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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

Foto do escritorRicardo Bonacorci

Livros: O Silêncio das Montanhas - O terceiro romance de Khaled Hosseini


O Silêncio das Montanhas de Khaled Hosseini

Admito que ler o terceiro livro seguido de Khaled Hosseini foi demais para mim. Na trigésima página de "O Silêncio das Montanhas" (Globo) empaquei. O meu subconsciente, de alguma maneira, me impediu de avançar na leitura, reclamando: "Lá vem mais tristeza pela frente! Cara, você não merece isso!". Assim, permaneci algumas semanas sem conseguir abrir as páginas desta obra. Depois de tanta letargia, enfim, acabei com o bloqueio e li o livro inteiro neste final de semana. Afinal de contas, tinha um Desafio Literário para concluir, não é mesmo?

"O Silêncio das Montanhas" é o terceiro e último romance escrito pelo afegão Khaled Hosseini. Publicado pela primeira vez em 2013, esta obra também alcançou o status de best-seller mundial. Em cinco meses, o livro já tinha vendido aproximadamente três milhos de unidades nos Estados Unidos.

A história central gira em torno dos irmãos Abdullah e Pari. Em 1952, as duas crianças eram órfãos de mãe e moravam com o pai na aldeia de Shadbagh (longe de Cabul, a capital do país). A pobreza do lugar e as dificuldades da vida precária não eram empecilho para a dupla ter uma infância agradável e sonhadora. Sem a mãe, cabia a Abdullah, de dez anos, cuidar da irmã menor, com apenas três. A ligação entre os dois era muito forte. A dupla era inseparável. Contudo, em uma decisão difícil, o pai decidiu "vender" Pari para um casal rico de Cabul, no outono de 1952. Sem dinheiro para sustentar sua casa, ele aceitou entregar a filha caçula. Este acontecimento marcou a vida de Abdullah. Sem a irmã mais nova, a vida do rapaz ficou com um buraco existencial.

Khaled Hosseini

A partir deste enredo, várias outras histórias são contadas. "Silêncio das Montanhas" possui nove capítulos que direta ou indiretamente estão relacionados à trama dos irmãos separados na infância. Em cada capítulo, um personagem diferente narra sua vida em primeira pessoa. Há alguns capítulos que são narrados em terceira pessoa, mesmo assim o foco é uma única personagem.

No capítulo inicial temos o próprio pai de Pari descrevendo a viagem que fez com os filhos pelo deserto afegão. O destino era Cabul, local da entrega da filha. O casal rico que não conseguia engravidar e que queria a menina vivia na capital do país. Depois, temos o próprio Abdullah, com dez anos de idade, relatando o episódio que marcaria sua vida para sempre. Na sequência, é a vez de conhecermos a história da mulher que se casou com o pai das crianças após a morte da mãe delas.

O quarto capítulo é a carta que o tio das crianças escreveu para um grego chamado Markos, nos anos de 2000. A quinta história acontece em 2003 e tem como protagonista um médico afegão chamado Idris. Ele morava há muitos anos nos Estados Unidos e viajou para o Afeganistão, após a queda do Talibã, para cuidar da reapropriação de um terreno da família. Depois, lemos uma entrevista da nova mãe de Pari, uma poetisa que foi morar com a filha na França. A entrevista foi publicada em uma revista europeia. Ao mesmo tempo, ficamos sabendo como é a vida europeia de Pari, agora uma mulher de mais de vinte anos.

Livro O Silêncio das Montanhas

O sétimo capítulo é sobre Adel, um menino de treze anos que morava com os pais em uma mansão construída onde era a antiga aldeia de Shadbagh. A história se passa em 2009, após a expulsão do Talibã da localidade. Na sequência, é a vez do grego Markos contar a sua história. Ele explica como saiu de uma ilha grega, onde morava com a mãe, e se tornou médico de uma organização humanitária em Cabul. Para encerrar, a última parte do livro é narrada pela filha adulta de Abdullah, Pari. A moça que vivia com o pai nos Estados Unidos tinha o mesmo nome da tia que ela não conheceu. A trama se passa em 2010. É aqui que a história central do livro se fecha e a relação entre todas as personagens da obra se resvalam.

"O Silêncio das Montanhas" é um grande livro. Ele possui alguns elementos que já vimos na literatura de Hosseini: trama trágica (prepare-se para chorar muito!), episódios de violência brutal, mergulho na realidade da sociedade afegã e história que apesar de tristes possuem uma beleza poética.

Porém, é possível constatar algumas mudanças de estilo do escritor. A opção escolhida para contar a vida dos irmãos separados na infância é muito interessante. A partir da multiplicidade de narrativas, que às vezes parecem completamente desvinculadas da trama principal, consegue-se compreender os detalhes da história de Abdullah e Pari. Além disso, os vários personagens diferentes (inclusive com diferentes vozes/narradores), as épocas distantes (da década de 1950 à de 2010) e os lugares distintos (Afeganistão, Estados Unidos, França e Grécia) dão mais profundidade e riqueza ao drama.

Livro O Silêncio das Montanhas

Praticamente, temos vários capítulos que podem ser lidos como contos. O que irá uni-los é a narrativa do primeiro e do último capítulo. É a introdução e o desfecho do livro que dão sentido ao miolo da obra. É como se o final explicasse as demais partes da publicação (e não o contrário, como é mais comum).

Se "O Caçador de Pipas" (Nova Fronteira) e "A Cidade do Sol" (Nova Fronteira) eram obras quase idênticas no conteúdo e no formato, o mesmo não pode ser dito de "O Silêncio das Montanhas". Neste terceiro romance, temos menos influências dos acontecimentos geopolíticos que envolveram a história do Afeganistão. É como se os destinos das personagens fossem menos deterministas. Eles foram construídos mais pelas decisões familiares, as opções individuais e pelo acaso do que pelo lugar onde as pessoas estavam ou moravam. Trata-se de uma grande evolução nas narrativas do autor. É claro que o panorama trágico do Afeganistão continua lá, mas desta vez ele não influencia tão decisivamente a vida dos envolvidos, tornando-se um aspecto secundário na narrativa.

O desfecho do romance mantém o estilo de Khaled Hosseini: melancólico e, ao mesmo tempo, esperançoso e poético. Apesar das mudanças de alguns aspectos formais de sua literatura, o autor apresenta, através desta publicação, um resultado final parecido aos dos dois primeiros livros. Você derrama muitas lágrimas para depois ficar maravilhado(a) com a narrativa lida. Este é a essência de Hosseini. Isso ele não alterou em nada.

Khaled Hosseini

Para quem estiver ansioso pela conclusão do Desafio Literário deste mês, aviso desde já que a análise completa da literatura de Khaled Hosseini será postada aqui no Blog Bonas Histórias no dia 28. Não perca o desfecho dos nossos estudos literários de outubro!

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