Li, nesta semana, um dos clássicos da literatura brasileira: "O Ateneu" (Pinguin & Companhia das Letras). Publicada originalmente em folhetim pelo jornal Gazeta de Notícias, em 1888, a principal obra da carreira de Raul Pompéia foi lançada também em livro naquele mesmo ano. O pioneirismo de "O Ateneu" está no fato de ter trazido, pela primeira vez, os dramas da adolescência para a literatura nacional. A obra é autobiográfica já que seu autor recorreu às lembranças de sua juventude, passadas em um colégio interno no Rio de Janeiro, para compor o romance. Raul Pompéia seria, assim, o alter ego do protagonista.
Com cerca de 320 páginas, "O Ateneu" é uma criação que mistura vários estilos literários. Ele possui elementos do Realismo, do Naturalismo, do Impressionismo e até do Expressionismo. Ou seja, trata-se de um romance único na literatura brasileira.
A história deste livro é narrada em primeira pessoa pelo seu protagonista, Sérgio. Sérgio é um homem adulto que decide contar em detalhes os dois anos que passou em um famoso colégio interno da corte carioca. O Ateneu era uma instituição de ensino da metade do século XIX destinada a educar os filhos da elite do Rio de Janeiro. Comandado pelo cruel diretor Aristarco, o colégio só aceitava meninos.
É no ambiente opressivo da escola interna que Sérgio morou e estudou entre os 11 e os 13 anos. O narrador relata suas angústias e seus sonhos. Recheado de maldades e de rivalidades entre os estudantes, o Ateneu é um microcosmo da sociedade da época. Ali, os estudantes aprendem rapidamente a lei do mais forte e a necessidade de fazer alianças com os estudantes mais velhos. Também aprendem a usar o sexo como moeda de troca e de favores, além de construírem uma tênue rede de relacionamentos ancorada em privilégios, injustiças e hipocrisia.
O estilo deste romance de Raul Pompéia mescla a sutileza psicológica (neste sentido, parece mais com as obras Realistas) com a descrição da podridão moral das personagens (aqui, há maior semelhança com as histórias Naturalistas).
Como o livro é muito descritivo e fortemente ancorado nos sentimentos e nas impressões do seu narrador, a trama se torna lenta e enfadonha. Confesso que em várias oportunidades fiquei entediado. Precisei de muita força de vontade para chegar ao desfecho da trama. Por mim, largaria a leitura antes da sua metade. Ainda bem que precisava tecer uma análise crítica sobre o livro. Isso me obrigou a seguir adiante e concluí-lo.
Após retratar o cenário do livro (como é a vida no colégio interno) e apresentar as primeiras intrigas (disputas entre os estudantes), o romance se torna repetitivo e sem grandes acontecimentos. Na certa, Raul Pompéia teve uma excelente ideia em querer narrar o dia a dia na escola em que viveu na adolescência, mas faltou coragem (ou criatividade) para apresentar episódios realmente consideráveis. Ele preferiu focar sua atenção na descrição de seus colegas e de seus mestres. Ou seja, a preocupação maior do autor não estava nos fatos e nas ações e sim nas características e na moral das personagens. Por isso, a dificuldade que tive em prosseguir na leitura...
O que chama mais a atenção nesta história é a descoberta brutal da sexualidade pelos estudantes. Os alunos mais novos, menores e mais fracos são alvo da investida lasciva dos alunos mais velhos, maiores e mais fortes. Trata-se da lei da selva: os mais adaptados ao ambiente sobrevivem. Neste cenário de crueldade, a única forma dos alunos desfavorecidos serem poupados das ameaças e das violências é formando alianças com os estudantes que "comandam" o colégio. Em troca da oferta de proteção e de amparo, os mais velhos, os maiores e os mais fortes exigem favores sexuais dos seus protegidos. É o que chamamos atualmente de amizade colorida. Alguns meninos assumem o papel de machos dominadores e outros de fêmeas dominadas.
É por isso que em seus primeiros dias no Ateneu, Sérgio é aconselhado por Rebelo, um dos seus colegas: "Faça-se forte aqui, faça-se homem. Os fracos perdem-se (...). Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza; são dominados, festejados, pervertidos como meninas ao desamparo (...). Faça-se homem, meu amigo! Comece por não admitir protetores".
Os medos e as fraquezas de Sérgio, entretanto, são superiores a sua dignidade. Acovardado, ele aceita a proteção de Sanches, que logo irá exigir a retribuição pela amizade. Compreendendo a dinâmica social do lugar, Sérgio mais tarde faz amizade com Bento Alves, um rapaz forte e corajoso. Outra vez, o protagonista assume o papel de mais fraco e de sexo frágil na relação. A nova amizade mais parece um namoro infantil do que uma relação igualitária entre dois amigos do mesmo sexo. Assim, a homossexualidade permeia quase todos os relacionamentos entre os alunos.
O único momento em que Sérgio e os demais alunos assumem uma postura heterossexual é quando contemplam platonicamente a filha e a esposa do diretor do colégio. A beleza das duas toma conta do imaginário da garotada. Elas são as musas do colégio. Enquanto a maioria dos estudantes é apaixonada pela filha de Aristarco, Sérgio prefere a esposa do diretor. Ele a enxerga como uma mistura de mãe zelosa e de mulher sensual, sofrendo, assim, do Complexo de Édipo.
Sinceramente, não gostei de "O Ateneu". Espera um romance mais movimento e com maior quantidade de ações dramáticas. Não é isso o que ele nos proporciona. A sensação é que as 320 páginas poderiam ser resumidas, sem perda de conteúdo, em meras 30 páginas. O restante é enrolação ou descrições chatas de cenários, situações irrelevantes ou de sentimentos banais do protagonista. Se eu fosse você, não perderia meu tempo com esta leitura.
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