Semana passada, fiquei um tanto perplexo com a intransigência de dois amigos meus. Conversando animadamente com eles em um bar, o assunto acabou desviando para a política. E não há nada mais inflamável nos dias de hoje do que abordar esse tema em qualquer roda social. Ainda mais quando você está cercado por pessoas com visões tão radicais.
Em minha opinião, não há nada errado no fato das pessoas terem um julgamento firme sobre o impeachment, tanto a favor quanto contra. Acredito que quem apoia o impedimento da presidente da República tem ótimos motivos para tal e quem é contra também tem interessantes argumentos para validar seu ponto de vista. O problema está na radicalização ideológica. Você já reparou que as pessoas mais politicamente engajadas são contra o diálogo e não aceitam as opiniões que vão contra as suas?
Foi o que aconteceu naquele bar com os meus dois amigos. Eles começaram a discutir acaloradamente. Cada lado tentava apresentar seu ponto de vista sem nem ao menos analisar o argumento que vinha do outro lado do debate. Eu já estava ficando preocupado e um tanto envergonhado com aquela situação, afinal as pessoas das mesas ao lado já estavam olhando feio para a gente, quando ouvi a indagação:
- E você, não vai opinar?! O que você acha disso tudo que está acontecendo em Brasília?
Meus amigos, enfim, se lembraram que eu estava partilhando aquela mesa com eles e que também podia emitir minha opinião. Vi em seus olhos a ansiedade para que eu apoiasse seus lados na discussão. Percebendo isso, permaneci em silêncio alguns segundos, aumentando o clima de mistério. Depois, falei secamente:
- Vocês não estão preparados para ouvir a minha opinião...
A frase saiu com um certo pedantismo e uma elevada dose de arrogância que deixou meus companheiros de mesa revoltados. Após eles protestarem, conclui:
- Vocês estão errados em suas opiniões. Os dois estão se comportando como extremistas. Vocês estão analisando a situação de maneira bem polarizada. Falta um discernimento e uma imparcialidade em suas reflexões para compreender o problema em todas as suas dimensões.
Tentei explicar que, na minha visão, os dois estavam sendo cegos. Eles apenas olhavam as coisas por uma única perspectiva, não aceitando a opinião oposta. Acho isso um grande equívoco. Para entendermos a realidade, precisamos compreender todas as facetas das notícias e das informações.
Minha explicação emudeceu meus amigos. Aproveitando a diminuição do ânimo belicoso deles, saquei da minha mochila a revista Carta Capital que tinha comigo. Eu a tinha lido no dia anterior.
- Leia isso e depois conversamos – disse para o meu amigo de direita.
- Não leio esse lixo! Eles mentem o tempo inteiro.
Expliquei que não havia nenhuma mentira naquela publicação. Havia sim um ponto de vista diferente do dele. E por isso era importante ele ler. Meu outro amigo se divertia imaginando o orgulhoso direitista lendo uma revista de esquerda. Aproveitando a sua alegria, completei:
- E para você – disse ao esquerdista do grupo - leia isso. Fará bem para você.
Entreguei-lhe a revista IstoÉ daquela semana, que acabara de concluir e que também estava alojada em minha mochila. Ele também ficou indignado. Novamente expliquei que se ele achava que nosso outro amigo iria ter uma visão mais completa dos fatos lendo uma revista de esquerda, ele também teria uma visão mais apurada se lesse uma publicação de direita.
Os dois ficaram um pouco ressentidos comigo. Contudo, acabei com aquela discussão interminável em nossa mesa de bar. Não sei se eles leram ou lerão algum dia as revistas sugeridas. O importante é entendermos que não existem verdades nem mentiras na realidade dos fatos. O que existem são pontos de vista. E para sermos pessoas esclarecidas, precisamos captar a maior quantidade de opiniões diferentes para construirmos o quebra-cabeça da situação. É isso que tento fazer e que incentivo as pessoas a fazerem.
Por exemplo: vejam esses dois vídeos aqui abaixo. Ambos repercutem a situação política no Brasil no momento. São jornalistas do exterior analisando nossa realidade interna. Um com um determinado viés e outro com outro. Qual dos dois está certo? Na minha humilde visão, os dois!
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