Filmes: O Último Poema do Rinoceronte - O cinema iraniano de Bahman Ghobadi
- Ricardo Bonacorci
- 21 de jun. de 2015
- 3 min de leitura

Chega aos cinemas brasileiros "O Último Poema do Rinoceronte" (Fasle Kargadan: 2012), filme do diretor iraniano Bahman Ghobadi, de “Tempo de Embebedar Cavalos” (Zamani Baraye Masti Asbha: 2000) e de “Tartarugas Podem Voar” (Lakposhtha ham Parvaz Mikonand: 2004. Ghobadi, de 46 anos, faz parte da "Nova Onda" (New Wave) do cinema iraniano e é um dos principais cineastas da atualidade de seu país (ao lado de Abbas Kiarostami, Moshen Makmalbaf, Jafar Panahi e Asghar Farhadi).
A "Nova Onda" iraniana é o movimento artístico, iniciado em 1964, que transformou o Irã em um dos principais produtores cinematográficos do mundo. Os filmes desta linha são tradicionalmente: poéticos, com uma narração simbólica e muito reflexiva, com um realismo acentuado (se parecendo com documentário), roteiros focando nas camadas mais desfavorecidas da população (principalmente as comunidades rurais) e com um ritmo narrativo bem lento. Quase todas estas características estão presentes nesta produção de Bahman Ghobadi.
"O Último Poema do Rinoceronte" relata a história verídica da saída da prisão do poeta iraniano-curdo Sadegh Kamangar, chamado de Sahel (interpretado por Behrouz Vossoughi), depois de trinta anos de detenção. O artista foi preso durante a Revolução Islâmica, em 1979, acusado injustamente de fazer versos de oposição ao regime recém-implantado no país. O sonho de Sahel, agora, é reencontra sua mulher Mina (Monica Bellucci). Ela foi viver na Turquia e pensa que o marido morreu há muitos anos (o regime havia anunciado em determinado momento do passado que o poeta tinha morrido na prisão).
O filme, como o próprio título já informa, é muito poético e recheado de simbolismos. O roteiro foi baseado nos diários do poeta escritos ao longo de sua vida. Além do componente político, a história possui uma disputa amorosa: o motorista de Sahel (Akbar Rezai) é obcecado pela mulher do patrão e faz de tudo para ficar com ela. O motorista, no fim das contas, acaba sendo o principal vilão da história, até mesmo superando os policiais e os políticos do regime islâmico que prenderam o poeta injustamente.

A narrativa de "O Último Poema do Rinoceronte" não apresenta uma linearidade. Os acontecimentos vão sendo apresentados sem uma ordem cronológica. O espectador é quem precisa montar a sequência em sua mente. A fotografia do filme também é muito boa. Aproveitaram-se muito bem os cenários da região da Turquia escolhidos como locação. Os enquadramentos fogem do convencional, ressaltando ainda mais as imagens na tela. A estética do filme é um dos principais pontos positivos desta produção.
Há também muitas cenas oníricas, fruto dos sonhos e dos desejos do personagem principal. Acompanhar e interpretar essas divagações de Sahel é a base para entender a mensagem do filme. Em alguns momentos, é necessário ter um repertório maior das obras de Bahman Ghobadi, pois há referências a outros filmes do diretor (há closes em cavalos e tartarugas
caindo do céu como se fosse água da chuva).
O único ponto negativo desta obra é o ritmo. Em vários momentos, o longa-metragem é muito parado, às vezes cansativo. Aí o risco de se acabar dormindo é grande. Por que será que os iranianos gostam de filmes tão parados? Acho que nunca vou compreender isto...
Em resumo, "O Último Poema do Rinoceronte" é um drama sensível, forte e muito poético, que consegue retratar muito bem os desafios de um país dominado pelo fundamentalismo religioso.
Assista ao trailer desta produção:
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