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Bonas Histórias

O Bonas Histórias é o blog de literatura, cultura, arte e entretenimento criado por Ricardo Bonacorci em 2014. Com um conteúdo multicultural (literatura, cinema, música, dança, teatro, exposição, pintura e gastronomia), o Blog Bonas Histórias analisa as boas histórias contadas no Brasil e no mundo.

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Ricardo Bonacorci

Nascido na cidade de São Paulo, Ricardo Bonacorci tem 43 anos, mora em Buenos Aires e trabalha como publicitário, produtor de conteúdo, crítico literário e cultural, editor, escritor e pesquisador acadêmico. Ricardo é especialista em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão da Inovação, bacharel em Comunicação Social, licenciando em Letras-Português e pós-graduando em Formação de Escritores.  

Foto do escritorRicardo Bonacorci

Análise Literária: Sidney Sheldon


Análise Literária: Sidney Sheldon

O Desafio Literário de agosto teve como foco de análise as obras e a carreira literária de Sidney Sheldon. Li neste mês cinco livros do escritor norte-americano: "A Outra Face" (Record), "Se Houver Amanhã" (BestBolso), "Nada Dura Para Sempre" (BestBolso), "Plano Perfeito" (Record) e "Manhã, Tarde & Noite" (Record).

Sidney Sheldon nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, em 1917. Ele casou três vezes e teve duas filhas (ambas do segundo matrimônio). O primeiro casamento durou apenas dois anos, enquanto o segundo terminou por causa do falecimento da esposa. A terceira esposa de Sheldon ficou com ele até o falecimento dele em 2007.

A carreira artística de Sidney Sheldon se consolidou após a Segunda Guerra Mundial. Depois de se frustrar ao não conseguir se tornar um compositor musical, ele teve mais sorte em Hollywood ao virar um conceituado roteirista. Sheldon produziu ao longo da vida 25 filmes e 250 roteiros televisivos. Foi ele o criador, por exemplo, da famosa série "Jeannie é um Gênio" (I Dream of Jeannie), produzida entre 1965 e 1970. Além disso, escreveu seis peças teatrais. A principal delas foi "Redhead".

Sidney Sheldon

Na década de 1970, a carreira de Sheldon sofre uma grande reviravolta. O norte-americano passa a dar mais atenção à produção literária do que às produções cinematográficas e televisivas.

A Outra Face

Sua publicação de estreia foi "A Outra Face", lançada em 1970. Esta história foi criada inicialmente para virar um roteiro de filme. A ideia original de Sheldon era retratá-la nas telas do cinema ou da televisão. Contudo, o autor percebeu que a trama era elabora de mais para ser filmada. O drama psicológico do protagonista seria melhor retratado nas páginas de um romance. Foi o que o escritor fez. O livro conquistou em 1970 o título de "Melhor suspense do ano" pelo New York Times. No ano seguinte, ganhou o prêmio Edgar Allan Poe Award de "Melhor Livro de Estreia". A carreira de Sidney Sheldon na literatura estava, portanto, iniciada com o pé direito.

"A Outra Face" é um suspense psicológico e policial. O leitor não sabe o que efetivamente acontece durante boa parte da trama, precisando descobrir junto com o protagonista, um psiquiatra famoso. As dúvidas sobre a real condição mental do personagem principal é que dão o tom ao suspense. Ou ele é o grande vilão ou é a vítima de uma elabora intriga.

Achei esta obra muito parecida, em relação ao suspense e ao estilo narrativo, com as histórias escritas atualmente por Harlen Coben. Neste livro de estreia, ainda não vemos as características literárias que mais tarde marcariam Sidney Sheldon. Contudo, a narrativa é intrigante e bem desenvolvida, com alguns elementos bem interessantes. Por exemplo, quase todos os personagens apresentam algum problema psicológico grave, deixando a história saborosa.

O grande sucesso de público veio com a segunda publicação. Em 1974, foi lançado "O Outro Lado da Meia-Noite". A nova história chegou ao posto de primeiro lugar na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times". A partir daí, o nome de Sidney Sheldon jamais sairia da lista de best-sellers e da cabeça dos leitores. O êxito literário fez o autor focar exclusivamente na criação de livros a partir deste instante.

Se Houver Amanhã

Ao todo foram publicados 18 livros entre 1970 e 2004. Todos os seus romances entraram, em algum momento, na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times". Sua vendagem total ultrapassou os 300 milhões de exemplares. As obras literárias de Sidney Sheldon foram traduzidas para mais de 50 idiomas e foram distribuídas para aproximadamente 180 países. Não é à toa que o "Guinness Book" o intitula como o "escritor mais traduzido no planeta".

A segunda obra que li do autor foi "Se Houver Amanhã". Publicado pela primeira vez em 1985, esta foi a sétima produção literária do norte-americano. O sucesso do livro foi tanto que no ano seguinte a trama ganhou uma adaptação para a televisão. Neste momento, já encontramos um escritor maduro e ciente do seu estilo literário. Admito que dos livros lidos de Sheldon, este foi o meu favorito disparado ("O Plano Perfeito" ficou na segunda posição).

Aqui já podemos ver as características que marcaram a carreira do autor. A narrativa é agradável e dinâmica. Os acontecimentos ocorrem sucessivamente e de maneira rápida deixando a trama ágil. O escritor não perde tempo com nada que não seja essencial. A linguagem simples e direta de Sidney Sheldon também ajuda. Ele não se utiliza de recursos literários muito sofisticados. O autor concentra seus esforços na criação do enredo e dos personagens, fazendo isso com excelência. Há também lances de bom humor e sacadas hilárias.

Uma das suas principais qualidades é retratar de maneira bem verossímil os cenários onde a narrativa se passa. O leitor se sente junto com a protagonista quando ela é presa em um presídio federal, assim como parece acompanhá-la depois pelas viagens pelo mundo.

Nada Dura Para Sempre

Outra marca de Sheldon é o feminismo exacerbado e o romantismo dos seus personagens. Estas características talvez fiquem mais claras de serem compreendidas em outro romance do escritor. "Nada Dura Para Sempre" foi o décimo romance do norte-americano, tendo sido publicado pela primeira vez em 1994. No ano seguinte, acabou adaptado para a televisão.

Nesta história, as três principais personagens são mulheres. Elas precisam provar seu valor em um mundo essencialmente machista. A maioria dos homens é retrada como inimigos das moças, desejando-as unicamente para fins sexuais. Para superar todas as adversidades, elas não têm mais ninguém para ajudá-las (assim como a protagonista de "Se Houver Amanhã" estava sozinha em um mundo infestado por homens de péssima índole).

A força interior das personagens femininas é absurda. Elas possuem caráter, coragem e atitude para enfrentar todas as diversidades. São elas as heroínas, enquanto quase todos os homens são os vilões. Os poucos integrantes do sexo masculino que não são encarados como vilões são vistos como príncipes encantados que estão ali para salvar as princesas modernas das trevas que elas se encontram. Às vezes, no meio da trama, elas confundem um vilão com príncipe e um príncipe com vilão. Isso é desfeito obviamente no final.

Esta busca explícita ou implícita pela outra metade torna os enredos bastante românticos. Mesmo trabalhando muito e desejando serem respeitadas profissionalmente, as protagonistas continuam acalentando sonhos matrimoniais. Praticamente desejam ser resgatadas pelo príncipe encantado da dura realidade em que vivem.

Manhã, Tarde & Noite

Estas mesmas características (feminismo, romantismo, linguagem simples e narrativa ágil) podem ser encontradas em "Manhã, Tarde & Noite", um dos principais livros da carreira de Sidney Sheldon. Publicado pela primeira vez em 1995, este foi o décimo quatro romance do escritor. A única diferença é que esta história possui elementos de mistérios, parecendo neste quesito com "A Outra Face". Podemos caracterizar o livro como sendo um thriller policial. Sidney Sheldon consegue sustentar o enigma da trama com classe. Todos os personagens são dúbios, podendo estar envolvidos com a morte do patriarca da família.

Em "O Plano Perfeito", um dos últimos romances produzidos por Sidney Sheldon (foi o décimo quinto da lista de dezoito), já encontramos algumas novidades narrativas. Publicado originalmente em 1997, temos outra vez uma trama com uma estrutura parecida aos livros anteriores: uma mulher sozinha no mundo combatendo a tirania e a maldade dos homens.

Novamente, conhecemos uma jovem bonita e inteligente abandonada quase que na porta da igreja pelo noivo que a trocou por interesse político. As semelhanças param por aí. A medida que a trama vai se desenrolando, esta impressão inicial vai se desfazendo. A história se torna atípica. O desejo de vingança da protagonista vai aos poucos transformando a heroína em vilã. A reviravolta que a narrativa sobre no final é digna dos mestres do suspense. Sidney Sheldon consegue escrever escondendo o "jogo" do leitor o tempo inteiro. Depois que o pano caiu e descobrimos o verdadeiro enredo, tudo faz sentido.

O Plano Perfeito

"O Plano Perfeito" é um ótimo thriller de suspense. Ele possui poucos elementos românticos, característica esta que foge um pouco do estilo do autor. Sidney Sheldon sempre usou e abusou do romantismo exacerbado em suas obras. Nesse sentido, admito que gostei muito dessa particularidade de "Plano Perfeito". Não que eu não goste de tramas românticas, porém acho que um escritor deve mostrar versatilidade e trabalhar com outros gêneros. Quando o autor se apega fortemente a passionalidade dos personagens, os enredos se tornam muito repetitivos e um tanto previsíveis.

Exatamente por isso, o maniqueísmo fortemente presente nas histórias do norte-americano se torna mais complexo neste livro. É difícil precisar quem é o vilão e quem é o herói nesta narrativa surpreendente. Não se angustie se no meio da leitura você trocar a torcida pelo personagem favorito algumas vezes. Isso será normal.

Em resumo, gostei bastante de ter conhecido a carreira e a produção literária de Sidney Sheldon. Acho que consegui desmistificar um pouco este escritor que na década de 1980 e 1990 sofria de tanto preconceito da crítica, sendo apontado como um autor raso e superficial. Suas histórias são boas e cumprem bem o papel de entreter o público interessados em tramas românticas e feministas.

Se Sidney Sheldon não fosse um excelente escritor, ele não teria alcanço os prêmios que obteve. Vale a pena lembrar que ele foi o único escritor, até hoje, agraciado com a maior premiação nas três principais indústrias culturais norte-americanas: cinema (Oscar), literatura (Edgar Allan Poe Award) e teatro (Tony Award).

Sidney Sheldon

O próximo autor do Desafio Literário é alguém tão polêmico quanto Sidney Sheldon (pelo menos, no Brasil). Em setembro, o Blog Bonas Histórias analisará a literatura de Paulo Coelho, o escritor brasileiro mais vendido no mundo. Não perca a próxima edição do Desafio Literário.

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