Ela era a única pessoa em Macambúzios com ensino superior. Juntou dinheiro durante três anos em uma loja de tênis para enfim ingressar na faculdade. Lá, aprendeu a trabalhar com computadores, ciência na qual se tornou rapidamente célebre. Como muitos em sua sala, não obteve emprego, e resolveu se divertir um pouco.
Seus pais vieram do Rio de Janeiro quando sua mãe estava grávida. Acomodaram-se na cidade vertical e foram trabalhar com construção civil. Eles tinham orgulho de dizer que trabalhavam na Barreira Epaminondas Farias, hoje região conhecida como penhasco público. “Lá será um lugar de muita paz de espírito”, diziam e acreditavam.
Um pequeno deslize de concreto, somado a uma breve e passageira falta de equipamentos de segurança, decretaram o fim do sonho e do casal quando a filha tinha apenas quatro anos. Sobraram na casa apenas ela e seu irmão mais velho, que aos catorze acabou virando o responsável pela sua criação.
Carlos Fernandes de Araújo, que anos mais tarde ficou conhecido na noite e nas casas de karaokê como Caubi Chavier, era um irmão muito presente, com uma boa relação com sua irmã. Trabalhara como entregador de pizzas, batedor de carteiras e engraxate, antes de entrar para o ramo do entretenimento homoafetivo. Gostava muito de ser a mais famosa drag queen de Macambúzios, o que era assumido para todos.
Em busca de dinheiro, passou a expandir seu raio de ação, muitas vezes de forma literal, fazendo programas na cidade vizinha. Andava muito na praia, percorrendo os oito quilômetros de orla, e ganhava de enrustidos ricos em torno de trezentos reais por noite, dinheiro bem aproveitado, inclusive nos estudos de sua irmã. Mas gostava mesmo era de cantar nos karaokês.
Suas prediletas eram internacionais, como Skyline Pigeon, My way, Can’t take my eyes off you e Back to black. Entretanto, fazia muito sucesso com músicas próprias, que contavam histórias de sua vida e de outros moradores de Macambúzios. Cantava-as na capela, e todos faziam silêncio para ouvir sua voz, mesmo os bêbados, amiúde barulhentos. Recebia palmas e pedidos de bis.
Apaixonou-se perdidamente por um pequeno delinquente da cidade, e começaram um relacionamento amoroso. Dessa vez, não assumiu para ninguém, pedido íntimo do namorado. “Só pode contar para sua irmã, pois nela eu confio.”, ramificou o homem. Acontece que em pouco tempo ele começou a lhe dar despesas, e sugar todo seu dinheiro com bebidas e dívidas de jogo. Quando não era atendido, ou simplesmente quando ficava à vontade, batia em Caubi Chavier, que como uma boa mulher de malandro, acreditava que um dia tudo iria mudar.
Assim, essas três personagens conviviam e se respeitavam muito, posta em cheque a relação “Caubi-namorado”, cujo nome é Júlio. Entretanto, repare que o nome da protagonista e hacker ainda não foi dito. Isso é porque se trata de um nome muito especial, que remonta a uma heroína de Macambúzios.
A história de Luíza de Marquês e Sales emocionou a futura mamãe operária, recém-chegada à cidade. Logo que chegou à rodoviária de Búzios, viu um letreiro enaltecendo os feitos da antiga mulher, e de como esses princípios norteariam o mandato do candidato a vereador Anacleto. Votou no homem, que eleito, prometeu um clube comunitário, com piscinas olímpicas e quadras poliesportivas. “Quando meus filhos ficarem grandes, poderão levar meus netos para lá”, pensava a mulher.
Feliz com a coincidência entre seu vereador e uma heroína, resolveu batizar a filha a nascer com o nome de Luíza, em homenagem a esta, e Poli, em homenagem às futuras quadras poliesportivas. “Se a menina se chamar Luíza Poliesportiva”, também dizia, “vai ter dificuldade em achar um marido”. Infelizmente, a mãe crédula e protetora morreu sem nunca ter visto sequer uma redinha de tênis.
E foi por um tênis que Luíza Poli, ou simplesmente Luíza, se apaixonou pela primeira vez, muitos anos após a morte dos pais e já crescida. Ao bater os olhos na vitrine, que anunciava o mais novo lançamento da indústria de sneekers, resolveu que aquele tênis ela teria de roubar, um pensamento bastante pé no chão. Pediu auxílio ao irmão, que declinou, alegando que poderia arranhar sua imagem de estrela. Também recebeu a negativa de seu cunhado, que sonhava com um plano maior e mais bonito.
Sozinha, desistiu de virar uma ladra, enviou uma carta à loja, e tornou-se vendedora temporária, trabalho que tornou efetivo com muito esmero, e como um incentivo, ganhou o tênis. Ao sair de ladra para vendedora, poderiam argumentar alguns agentes sociais, apenas fez com que os opostos invertessem de posição, o que nesse caso representa o de ladra e vítima.
Esse momento, que edifica a vida com valores de esmero e labuta, não trouxe à Luíza um sentimento de gratidão para com o próximo, ao contrário do que dizem. Ela concluiu que na vida tudo se compra com dinheiro, e para isso, trabalhar era apenas um meio de consegui-lo. Entrou na faculdade, se formou, e confirmou as estatísticas do desemprego da geração Y, o que nos retorna ao enredo anterior à digressão familiar.
Vadiando, como ficava naqueles dias de ócio, começou a fazer pequenas invasões em computadores alheios, e rapidamente, conseguiu arranjar um código para invadir todos os celulares smartphone em um raio de trinta quilômetros. Impressionante, mesmo para uma hacker experiente.
O resultado foi que Luíza conseguiu inúmeras fotografias pornográficas de seus donos. Passava horas divertindo-se com imagens de velhos endinheirados no(s) meio(s) de prostitutas, algumas da quais suas amigas e vizinhas. Sua tranquilidade somente era quebrada com algumas briguinhas entre seu irmão e cunhado, e até para isso usou as fotos, que serviam de alívio bem humorado ao clima tenso que a casa tomava após os casos.
Percebeu então que as fotografias poderiam fazer sucesso, e publicou algumas na internet, como a do galã de novela Guilherme Boaventura em ato de sodomia com uma vizinha, que lhe introduzia um pênis gélido de borracha. “Mas sucesso não é tudo”, pensava, “é preciso também ter dinheiro”.
Uma vizinha sua, Madalena, sempre se entretinha com as histórias de celebridades, e ficou chocada com Guilherme Boaventura. “Luíza, essas fotos vão acabar com a carreira dele!”, exclamava cheia de vigor. “Uma hora ou outra ele vai ter que ir para televisão explicar o porquê de ter feito isso”. Luíza se orgulhava de sua audácia, muito embora sempre salientasse que não enriquecera com isso. Não sabia exatamente como cobrar por suas fotos, e acabou tomando o fato como lição de empreendedorismo.
Em seu segundo projeto, já com claras intenções capitalistas, resolveu ir além do bom senso. Luíza programou um engenhoso site pornográfico, abastecido com as fotos dos celulares invadidos e inúmeros vídeos de sacanagem, tudo integralmente gratuito. O punheteiro jamais poderia imaginar que, na verdade, um pequeno programa era inserido em seu computador enquanto o site estava aberto. O sintoma desse efêmero vírus era que a webcam seria sorrateiramente ligada, assim como o endereço de e-mail do proprietário descoberto. Automaticamente, um servidor da Tailândia começava a emitir e-mails à vítima, com a assinatura de Juliana Assanhada, ameaçando com requintes de crueldade divulgar para o mundo as imagens, caso duzentos mil reais não fossem pagos.
Conseguir uma conta nas Ilhas Virgens Britânicas com a offshore SexyLeaks também não foi difícil, graças a amigos tailandeses e hackers, que lhe indicaram todos os passos necessários para burlar esquemas intrincados de segurança. O resultado foi surpreendente. Conseguiu mais de mil horas de gravação de homens de todo o mundo masturbando-se na frente do notebook, e consequentemente, inúmeros endereços eletrônicos.
A dúvida era se as vítimas pagariam a quantia, e se caso não pagassem, o que faria com os vídeos constrangedores. Caubi e Júlio estavam ansiosos pelos resultados, que talvez começassem a aparecer em pouco tempo. Enquanto isso, o irmão esmerava-se com programas na orla, e o namorado continuava a fazer pequenas contravenções e a planejar um plano em longo prazo.
Entretanto, com a esperança de conseguir muito dinheiro com a extorsão da cunhada, Júlio sentiu que não era mais necessário seu namorado executar programas, e o proibiu de sair de casa por tempo indeterminado. Era impossível vigiá-lo, pois não moravam juntos, mas avisou que se ouvisse algo a esse respeito, seria capaz de matar o companheiro.
“Eu sou capaz de te matar! Você vai ficar na sua casa até conseguirmos a grana!”, gritava Júlio.
Luíza também estava à flor da pele naquela semana inicial. Os e-mails tinham chegado com sucesso aos destinatários, que deviam estar aterrorizados. A menina fez questão de esperar um intervalo de uma semana entre os primeiros e-mails, para fazer com que a mente culpada de vários marmanjos se encarregassem de tramar as mais surreais ameaças e consequências de seus atos tão espontâneos.
Próximo ao quinto dia, já não mais conseguia dormir direito. Fazia planos de suas compras, como roupas, celulares, bolsas e sapatos. Seus sonhos de uma adolescente privada de bens materiais só foram contidos quando a realidade bateu à porta, com o nariz sangrando e dentes quebrados.
“Esconda-se, maninha”, suplicou Caubi Chavier. “Ele me encontrou na rua!”
O pedido do irmão não deu tempo de ser atendido. Após menos de um minuto irrompeu na sala um homem enciumado e enfurecido, que dava pontapés no ar e tinha um olhar sanguinário. Luíza se interpôs entre o casal, mas foi empurrada para o lado, o que liberou o caminho para Júlio continuar a bater em sua boneca.
“Filha da puta! Eu te avisei!”, gritava o homem em meio a socos e estrangulamentos.
Furioso, não se conteve com agressões à mão livre, e sacou uma arma antiga que tinha em casa. Caubi se escondeu atrás do sofá, mas mesmo assim recebeu um tiro no pé. Luíza, então, novamente colocou-se entre o cunhado e o irmão, mas com argumentos mais fortes.
“Se você atirar novamente na minha casa, ninguém aqui vai ganhar o dinheiro!”
O atirador aquiesceu convencido de que passara dos limites, e que homem nenhum do mundo tinha a vida mais valiosa do que a grana que receberia. Satisfez-se com um pé machucado e um corpo ensanguentado, pelo qual passou a sentir certa compaixão novamente, após o momento de fúria.
“Ok, você venceu. Mas não mato seu irmão porque você pediu!”, limitou-se a comentar, antes de oferecer ajuda ao namorado contundido.
Dois dias depois, o segundo e-mail foi direcionado às primeiras vítimas. Ameaçava de forma mais pungente, e falava de como realizar o pagamento. Para sua surpresa, três homens já tinham pagado a quantia. Um milagre da internet, que elegia naquele momento sua mais nova heroína, tal qual Luíza de Marquês e Sales. “Mamãe ficaria muito orgulhosa se estivesse aqui”, disse lacrimejando a seu irmão.
O dinheiro recebido foi transferido para outra conta fantasma, dessa vez no Brasil, e em seguida sacado. Os três se divertiram muito jogando para cima as notas, em quantidade que nunca tinham visto antes, e no dia seguinte, foram às compras. De tantas sacolas com futilidades caríssimas que Luíza adquirira, teve dificuldades em subir as ladeiras da cidade, mas sentia que tinha finalmente alcançado seu sonho. De tão excitada que estava, teve que fumar uma diamba com Júlio para relaxar. Este, por sua vez, não bateu em seu namorado naquele dia.
Ao chegarem ao lar, entretanto, um bilhete escrito à mão estava debaixo da porta. “Ele me obrigou a contar a verdade. Desculpe.”, dizia. Luíza sabia que a letra era de sua vizinha Madalena, mas só viria a entender o bilhete na manhã seguinte, logo ao amanhecer. Contabilizara mais três pagamentos, quando ouviu uma batida forte e decidida à sua porta.
“Bom dia querida, posso entrar e conversar contigo?”, disse Mano Metido, ao ver a porta abrir-se com uma menina assustada.
“Claro, pode entrar”, Luíza nunca o vira pessoalmente, mas sabia de sua fama e de seu poder.
“Veja só, uma televisão tela plana, aparelho de som, produtos da Apple... Muito bom para uma órfã desempregada!”
“Mano Metido, eu posso explicar. Meu cunhado roubou isso em outras cidades...”
“Roubou o caralho!”, interrompeu o traficante. “Não conheço seu cunhado e nem quero conhecê-lo. Mas sei que existe alguém aqui na cidade que anda extorquindo alguns amigos meus, mostrando uns vídeos. E a única pessoa que poderia fazer isso é você! Admita!”
Luíza começa a chorar copiosamente. Soluçava em desespero, pois não imaginava que seu empreendimento ganharia tamanha proporção para Mano Metido.
“Eu paro com isso, juru que paro!”, disse aos soluços.
“Não, não quero que pare. Só quero que saiba que todo mundo que ganha dinheiro aqui em Macambúzios deve me pagar a parcela de vinte por cento. Teve um empresário de Búzios que me procurou e pediu para solucionar o problema. O dinheiro que ele vai lhe pagar vou pegar adiantado agora, como punição pela sua afronta. Entendido!?”
“Entendido.”
O que nem Luíza nem Mano sabiam é que mais uma pessoa escutava a conversa. Era Júlio, que achou que teria de dar explicações sobre o tiro no pé de seu namorado. Após a saída do traficante, o cunhado abraçou a irmã com ternura, e ofereceu-lhe uma carreira de pó para relaxar do trauma, já que a diamba não seria suficientemente eficaz. “Você não precisa pagar mais nada a ele”, confortava Júlio. “Só espere eu terminar meu plano. Cada um tem o que merece, e o que é dele há de vir!”.
O dinheiro vinha fácil à Luíza, pois mais vítimas acabaram pagando a chantagem, e a pródiga superou a intimidação com compras. Entretanto, negou-se a pagar mais qualquer centavo a Mano Metido. Seus sonhos de consumo de avolumavam, e de sua família também. Seu irmão Caubi parou de fazer programas, e passou a ficar o dia inteiro em casa. As vezes que apanhava se tornaram mais raras, e Júlio até lhe comprava alguns presentes. Este, por sua vez, não cansava de passar os dias a tramar seu plano e andar pelas ladeiras de Macambúzios. Definitivamente, abandonou sua casa, e podia dormir junto a seu amor, muito embora fosse comum passar as noites na boemia.
A família tinha dinheiro suficiente para abandonar Macambúzios, ideia defendida apenas por Caubi. Os três discutiam todos os dias sobre isso:
“Maninha, Júlio, ouçam-me! Nós temos a oportunidade de sair daqui e viver uma vida de verdade. Vocês sabem que meu sonho é ser dona de um karaokê em Búzios!”, disse a ex-drag queen. “Na minha casa, todos poderão cantar as minhas músicas!”
“Irmão, você não vai precisar trabalhar nunca mais! Mas entenda que para o dinheiro continuar a entrar na nossa conta, não podemos sair daqui!”
“Concordo contigo Luíza Poli!”, falou Júlio. “Cada um tem o que merece, e nós merecemos a glória financeira. Não podemos sair daqui para nos tornarmos trabalhadores novamente!”
Na verdade, tudo não passava de um jogo de interesses. Caubi Chavier estava verdadeiramente interessado em sair e viver em paz, já que sua vida de programas lhe cansara em demasia. A oposição de Luíza vinha do fato de que na cidade poderia comprar cocaína facilmente, e Júlio alimentava cada dia mais seu plano megalomaníaco.
Nesse tempo, os dois começaram a se dar melhor. Conversavam sobre a vida e intimidades. Júlio contou que sua fama de violento com os homossexuais era indevida, e que só fez algumas coisas por achar que era o melhor a ser feito. Também lhe mostrou sua coleção de carteiras de identidade de duzentos e dezesseis países diferentes, “incluindo Mônaco e Palestina”, salientou. Já Luíza lhe contou que era virgem, e que nunca tivera tempo para namorar. Sempre estava trabalhando na loja de tênis, ou estudando, ou invadindo a privacidade alheia.
Faltando poucos dias para o envio do terceiro e-mail, desta vez em definitivo, avisando que o vídeo seria publicado pela falta de pagamento, irmã e cunhado foram aproveitar a noite na cidade vizinha, enquanto o irmão ficou na casa. Os dois foram a um bar muito famoso, frequentado por personalidades, jogadores de futebol e pessoas influentes. Muito beberam, comeram e cheiraram, sem se preocupar com a conta. Júlio aproveitou também para fazer amizades estratégicas, tudo em prol de seu plano.
Chegando em casa, embriagados, abriram a porta devagar. “Cuidado, senão vamos acordar Caubi”, disse Júlio, sem saber que acabara de falar uma trágica ironia. Logo na sala, em cima de um felpudo tapete branco, o vermelho do sangue de Caubi fazia contraste. O corpo jazia de costas, apresentando sinais de estupro na região anal e um buraco na testa. Nenhum bilhete fora deixado para maiores explicações, até porque seriam desnecessárias. Ambos sabiam que a falta de pagamento a Mano Metido fora a responsável pelo assassinato de Caubi pelo autointitulado credor da cidade.
A cena revoltou aos dois, que choravam por tristeza e por raiva. Júlio ainda tentou reanimar o cadáver dando-lhe os últimos tapas da vida, mas frustrou-se. “Como ele teve coragem de fazer isso com Caubi! Só um sanguinário teria coragem de encostar o dedo nele.”
Para suportar a dor da perda de seu último parente, Luíza começou a cheirar cada vez mais. Somente isso, e nem suas compras habituais lhe traziam paz de espírito. Após o enterro, no qual compareceram Luíza, o falecido, Carlos e seu amigo Júlio, este disse à ex-cunhada.
“Luíza, agora é a hora de colocar em prática meu plano. E você é fundamental para ele dar certo.”
“Mas qual é seu plano, afinal?”, responde a menina de olhos vermelhos de pó e lágrimas.
“Você ainda não percebeu? Eu quero dominar Macambúzios! Cansei de pequenos delitos para sobreviver, e quero agora ganhar muito dinheiro na cidade.”
Júlio conta todos os passos de seu esquema para Luíza, e ambos conversam sobre isso durante toda a noite. “Infelizmente”, diz o homem, “ainda não sei como tudo vai terminar, ainda estou fechando os detalhes com um sócio, mas precisamos de você para poder servir de isca.”
A menina sente medo, pois teria que se expor demais, mas confiava em seu amigo. Na manhã seguinte tomou fôlego, cheirou uma carreira e foi bater à porta de Mano Metido, que autorizou sua entrada.
“Você veio aqui para vingar seu irmão. Mas entenda, foi necessário. Ninguém ganha dinheiro aqui sem pagar a parte que me é de direito.”
“Não vim aqui para isso”, Luíza olhava o traficante confiante, falando sério e segurando a ânsia de vômito. “Vim para lhe fazer uma proposta.”
As sobrancelhas de Mano se elevaram. Ele sabia do potencial da hacker, e a queria mesmo do seu lado. Até porque, estava enfrentando um período difícil.
“Eu posso invadir muitos computadores e ganhar muito dinheiro com a extorsão virtual”, disse a moça. “E para isso, preciso de seus homens para me dar segurança. O dinheiro será a maioria seu. Topas?”
E ele topou. Mal sabia que estava cavando a própria vala. “É uma pena que nossa sociedade só foi possível pela morte do seu irmão. Vamos honrá-la, então”, teve a pachorra de acrescentar.
“Também quero que você faça outra coisa, mas a título de favor”, continuou o dono da cidade. “Tenho desconfiado de sua amiga Madalena, que há alguns dias não aparece aqui em casa. Quero que você descubra o que ela anda fazendo.”
“Combinado.”
Luíza voltou para sua casa acompanhada de dois capangas de Mano Metido, seu novo patrão. A casa estava vazia, já que Júlio se mudara de lá, e o silêncio incomodava. Sentada no tapete felpudo e alvirrubro, Luíza sentia seu estômago mexendo, seu nariz adormecido e uma leve sensação de que tempos de guerra viriam, e como prometido, vingaria a morte do irmão.
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