Essa é a minha terceira leitura do "O Pequeno Príncipe" (Agir), clássico de Antoine de Saint-Exupéry. O motivo da minha releitura é que uma professora do meu curso de Letras (estou fazendo faculdade) pediu para lê-lo para a realização de um trabalho. Como esta é uma das minhas obras favoritas, não foi difícil passar a mão na brochura e bater novamente os olhos por suas páginas. Aproveitei o fato de ter acordado mais cedo hoje (meu sono me abandonou antes das cinco horas da manhã) e li a obra inteira antes de pular da cama (uma leitura de menos de duas horas - o livro é realmente muito enxuto!).
Eu adoro esse livro por três motivos: ele é simples, profundo e tem uma mensagem linda. Até hoje não acho justa a fama ganha pelo "O Pequeno Príncipe" em alguns círculos sociais de ser o "livro das misses". Sim, porque muitas das misses que concorrem em concurso de beleza citam essa obra como sendo sua favorita. A brincadeira que rola é a seguinte: como o livro é pequeno, de fácil leitura e tem muitos desenhos, ele é o preferido das mulheres bonitas (e burras!). Antoine de Saint-Exupéry não merece isso! Ele criou uma obra prima e o povo fica falando essas coisas.
A dimensão dessa obra fica evidente quando analisamos o ranking dos livros mais vendidos no país todos os anos. Repare! "O Pequeno Príncipe", mesmo depois de mais de 70 anos de seu lançamento (inclusive, o direito autoral da família do autor já expirou e a obra já pode ser disponibilizada gratuitamente), ainda continua na parte superior dos livros mais comercializados no país. Trata-se realmente de um feito notável. Em várias semanas, esta obra chega a liderar as vendas nas livrarias no Brasil. Um feito incrível!
A história do "O Pequeno Príncipe" é simples e poética. Um piloto de avião faz amizade com um menino vindo de um pequeno planeta. O garoto, chamado de Príncipe, chegou a Terra depois de conhecer outros mundos pelo caminho. A beleza da história está nos diálogos e na mensagem transmitida. A passagem mais incrível, na minha opinião, é aquela quando o menino conversa e faz amizade com um raposa. As frases mais fortes da obra estão nesse trecho. As três mensagens principais são: "Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa"; "somente com o coração nós podemos ver com clareza"; e "o essencial é invisível para os olhos".
Transportando essas ideias para o processo envolvendo a relação professor/aluno, no qual estou estudando na faculdade (o curso é Licenciatura em Letra) podemos compreender que um docente só conseguirá estimular o estudante a aprender, a buscar novos conhecimentos e a vivenciar novas experiências, se houver uma afinidade entre eles. Antes de aprender/ensinar, é necessário a criação de um relacionamento de confiança. Se o mestre não conseguir cativar o discípulo, o processo de aprendizado ficará seriamente comprometido ("você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa"). Assim, o investimento de tempo, de esforço e de atenção do professor não deve ser dirigido apenas para a transmissão formal do conteúdo a ser passado (parte técnica), mas deve ser equilibrado com o estabelecimento de um relacionamento saudável e harmônico ("o essencial é invisível para os olhos"). Se o aluno não se sentir importante, querido e merecedor da atenção e do esforço do docente ("somente com o coração nós podemos ver com clareza"), o aprendizado não será completo e tão eficiente. Foi essa a interpretação que fiz nessa nova leitura, analisando o livro sob a ótica do professor (uma novidade para mim).
Assim, nessa nova visão, o elemento mais interessante na história do "O Pequeno Príncipe" foi o fato do menino (o príncipe) ter aprendido muito sobre o mundo (seu planeta e demais planetas), sobre as pessoas (natureza humana) e sobre ele mesmo (seus sentimentos e valores) depois que deixou o seu planeta e resolveu explorar pessoalmente o universo. Esse processo de aprendizado, curiosamente, não foi pautado pela presença de nenhum professor (instrutor formal). A educação (vamos chamar dessa forma, neste momento, o processo iniciado pelo pequeno príncipe em sua viagem) foi pautada principalmente pela curiosidade incessante da criança (ela não deixava, por exemplo, o interlocutor ignorar nenhuma de suas perguntas) e pela união entre teoria e prática (se recordarmos o conceito de Práxis de Paulo Freire), na qual o menino precisou ir in loco para testemunhar, vivenciar e experimentar os fatos, os acontecimento e as emoções.
O aprendizado se deu, portanto, principalmente pela "fome de conhecimento" do menino (estudante) e pela intensidade da experiência provocada pela viagem. Esses sãos os pontos que um bom professor deve incentivar na alma de seus alunos: a busca constante por novos aprendizados e proporcionar experiências intensas (através da união de prática e teoria). Se analisarmos bem, ao mesmo tempo em que não havia a figura formal de um professor central orientando o menino, havia várias pessoas contribuindo consideravelmente para a consciência e para o aprendizado do príncipe (a raposa, o rei, o vaidoso, o bêbado, o homem de negócio, etc.). Cada um teve papel importantíssimo na experiência e na transmissão das informações. Muitas vezes em nossa vida, aprendemos e evoluímos com professores informais. Além disso, sem querer, o príncipe acabou ensinando muita coisa para o piloto do avião (o autor do livro). Assim, alguém pode ser professor e, ao mesmo tempo, aluno. A educação é um processo de duas mãos, no qual todos os seus agentes ensinam e aprendem constantemente.
Tão legal quando ler novamente "O Pequeno Príncipe" foi analisá-lo de maneira distinta das outras duas leituras. Esse é o grande barato da literatura. Cada nova imersão em uma obra (quando ela tem profundidade), você descobre algo novo.
Gostou deste post e do conteúdo do Blog Bonas Histórias? Se você é fã de literatura, deixe seu comentário aqui. Para acessar as demais críticas, clique em Livros. E aproveite para curtir a página do Bonas Histórias no Facebook.