"Por que Ler os Clássicos" (Companhia de Bolso) é uma obra diferente das que li até aqui de Italo Calvino neste Desafio Literário - "Cidades Invisíveis" (Companhia das Letras), "Se um Viajante numa Noite de Inverno" (Planeta DiAgostini), "O Visconde Partido ao Meio" (Companhia de Bolso) e "Palomar" (Companhia das Letras). Ao invés de ser um livro ficcional, esta é uma publicação que analisa minuciosamente alguns dos clássicos da literatura mundial e italiana.
Ao longo dos capítulos, Calvino conversa com o leitor sobre aspectos da vida de importantes escritores, características das suas principais obras e elementos de suas literaturas. "Por que Ler os Clássicos" é uma coleção de artigos e ensaios publicada pelo autor entre 1954 e 1985 nos mais diversos meios. A maioria é composta por crônicas veiculadas pelo "La Repubblica", jornal onde Calvino trabalhou como colunista na década de 1980. Muitos textos foram extraídos diretamente de prefácios produzidos pelo jornalista-escritor para edições italianas destas obras.
"Por que Ler os Clássicos" foi publicado pela primeira vez na Itália, em 1991. Ou seja, trata-se de uma obra póstuma. Italo Calvino faleceu em 1985. O livro demorou alguns anos até ser traduzido para o português e ser editado no Brasil.
O primeiro capítulo deste livro é espetacular. Chamado de "Por que Ler os Clássicos" (o nome do livro foi extraído deste ensaio publicado originalmente no jornal "L'Espresso"), Calvino debate dois assuntos: o que é uma obra clássica e por que lê-la? Li este texto pela primeira vez na Faculdade de Letras e agora reli com muito prazer. O autor explica seu ponto de vista como se conversasse com o escritor. Para definir o que é um livro clássico, ele vai expondo pouco a pouco seus conceitos. Assim, ele chega a incrível marca de 14 definições possíveis para o termo. Qual é a correta? Todas! Para encerrar, ele convence o leitor da importância de se ler os clássicos. Como faz isso? Sendo bem-humorado e objetivo. Sua justificativa é engraçadíssima e matadora (só não revelo para não perder a graça do texto).
Em cada um dos demais 36 capítulos da publicação, Calvino trata de um escritor diferente e de uma grande obra deste autor. Raramente, um mesmo autor ganha mais do que um capítulo. Assim, percorremos boa parte da literatura mundial e europeia. Vamos de Odisseia de Homero a Ficções de Jorge Luis Borges, passando por Cervantes, Proust, Balzac, Dickens, Flaubert, Tolstoi, Conrad, Twain e Hemingway.
Obviamente, irá apreciar mais este livro que já leu os principais clássicos. Afinal, é um tanto difícil ler uma análise sobre algo completamente desconhecido. Quem ainda não leu as principais obras literárias, aconselho a primeiro lê-las para depois se aventurar neste livro de Calvino.
Para quem já leu a maioria dos clássicos, o autor de "Por que Ler os Clássicos" consegue ser cativante. Calvino fala dos autores e dos livros mais famosos como se conversasse com alguém no bar sobre este assunto. Este é o aspecto mais legal do livro. O tema é fácil e natural para Calvino. O italiano é capaz de variar suas análises ora abordando a vida pessoal do autor, ora falando sobre as características da obra e ora tratando de pontos do enredo e das personagens das tramas. Trata-se de uma aula de excelente qualidade sobre Literatura.
Um aspecto que ajuda muito o leitor é que os autores analisados e suas obras estão descritas em ordem cronológica. Assim, começamos com o grego Homero (Ilíada e Odisseia) e com o poeta latino Ovídio (Metamorfoses) até chegarmos aos escritores mais contemporâneos.
O principal ponto negativo de "Por que Ler os Clássicos" está na grande quantidade de poetas e escritores italianos escolhidos por Calvino. Este grupo, infelizmente, é desconhecido da maioria dos leitores brasileiros. Neste momento, a leitura fica um pouco enfadonha porque simplesmente desconhecemos estes escritores e suas obras. Por outro lado, temos poucos escritores de outras partes do mundo. Há o persa Nezami (do medieval "As Sete Princesas"), os norte-americanos Hemingway e Twain e o argentino Borges, porém faltam outros grandes nomes da literatura mundial.
Contudo, não podemos culpar Italo Calvino por estes deslizes. Lembremo-nos que "Por que Ler os Clássicos" não foi um livro produzido pelo seu autor e sim editado a partir de uma compilação de ensaios e artigos produzidos depois que o italiano estava morto. Ou seja, Calvino não produziu estes textos de maneira planejada para virar um livro.
No geral, "Por que Ler os Clássicos" é um livro excelente. Esta é sem dúvida nenhuma uma das melhores obras sobre Literatura que li em minha vida (isto é, se não for a melhor). De maneira coloquial e despretensiosa, Italo Calvino consegue entreter e ensinar o leitor como poucos. Isto prova que além de um grande escritor, ele possuía domínio completo sobre sua profissão. Mais do que um grande autor ficcional, Calvino amava e conhecia profundamente as engrenagens da Literatura.
Para finalizar o Desafio Literário de novembro, irei postar a análise literária completa da literatura de Italo Calvino na próxima terça-feira, dia 29. Não perca o último capítulo deste estudo feito pelo Blog Bonas Histórias.
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