Concluí a leitura das obras de Sidney Sheldon do Desafio Literário de agosto com o seu livro de estreia. Curiosamente, deixei sua primeira história para o final. "A Outra Face" (Record) foi publicado pela primeira vez em 1970. Até aquele momento, Sheldon era um bem-sucedido roteirista de filmes cinematográficos e de séries televisivas. Ás vezes, ele se arriscava também como dramaturgo. A mudança para a carreira de escritor best-seller mundial começou com "A Outra Face", um sucesso de crítica e de público.
Esta história foi criada inicialmente para virar um roteiro de filme. A ideia original de Sheldon era retratá-la nas telas do cinema ou da televisão. Contudo, o autor percebeu que a trama era elabora de mais para ser filmada. A partir desta constatação, um romance foi escrito. O livro conquistou em 1970 o título de "Melhor suspense do ano" pelo New York Times. No ano seguinte, ganhou o prêmio Edgar Allan Poe Award de "Melhor Livro de Estreia". A carreira de Sidney Sheldon na literatura estava, portanto, iniciada com o pé direito. O sucesso do primeiro romance aumentaria sucessivamente ao longo dos anos, com os demais lançamentos.
Em "A Outra Face", conhecemos o famoso psicanalista Judd Stevens. A vida dele sobre um grande abalo quando sua secretária e um dos seus pacientes são assassinados no mesmo dia. Enquanto precisa provar para a polícia que é inocente, Judd percebe que está correndo perigo. Alguém está querendo matá-lo. Como ninguém acredita nele, inicia-se um jogo psicológico interessante: Judd está realmente correndo riscos ou ele se transformou em um maluco que não tem consciência de alguns dos seus atos?
O suspense é potencializado pelo clima de insanidade dos pacientes do doutor. Ele atende cada maluco! Há uma atriz decadente ninfomaníaca, um executivo com mania de perseguição, um homossexual que deseja se tornar um pai de família respeitado e uma esposa misteriosa que não consegue falar qual é seu problema. Esses pacientes também são suspeitos de estar envolvidos com o drama de Judd Stevens.
Com 250 páginas, a narrativa é escrita em terceira pessoa. Mesmo assim, o leitor não sabe o que efetivamente acontece durante boa parte da trama, precisando descobrir junto com o protagonista. As dúvidas e suspeitas de Judd Stevens é que dão o tom de suspense à obra. Quem gosta de suspense psicológico e de mistério policial, "A Outra Face" tem um estilo muito parecido às histórias de Harlan Coben. Para ser sincero, esse livro não parece ter sido escrito por Sidney Sheldon. Muitas das características do autor estão ausentes nessa obra.
Por exemplo, não temos o predomínio de personagens femininas com personalidades fortes e dispostas a tudo para conquistar os seus sonhos. Talvez, Sidney Sheldon ainda não tivesse se tornado um feminista quando escreveu "A Outra Face". O romantismo exacerbado não aparece tão intensamente. Ele só aparece rapidamente no finalzinho. O maniqueísmo, outra característica forte do autor, também não é tão claramente visível aqui. A disputa entre o bem e o mal e o certo e o errado não são tão evidentes.
Por outro lado, temos alguns pontos interessantes e originais. Quase todos os personagens apresentam algum problema psicológico grave. Não é errado afirmarmos que é um livro recheado de malucos. O suspense também é a base de todo o livro. O clima de mistério e indefinição do que está acontecendo é o que faz o leitor ficar preso nessa história repleta de nuances. Apesar de ser possível descobrir em linhas gerais quem é o vilão logo de cara (identifiquei o que estava acontecendo após ler um terço da obra), o suspense ainda sim é bom. Lembremos que Sidney Sheldon não é uma Agatha Christie.
O final é um tanto forçado. O maior vilão é um personagem que não estava inserido na trama com ênfase. Além disso, o romantismo meio piegas entre o protagonista e seu par romântico acaba prejudicando o realismo da história no encerramento.
Apesar de uma ou outra falha, gostei de "A Outra Face". Ele é um bom livro de suspense, apenar de não ter sido a melhor obra da carreira de Sidney Sheldon. Como publicação de estreia, dá para dizer que o norte-americano começou com o pé direito na literatura.
No último dia do mês, voltarei ao Bonas Histórias para postar a análise completa sobre a literatura de Sidney Sheldon. Assim, pretendo concluir o Desafio Literário de agosto. Não perca o próximo post desta coluna do blog. Até lá!
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