Neste final de semana, li o livro “Uma Curva no Tempo” (Arqueiro), da inglesa Dani Atkins. Ele me foi emprestado há cerca de dois meses pela minha mãe. Achei graça como ela me entregou o livro. Ela o jogou em cima de mim e falou: “Leia isso! Eu li, adorei e agora preciso conversar sobre ele com alguém. Não sei se entendi tudo”. Quem me conhece sabe que isso não se faz. Se alguém aparece com um livro e diz que gostou muito, é óbvio que eu vou querer ler. E se a pessoa ainda diz que não sabe se entendeu, aí minha curiosidade e o meu interesse pela obra alcançam níveis inimagináveis. Só não li a obra de Dani Atkins imediatamente após o comentário da minha mãe porque estava lendo as obras de Graciliano Ramos e tinha um milhão de coisas para ler para as provas finais da faculdade. Agora com as coisas mais calmas, pude ler o livro tranquilamente.
“Uma Curva no Tempo” conta a história de uma jovem chamada Rachel Wiltshire, moradora de uma cidade pequena no interior da Inglaterra. Alguns dias antes de ir para a faculdade de jornalismo, ela se reuniu com seus melhores amigos em um restaurante para a despedida da turma. Cada um iria para uma faculdade diferente em uma região do país e provavelmente seria difícil todos se reencontrarem novamente. No jantar festivo, um trágico acidente aconteceu. Um carro desgovernado atingiu a janela de vidro onde o grupo de amigos estava. Jimmy, amigo de infância de Raquel, morreu após salvá-la. Raquel, após ficar muito tempo em coma no hospital, conseguiu se salvar, mas passou a carregar consigo uma cicatriz enorme no rosto.
O acidente, a nova condição e o sentimento de culpa pela morte do amigo fizeram a jovem que ambicionava se tornar uma jornalista desistir de cursar a faculdade. Ela se afastou da família e dos amigos e passou a viver em Londres, onde podia levar uma vida solitária e impessoal. Ela também terminou o relacionamento com o Matt, seu namorado desde a época de adolescência, e passou a evitar os homens.
Cinco anos após o fatídico acidente, a melhor amiga de Raquel ia se casar, querendo reunir, para a ocasião, novamente o grupo de amigos em sua cidade natal. Raquel sabia que precisaria encarar as dores do passado. Após um tumultuado jantar com os amigos, a jovem decide visitar sozinha, no meio da noite, o túmulo de Jimmy, seu amigo falecido no acidente, no cemitério municipal. Tentando se desviar de objetos e encarar a escuridão do local, Raquel acaba caindo e bate violentamente a cabeça na queda.
Ela acorda em um hospital. E ao abrir os olhos, ela se vê diante do pai. Ao invés de um homem envelhecido e com sequelas do câncer que estava tratando, o pai da moça estava em ótimas condições. E para desespero de Raquel, Jimmy estava ao lado do pai. Como assim, ele está vivo? Tentando entender o que está acontecendo, a jovem descobre que ela é uma jornalista de uma conceituada revista e é noiva de Matt, seu antigo namorado. E ela também não tem mais a cicatriz no rosto.
Por mais que Raquel tente explicar para todos que aquela não é sua vida, o parecer médico é que a moça está com amnésia, tendo esquecido os acontecimentos dos últimos cinco anos. Por mais que todos a sua volta tentam ajudar, Raquel sabe que sua vida real é completamente diferente daquela. Assim, ela passa a investigar o que aconteceu com sua antiga vida.
“Uma curva no tempo” é um excelente livro. Primeira obra de Dani Atkins, esta história é envolvente e conta com um excelente mistério. O suspense segue até o final, que por sua vez é surpreendente e possibilita mais do que uma interpretação. Não preciso dizer que o meu entendimento foi diferente do da minha mãe, o que gerou quarenta minutos de discussão em família.
O mais legal do livro é a narrativa em primeira pessoa. Raquel conta o que está acontecendo com ela e, por isso, participamos de suas inquietações, angústias e dúvidas. A jornada dela para descobrir a verdade sobre sua história é, ao mesmo tempo, a nossa.
A narrativa é muito bem amarrada e o enredo é ótimo. Os personagens são bem construídos. Apesar de já ter lido histórias que brincam com a questão do tempo, esta é sem dúvida muito original. O livro prende nossa atenção e nos incomodamos toda vez que a personagem principal é retratada como louca pelos demais personagens. Nós sabemos o que ela vivenciou e o que não vivenciou. Sabemos que ela está falando a verdade, por mais que seja difícil de acreditar em sua versão da história.
A descoberta do que está acontecendo com Raquel só é desvendada nas últimas linhas do livro. E ela é surpreendente. Assim, o clímax que é postergado durante toda a trama chega ao final e não é decepcionante. Pelo contrário: é incrível.
Gostei muito de “Uma curva no tempo”. Este é um livro que mexe com nossa imaginação e faz com que fechamos suas páginas, após a leitura, e fiquemos refletindo. Bem legal!
Gostou deste post e do conteúdo do Blog Bonas Histórias? Se você é fã de literatura, deixe seu comentário aqui. Para acessar as demais críticas, clique em Livros. E aproveite para curtir a página do Bonas Histórias no Facebook.