Em dezembro, fui a uma exposição interessantíssima no Sesc Av. Paulista. Muito provavelmente, este é um dos passeios mais divertidos à disposição de quem passa as férias de Verão na cidade de São Paulo. “A Biblioteca à Noite” é a mostra que promove a paixão pela literatura por meio da realidade virtual. A proposta é levar o participante para dentro das principais bibliotecas da história. Tal jornada só é possível com a união entre a tecnologia de ponta e a sensibilidade artística de quem ama os livros.
Inspirada na obra homônima do escritor argentino naturalizado canadense Alberto Manguel, “A Biblioteca à Noite” propõe uma dupla viagem. Em primeiro lugar, entramos em uma réplica da biblioteca particular de Manguel. O artista mantinha em sua casa em Paris, cidade que Alberto Manguel escolheu para viver, um cômodo com mais de 35 mil títulos. Somente quando colocamos os pés no local é que conseguimos constatar o charme e a magia que somente uma boa biblioteca é capaz de transmitir para os fãs de literatura.
Ao final da visita à biblioteca residencial do escritor argentino, uma estante se abre na parede como em uma boa história de suspense. Aí somos levados a outra sala, chamada de Floresta. No novo ambiente e já usando os equipamentos de realidade virtual, viajamos para dez das mais icônicas bibliotecas da humanidade. A maioria delas é real, mas temos também uma ficcional. São elas: Biblioteca da Abadia de Admont (Áustria), Biblioteca de Nautilus (do romance “20 mil Léguas Submarinas”), Templo de Hase-dera (Japão), Biblioteca do Parlamento de Ottawa (Canadá), Biblioteca de Vasconcelos (México), Biblioteca Nacional e Universitária (Bósnia e Herzegovina), Biblioteca Real (Dinamarca), Biblioteca Sainte-Geneviève (França), Biblioteca de Alexandria (Egito) e Biblioteca do Congresso (Estados Unidos).
O passeio virtual pelas bibliotecas é incrível. De fato, nos sentimos caminhando por esses lugares. O clímax ocorre quando vemos a Biblioteca de Alexandria pegar fogo, quando sentimos os bombardeios à Biblioteca de Sarajevo ou quando contemplamos a vista panorâmica da Biblioteca do Congresso norte-americano. Ao menos para mim, esses foram os momentos mais emocionantes. Na certa, você poderá descobrir outros que vão fazê-lo(a) ficar sem fôlego.
“A Biblioteca à Noite” é uma exposição que foi desenvolvida no Canadá, em 2016, para comemorar o décimo aniversário da Biblioteca e Arquivos Nacionais de Quebec. Já no ano seguinte, ela passou a ser apresentada em outras partes do mundo, chegando ao Brasil em 2018 com o apoio do Sesc. Sua concepção é uma parceria entre Alberto Manguel e o canadense Robert Lepage, artista multimídia e fundador da Ex Machina, empresa especializada em promover espetáculos culturais por meio da realidade virtual. De modo geral, Manguel entrou com o conteúdo textual (originado do seu livro) e Lepage com a tecnologia.
O resultado é mesmo maravilhoso! Se na primeira parte você já fica emocionado por estar em uma biblioteca tão bonita (a ambientação é parecida aos escapes games), é na Floresta em que a experiência de visitação atinge níveis surpreendentes. Esqueça as velhas tecnologias de realidade virtual que vagamente emulavam os lugares e os ambientes. Aqui, você viajará mesmo para o roteiro selecionado. A experiência de percorrer as melhores bibliotecas do mundo é magnífica, real e fidedigna.
Tão bom quanto o passeio em si é o atendimento da equipe do Sesc. Todos são muito educados e solícitos, o que torna a exposição ainda mais divertida e emocionante. Os elogios à organização, à limpeza, à manutenção dos equipamentos e à pontualidade dos horários não são exagerados. Sei que o correto era ver esses itens como questões obrigatórias de qualquer evento cultural, mas, infelizmente, a realidade não é assim em nosso país.
A exposição “A Biblioteca à Noite” foi inaugurada no começo de outubro de 2018 e estará em cartaz, no quinto andar do Sesc Av. Paulista, até a segunda semana de fevereiro. Portanto, os interessados devem se apressar. Eles têm menos de um mês para conhecer a mostra. A entrada é gratuita e os agendamentos devem ser feitos pelo site do Sesc. É importante saber que as visitas à “A Biblioteca à Noite” exigem reserva prévia. O tempo total de visitação varia entre uma e uma hora e meia. Porém, não se surpreenda se você tiver vontade de passar algumas horas ali.
O difícil é largar o equipamento no final da exposição e sair da sala Floresta. Quem gosta de literatura se sentirá como Jake Sully, protagonista do filme “Avatar” (2009), quando ele precisava abandonar Pandora.
Para você entrar no clima, veja a entrevista concedida por Robert Lepage à equipe do Sesc e algumas imagens da exposição brasileira:
No caso de alguém se interessar pela leitura do livro de Alberto Manguel, a má notícia é que a edição brasileira de “A Biblioteca à Noite” (Companhia das Letras) está esgotada na maioria dos lugares. Parece que há alguns exemplares disponíveis na Amazon. Do contrário, só mesmo procurando a obra em sebos ou importando a edição portuguesa (da Editora Tinta da China).
Não perca este passeio! “A Biblioteca à Noite” propicia uma experiência inesquecível aos seus participantes.
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