Ao longo do ano de 2017, li (e reli) aproximadamente noventa livros. Sinceramente, não acho muita coisa. São quase dois títulos por semana. Para quem gosta de literatura, não me parece algo exorbitante ou uma tarefa das mais complexas. Curiosamente, quem não me conhece direito nem acompanha regularmente o Bonas Histórias pode até duvidar disso. Para calcular minhas leituras basta dar um apanhado geral nos posts antigos aqui do blog. Geralmente, eu publico as análises literárias da maioria das obras que gostei.
Confesso que essa quantidade de noventa livros é um pouco superior à minha média anual (que fica normalmente entre sessenta e setenta títulos). O motivo para esse aumento no ano passado é que acumulei alguns trabalhos: os Desafios Literários do Bonas Histórias, a minha Iniciação Científica sobre o escritor Rubem Fonseca, as aulas de Teoria da Literatura do UNIS, o desenvolvimento do livro Talk Show Literário - Clássicos Brasileiros e as análises literárias aqui do blog. Todas essas atividades exigiram muitas leituras e várias releituras. Além disso, li muita coisa só por diversão. Afinal, nada melhor do que a companhia de um bom livro, né?
Como consequência dessa overdose de literatura em 2017, descobri muita coisa interessante. Agora vou fazer uma rápida retrospectiva do que li (ou reli) de melhor no ano passado. Quem estiver procurando boas dicas de leitura, pode usar essa lista como guia de compras na próxima vez que visitar uma livraria. Fica a dica!
Aí vai o Top 12 dos livros que mais gostei de ter lido em 2017:
12o lugar: "Doce Vingança" (Bertrand) - Nora Roberts (Estados Unidos) - 1988.
Infelizmente, a única autora do Desafio Literário de 2017 que não gostei foi Nora Roberts (ela foi analisada no mês de agosto). Achei os livros da escritora norte-americana previsíveis, chatos e sem qualquer criatividade. O único que conseguiu me surpreender (um pouquinho) positivamente foi "Doce Vingança". Por isso, fiz uma forcinha e o coloquei (com muito custo, tá?) no final do Top 12. De nada, Roberts!
11o lugar: "Perdas e Ganhos" (Record) - Lya Luft (Brasil) - 2003.
Apesar de ter gostado mais dos romances de Lya Luft (escritora do Desafio Literário de outubro do Bonas Histórias) do que dos seus livros de crônicas (muito rasos e repetitivos em sua maioria), "Perdas e Ganhos" é a melhor publicação da gaúcha. Nessa coletânea de crônicas, a autora consegue retratar brilhantemente os desafios da chegada da velhice e a opressão histórica sofrida pelas mulheres em nossa sociedade. Além disso, ela apresenta os conflitos de relacionamento que norteiam muitos casais. Trata-se de uma obra imperdível!
10o lugar: "Bom Dia, Camaradas" (Companhia das Letras) - Ondjaki (Angola) - 2001.
O jovem escritor angolano (foco do Desafio Literário de novembro) é mestre em retratar a infância com graça, lirismo e muito bom humor. "Bom Dia, Camaradas", seu primeiro romance, certamente foi o livro mais divertido que li em 2017 (e nos últimos três anos também). Confesso ter chorado de rir com as cenas protagonizadas pelo grupo de crianças na Luanda da década de 1980. Ler Ondjaki é conhecer o que de melhor está sendo produzido hoje em dia na literatura de língua portuguesa. "Bom Dia, Camaradas" é daqueles livros que ficam em nossa memória por muito e muito tempo!
9o lugar: "A Bicicleta Azul" (BestBolso) - Régine Deforge (França) - 1981.
A literatura da francesa Régine Deforges (analisada no Desafio Literário de junho) é polêmica. Seus livros longos, cheios de personagens históricas, com muita violência e sexo não agradam a todos os gostos, gerando intensos debates. Sua obra-prima é "A Bicicleta Azul". Nessa publicação, conhecemos a corajosa e libidinosa Léa Delmas, uma das grandes personagens da literatura contemporânea europeia. Essa jovem de 17 anos precisou encarar os perigosos da Segunda Guerra Mundial enquanto descobria os segredos do amor e do sexo. Um livro com muita ação e aventura (além de muito erotismo e violência). O único problema de "A Bicicleta Azul" é que ao concluí-lo você vai querer ler os outros nove livros da interminável série de Léa Delmas...
8o lugar: "O Conto da Ilha Desconhecida" (Companhia das Letras) - José Saramago (Portugal) - 1997.
Nessa poética parábola, o Nobel de Literatura de 1998 apresenta os dramas de um marinheiro sem barco que sonha em descobrir uma ilha até então desconhecida pelos homens. Loucura, perseverança, coragem e paixão são os ingredientes dessa trama. "O Conto da Ilha Desconhecida" é um pequeno (tem apenas 60 páginas) grande livro de José Saramago. Leitura fácil e prazerosa para quem gosta de boas e reflexivas parábolas.
7o lugar: "Um Certo Capitão Rodrigo" (Companhia das Letras) - Erico Veríssimo (Brasil) - 1949.
"Um Certo Capitão Rodrigo" é, na verdade, o capítulo mais famoso do livro "O Continente" do gaúcho Érico Veríssimo. "O Continente", por sua vez, integra a clássica série literária "O Tempo e o Vento". O ideal é ler a série completa. Porém, quem não tem disposição para encarar as milhares de páginas dos sete livros de "O Tempo e o Vento", um bom aperitivo é se deliciar com "Um Certo Capitão Rodrigo". Esta parte da trama foi transformada em um livro independente (afinal, possui começo, meio e fim). Não há como não se apaixonar pelas aventuras de Rodrigo Cambará e pelos dramas de Bibiana Terra. Sem dúvida, esse é um dos casais mais marcantes de nossa literatura.
6o lugar: "1Q84" (Alfaguara) - Haruki Murakami (Japão) - 2009/2010.
O que posso falar dessa cultuada obra de um dos principais escritores da atualidade? Para ser sucinto, digo que li o primeiro livro da série ("1Q84 - Livro 1") prometendo para mim mesmo que não leria o restante da trilogia ("1Q84 - Livro 2" e "1Q84 - Livro 3"). Afinal, não estava com tanto tempo assim. Tinha muitas coisas para ler na sequência. Porém, ao terminar a primeira obra, corri para a livraria mais perto de casa e comprei os outros dois volumes da série. Murakami é um autor que consegue nos hipnotizar. Se você ler os primeiros capítulos do livro 1, tenha certeza que irá até o final dessa incrível trilogia.
5o lugar: "A Menina que Roubava Livros" (Intrínseca) - Markus Zusak (Austrália) - 2005.
Markus Zusak (Desafio Literário de setembro) possui um jeito de escrever em que mistura a inocência e a beleza da infância e da juventude com os dramas familiares mais sérios e tensos. Assim, seus enredos são, ao mesmo tempo, graciosos e pesados. Isso tudo aparece com mais força em "A Menina que Roubava Livros", um dos grandes best-sellers da última década. Esse é um livro imperdível para quem gosta de aventura e drama. Impossível não se emocionar quando a própria Morte narra a história de vida de uma menina que a marcou e a desafiou.
4o lugar: "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (Martin Claret) - Machado de Assis (Brasil) - 1881.
Dizer que Machado de Assis é espetacular é um tanto óbvio. Recomendar sua leitura fora da sala de aula em pleno século XXI pode parecer fora de moda. OK. Concordo com tudo isso. Mas é inegável que "Memórias Póstumas de Brás Cubas" seja demais! Reli essa obra a pedido do professor Alex (Abraço, professor!) e continuo ficando encantando com essa leitura. Fazer o que se o livro é muito bom?! Sua entrada nessa lista foi inevitável. Juro que me esforcei para não colocá-lo na primeira posição. A quarta posição foi a pior colação que o consegui jogar.
3o lugar: "A Mulher que Escreveu a Bíblia" (PlanetaDeAgostini) - Moacyr Scliar (Brasil) - 1999.
O gaúcho Moacyr Scliar tem várias obras de destaque. A minha favorita é o romance "A Mulher que Escreveu a Bíblia", prêmio Jabuti em 2000. Nessa comédia-dramática, Scliar mistura passagens e personagens históricos, elementos da religião judaica, drama feminino e muita ação. A narrativa é saborosíssima, fruto de uma fértil imaginação e de uma habilidade acima da média para se contar uma boa história. Com um texto leve, irônico e bastante ágil, o autor consegue produzir uma trama ao mesmo tempo sedutora e maliciosa, que prende a atenção de quem a lê. Impossível não se emocionar com esse livro.
2o lugar: "Norwegian Wood" (Alfaguara) - Haruki Murakami (Japão) - 1987.
Após o Desafio Literário de julho, Haruki Murakami se tornou um dos meus autores favoritos. E dentro dos seus incríveis livros, o meu preferido é "Norwegian Wood". Nesse romance, o escritor japonês consegue tratar com lirismo as angústias da juventude atual. A temática principal é o amor incompleto e fragmentado, típico dos tempos modernos. Em um romance reflexivo, filosófico, autobiográfico e muito erótico, Murakami coloca o dedo na ferida ao desnudar as complicações dos relacionamentos afetivos. Em um ambiente mórbido e com personagens extremamente confusas e perturbadas, a história é o retrato de uma geração ao mesmo tempo deprimida e oprimida. Triste, mas maravilhoso!
1o lugar: "Dom Casmurro" (Ática) - Machado de Assis (Brasil) - 1899.
Quando coloquei Machado de Assis para ser analisado no Desafio Literário de maio não esperava que fosse apreciar tanto a releitura de suas obras. "Dom Casmurro" foi o livro que mais gostei desse ano. "Mas você já não o tinha lido antes?", alguém pode me perguntar. "Sim", respondo. E é exatamente por isso que gostei tanto. Toda vez que leio o drama de Bentinho e Capitu, tenho uma interpretação diferente dessa história. Dessa vez, acho que a moça de "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" é totalmente inocente da acusação de adultério. Esta é a força de um clássico: ela nos dá diferentes interpretações ao longo do tempo. Agora, vejo esse romance mais como um livro sobre ciúmes e do que, propriamente, sobre traição conjugal. Incrível!
Quem gostou da retrospectiva literária de 2017, saiba que ao longo desse mês haverá outras no Blog Bonas Histórias. Nos dias 15, 25 e 31 de janeiro vou comentar, respectivamente, os melhores filmes, as melhores peças teatrais e as melhores exposições vistas no ano passado. Não perca!
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