Neste final de semana, li "Manhã, Tarde & Noite" (Record), um dos principais livros da carreira de Sidney Sheldon. Publicado pela primeira vez em 1995, este foi o décimo quarto romance escrito pelo norte-americano. Diferentemente das duas obras anteriores que li deste Desafio Literário, "Nada Dura para Sempre" (BestBolso) e "Se Houver Amanhã" (Best Bolso), "Manhã, Tarde & Noite" é uma trama de mistério. Podemos caracterizá-lo até como sendo um romance policial. Em alguns aspectos dá para compará-lo, em questão de gênero narrativo, aos romances de Agatha Christie ou de Harlan Coben.
Nesta história, conhecemos o bilionário Harry Stanford. O empresário de sucesso, considerado como um dos homens mais ricos do mundo, teve uma vida familiar conturbada. Ele deu um golpe no pai para ficar com a fortuna e o comando das empresas da família. Depois, se casou e teve três filhos. A esposa, contudo, se suicidou quando descobriu que o marido tinha um caso com a governanta da mansão e que a funcionária esperava uma filha do patrão. Esta tragédia foi responsável pela fragmentação do clã. Os filhos legítimos passaram a odiar o pai e deixaram de viver com ele antes de atingirem a adolescência. A governanta desapareceu da residência, fugindo grávida. A partir daí, Sr. Stanford passou a viver solitário.
Esses eventos são revividos, de certa forma, no momento em que Harry Stanford morre misteriosamente quando viajava em seu iate pelo litoral europeu. Após o enterro do empresário, os três filhos se reúnem para ouvir o testamento. O que era para ser uma partilha tranquila dos bens do odiado pai se torna um problema quando a filha bastarda reaparece para pegar sua parte na fortuna. Os irmãos legítimos ficam indignados e se colocam contra a divisão igual da herança paterna.
Os advogados do escritório que cuidava da herança de Harry Stanford são chamados para elucidar a questão. Por causa disso, é iniciada uma investigação para saber se a moça que surge pela primeira vez perante todos é realmente filha do bilionário falecido. Como o corpo de Harry desaparece do cemitério onda fora enterrado, uma complexa trama se sucede. Nem tudo o que parece é comprovado pelos advogados. Há até a suspeita que o Sr. Stanford teria sido assassinado.
"Manhã, Tarde & Noite" tem 350 páginas e é dividido em três partes: Manhã, Tarde e Noite. Na primeira parte conhecemos o enredo da história. Na segunda, descobrimos quem é o vilão. Na última parte, temos o desfecho da narrativa.
Escrito na terceira pessoa, o clima na primeira metade da obra é de mistério. Sidney Sheldon consegue sustentar o enigma da trama com classe. Todos os personagens são dúbios, podendo estar envolvidos com a morte do milionário de alguma forma. A segunda metade do livro é de ação. Uma vez descoberto (por parte do leitor) quem é o vilão, a narrativa se desenvolve rapidamente. Nessa parte, ainda teremos algumas surpresas em relação aos personagens secundários. Nem sempre quem parecia ser bonzinho é de fato assim e nem sempre que parecia ser mal se prova verdadeiramente vilão.
Nesta obra, temos algumas características que já podemos atribuir ao estilo de escrita de Sidney Sheldon, afinal elas aparecem pela terceira vez (no terceiro livro lido dele). A primeira questão é a força dos personagens femininos e seu protagonismo. As mulheres, salvo raríssima exceção, são as pessoas mais confiáveis e com nobre caráter das histórias. O papel de herói sempre é destinado a alguém do sexo feminino. Se alguma dama comete algo de errado, é porque foi induzida por um homem. Os homens, como regra geral, são gananciosos, possuem mau-caráter, são colocados na posição de vilões ou têm o espírito fraco. Os únicos que não são assim sãos os parceiros ou futuro parceiros românticos das protagonistas mulheres. Os príncipes encantados são perfeitos, afinal.
A história também é fortemente banhada por componentes românticos. O sentimento passional guia tanto os heróis quanto os vilões. Todos, ou quase todos, possuem uma paixão e têm seus comportamentos guiados pela busca deste amor.
Apesar de escrever suas histórias em terceira pessoa, o autor consegue guardar muitos mistérios do leitor. Sheldon consegue escolher bem as palavras e o contexto narrativo para enganar o leitor. Por isso, é comum encontramos muitas reviravoltas em sua trama, o que torna a leitura mais divertida.
Algo que aprecio no estilo de Sheldon é que ele utiliza-se de uma linguagem simples e objetiva. Suas tramas são aceleradas e não há espaço para enrolações ou questionamentos filosóficos. A narrativa segue sempre de maneira veloz, sobrepondo-se a descrição dos personagens e dos cenários. As histórias ficam recheadas de ação e de conflitos dramáticos.
"Manhã, Tarde & Noite" é um livro muito bom. Ele começa em tom meio morno, como se não prometesse nada de excepcional. Na metade da publicação, contudo, os enigmas e as perguntas levantadas são tão complexos e variados que atiçam a curiosidade de quem está lendo. Aí não dá mais para parar a leitura.
Apesar de ter gostado desta obra, admito que gostei mais das publicações lidas anteriormente ("Nada Dura para Sempre" e "Se Houver Amanhã"). De alguma forma, elas possuem mais o estilo do autor. Sidney Sheldon não é um mau escritor de mistério policial, porém, se fosse para ler um livro deste gênero, obviamente iria recorrer aos autores especializados neste tipo de narrativa.
O Desafio Literário volta ao Blog Bonas História no dia 21 com a análise do romance "O Plano Perfeito" (Record). Assim, caminhamos para a parte final da investigação sobre a literatura de Sidney Sheldon. Não perca os próximos passos do Desafio Literário de agosto.
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