Em novembro de 1968, Martinho José Ferreira, então com trinta anos, era ainda um músico desconhecido do grande público. Carregando desde aquele momento o nome artístico de Martinho da Vila (Vila é uma referência à Escola de Samba de Vila Isabel, onde ele compunha sambas-enredos), o sambista fluminense havia estreado a pouco no cenário nacional. Em 1967, Martinho participou timidamente do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Sua composição "Menina Moça" não despertou muita atenção do público nem dos jurados. Porém, a sua segunda composição, inscrita no festival do ano seguinte, teve uma trajetória e uma receptividade totalmente distintas.
"Casa de Bamba" é um samba leve e animado, que retrata com saudosismo e certa beleza poética um ambiente familiar de origem humilde. As rimas simples, a repetição da estrutura textual, a interpolação de vozes e a melodia intuitiva deixam a canção gostosa de ser ouvida. Na primeira audição já é possível repeti-la sem grande complicação. Estão aí justamente os méritos de um compositor com uma pegada popular e ligado à essência do samba-canção.
No festival de 1968, Martinho da Vila foi acompanhado pelos Originais do Samba (Mais famosos do que o sambista de Vila Isabel naquele momento). A música participou da terceira eliminatória e foi desclassificada, não avançando às fases seguintes. Há quem questione até hoje a pouca sorte que "Casa de Bamba" teve na competição musical. Muita gente considera que ela merecia ao menos ter chegado à fase final.
Veja, abaixo, a letra desta canção:
"Casa de Bamba" (1968) – Martinho da Vila
Na minha casa
Todo mundo é bamba
Todo mundo bebe
Todo mundo samba...
Na minha casa
Não tem bola prá vizinha
Não se fala do alheio
Nem se liga prá candinha...
Na minha casa
Todo mundo é bamba
Todo mundo bebe
Todo mundo samba...
Na minha casa
Ninguém liga prá intriga
Todo mundo xinga
Todo mundo briga...
Macumba lá na minha casa
Tem galinha preta
Azeite de dendê
Mas ladainha lá na minha casa
Tem reza bonitinha
E canjiquinha prá comer
Se tem alguém aflito
Todo mundo chora
Todo mundo sofre
Mas logo se reza
Prá São Benedito
Prá Nossa Senhora
E prá Santo Onofre...
Mas se tem alguém cantando
Todo mundo canta
Todo mundo dança
Todo mundo samba
E ninguém se cansa
Pois minha casa
É casa de bamba
Pois minha casa
É casa de bamba...
Macumba lá na minha casa
Tem galinha preta
Azeite de dendê
Mas ladainha lá na minha casa
Tem reza bonitinha
E canjiquinha prá comer
Se tem alguém aflito
Todo mundo chora
Todo mundo sofre
Mas logo se reza
Prá São Benedito
Prá Nossa Senhora
E prá Santo Onofre...
Mas se tem alguém cantando
Todo mundo canta
Todo mundo dança
Todo mundo samba
E ninguém se cansa
Pois minha casa
É casa de bamba...
Confira, a seguir, a interpretação de Martinho da Vila. Ela é original de 1968, gravada durante a apresentação do sambista no Festival de Música Popular Brasileira daquele ano.
Se "Casa de Bamba" não venceu o IV Festival de Música da TV Record ao menos ela representou o primeiro grande sucesso de Martinho. A repercussão positiva da música perante o público possibilitou que o sambista assinasse seu primeiro contrato com uma gravadora, a RCA Victor. Em 1969, Martinho lançou seu primeiro álbum. Obviamente, a primeira faixa do LP de estreia era a inesquecível "Casa de Bamba". Nada mais justo.
Esse importante samba completa agora 50 anos. É legal conhecer sua história e a sua relevância para a carreira de um dos grandes sambistas da atualidade. Sou fã de Martinho da Vila (considero-o um dos maiores músicos de nosso país).
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