já pensou sobre isso?
Há mais de um século, os formalistas russos, introdutores da teoria literária moderna, já tinham em mente essa concepção e trabalhavam para encontrar os mecanismos do funcionamento do sistema literário (TODOROV, 2016: p. 30-31). Se voltarmos ainda mais no passado, podemos encontrar esse mesmo debate sendo feito. Três séculos antes de Cristo, os gregos já discorriam sobre o que seria a arte ficcional. Platão, com a "República", e Aristóteles, com "A Poética", apresentavam os pontos congruentes e incongruentes da literatura, chamada então por eles de poética (COMPAGNON, 2010, p.19). Horácio, em sua "Arte Poética", já no Império Romano, prosseguiu com essas reflexões, aprofundando-as (HORÁCIO, 2012).
Afinal de contas, é possível fazer literatura sem um enredo ou sem qualquer personagem? Há algum livro ficcional sem um narrador que conte a história aos leitores? E pode-se narrar algo, por exemplo, sem que haja qualquer delimitação de tempo ou de espaço narrativos? É claro que não!
Gosto de pensar que uma narrativa possui obrigatoriamente onze elementos constituintes: (1) enredo, (2) personagem, (3) espaço narrativo, (4) tempo narrativo, (5) ambientação, (6) realidade ficcional, (7) narrador, (8) linguagem, (9) discurso, (10) textualidade e (11) tipologia (BONACORCI, 2018). Esta foi a conclusão que cheguei no ano passado em minha pesquisa acadêmica realizada no Programa de Iniciação Científica do UNIS, Centro Universitário do Sul de Minas. Inclusive, postei aqui no Blog Bonas Histórias a palestra que ministrei, em abril de 2018, com esses resultados.
Nesta nova temporada da coluna Teoria Literária, a ideia é apresentar para os leitores do Blog Bonas Histórias a descrição individual dos onze elementos da narrativa. Ou seja, nos próximos onze meses, vou discorrer aqui sobre cada um desses conceitos, apresentando seus detalhes e suas características.
Em fevereiro, começarei tratando do enredo: sua conceituação, seus componentes, suas partes estruturais e os tipos de análise temática. Em março, parto para a investigação das personagens (que podem ser classificadas de acordo com o papel que desempenham na trama, quanto ao dinamismo de suas características e em relação às suas características básicas). O espaço narrativo (sua definição, suas classificações e seus elementos) será o tema do post de abril.
Na sequência, abordarei também os conceitos de tempo narrativo (maio), de ambientação (junho), de realidade ficcional (julho), de foco narrativo - narrador (agosto), de linguagem literária (setembro) e de discurso - construção dos diálogos (outubro). Para o último bimestre de 2019, ficarão faltando apenas os dois últimos elementos: a textualidade e a tipologia. Eles serão apresentados, respectivamente, em novembro e dezembro. Quando isso ocorrer, terei concluído uma análise completa sobre todos os elementos que formam uma narrativa.
Quem tiver interesse de acompanhar essa investigação pelo universo da produção ficcional, sinta-se convidado para visitar todos os meses o Blog Bonas Histórias e a coluna Teoria Literária. Em minha opinião, esse é um dos temas mais fascinantes da ficção literária
Bibliografia:
BONACORCI, Ricardo. Análise Literária dos Romances de Rubem Fonseca - Investigando a Nova Literatura Brasileira. Projeto de Iniciação Científica. Varginha: Centro Universitário do Sul de Minas (UNIS-MG), 2018.
COMPAGNON, Antoine. O Demônio da Teoria - Literatura e Senso Comum. 2a ed. Belo Horizonte: UFMF, 2014.
GANCHO, Cândida Vilares. Como Analisar Narrativas. 9a ed., Série Princípios, São Paulo: Ática, 2014.
HORACIO. Arte Poética. 4a ed., Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2012.
TODOROV, Tzvetan. As Estruturas Narrativas. 5a ed., Coleção Debates, São Paulo: Perspectiva, 2013.
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