Neste domingo, li "O Filho da Mãe" (Companhia das Letras), romance de Bernardo Carvalho. Minha irmã me emprestou este livro, que, segundo a dedicatória, ela o ganhou em seu aniversário de 2012. Bernardo Carvalho é jornalista e escritor. Sua obra mais importante, até aqui, é "Mongólia" (Companhia das Letras), que ganhou o Prêmio APCA da Associação Paulista dos Críticos de Arte em 2003 e o Prêmio Jabuti em 2004.
As histórias de "O Filho da Mãe" são centradas na cidade de São Petersburgo, que ficou conhecida na Segunda Guerra Mundial por ter permanecido sitiada e sendo bombardeada por anos. Contudo, a narrativa se passa nos dias de hoje, quando São Petersburgo está comemorando o tricentenário de sua fundação. O pano de fundo do livro é outra guerra, a da Tchetchênia, ocorrida em 2003. Carvalho narra vários episódios envolvendo as mães que tentam proteger seus filhos da crueldade das guerras.
O ponto mais interessante desta obra é a maneira como a narrativa é feita. De início, o livro parece uma coleção de contos, com histórias independentes. À medida que os capítulos evoluem, percebemos que os personagens e as tramas vão se cruzando e compondo um único enredo. O ponto em comum entre todas as histórias é o sofrimento das mães pelos filhos que, de alguma forma, são vítimas da sociedade belicosa, preconceituosa e, muitas vezes, cruel. "As mães têm mais a ver com a guerra do que imaginam", explica um dos personagens no meio da obra, demonstrando o ponto de vista do autor.
Outra questão que me chamou a atenção é a descrição da Rússia, onde as histórias se passam. A vida, os personagens, a cultura e o dia a dia de São Petersburgo, Moscou e Grozni (na Tchetchênia) são muito bem retratados. Em vários momentos, parece que o escritor é um russo e não um brasileiro. Não dá para acreditar que Bernardo Carvalho não tenha vivido por vários anos no país de Dostoievski. Como ele conseguiu esta proeza, não sei.
A construção dos personagens também merece destaque positivo. Os vários tipos que desfilam pelo livro têm em comum a inquietude. Eles parecem estar sempre fugindo de alvo, levando uma vida incompleta e infeliz. Vivem, de alguma maneira, fora do lugar onde deveriam estar, longe dos familiares que amam e da cidade onde nasceram.
De maneira geral, gostei deste livro. O tom melancólico, inquietante e, por ora, pessimista das histórias surpreende o leitor que não está acostumado com a literatura de Bernardo Carvalho. Apesar da temática e do clima um tanto dark, "O Filho da Mãe" é uma dos exemplares do que há de melhor na moderna literatura nacional. Valeu, maninha, pelo empréstimo!
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