Stephen King é conhecido pelas suas obras de terror, mas o meu livro favorito dele é um que foge totalmente das suas características tradicionais. "À Espera de um Milagre" (Suma de Letras) é um drama ambientado na década de 1930. Lançado originalmente em 1996, em 6 volumes, intitulado "Corredor da Morte", o romance ganhou sua versão definitiva no final daquele ano quando King reuniu os volumes em uma publicação só.
"À Espera de um Milagre" também virou filme em 1999. O longa-metragem dirigido por Frank Darabont e estrelado por Tom Hanks e Michael Clarke Ducan arrecadou mais de US$ 130 milhões somente nos cinemas dos Estados Unidos. A produção cinematográfica foi um grande sucesso de bilheteria no mundo todo, mesmo com suas mais de três horas de duração. O filme ganhou cinco indicações ao Oscar daquele ano. Para muitos, esta é a melhor adaptação para o cinema de uma obra de Stephen King.
A história do livro narra, em primeira pessoa, as memórias da vida de Paul Edgecombe, um simpático idoso morador de um asilo, que no passado trabalhou na penitenciária de Cold Mountain. Foi como responsável pela ala que abrigava os condenados à morte que Paul conheceu John Coffey. No ano de 1932, Coffey, um negro alto, forte e sem instrução, havia sido condenado pelo estupro e pelo assassinato de duas meninas brancas. Enquanto esperava sua execução na cadeira elétrica, o prisioneiro e o chefe dos guardas da prisão estabelecem forte vínculo de amizade.
Conversando e convivendo com John Coffey, Paul descobriu que seu prisioneiro era inocente e possuía um dom misterioso capaz de proporcionar a cura a qualquer doente. Além disso, Paul descobriu o passado mágico e surpreendente do seu prisioneiro. As descobertas do policial lançaram-no a um embate moral: ele devia cumprir a sentença de morte, como o exigido pela Justiça do seu estado, ou devia libertar um homem bom e inocente? Esta dúvida influenciou a relação entre os policiais da penitenciária e dos demais presos.
"À Espera de um Milagre" é uma obra sensível e de forte carga emotiva. Exatamente por isso a considero a melhor produção de Stephen King. O escritor consegue nos emocionar sem precisar apelar a uma trama de terror e com muitas mortes e sangue, como é típico da sua literatura. Este romance, que nada tem de horror, possui forte carga de suspense e comove com um drama existencial de um homem que adquire um dom sobrenatural.
Além da história ser muito boa, os personagens são riquíssimos e muitíssimo bem construídos. Tanto os policiais quanto os presos possuem características marcantes e parecem ganhar vida em cada página. Paul Edgecombe é um cara bem interessante nos dois momentos da narrativa (quando jovem e mais idoso) e John Coffey é incrivelmente carismático. Até os personagens secundários (destaque para Brutal, Harry, Dean e Del) têm seus atrativos, ajudando a enriquecer ainda mais a trama. Até mesmo um simples ratinho de cela de cadeia (Sr. Guizos) ganha relevância e rouba várias vezes a cena, levando muitos leitores as lágrimas.
A forma de escrita da obra também merece destaque. Ela parece mais bem trabalhada do que normalmente encontramos nos outros livros do autor. King é conhecido por um estilo popular e de linguagem simples e de baixa qualidade literária. Estas características surpreendentemente não aparecem em "À Espera de um Milagre". Apesar de manter um linguajar objetivo e acessível, o texto aqui é mais bem trabalhado e possui uma qualidade superior.
A magia, o sobrenatural e a fantasia, marcas de King, estão presentes em todos os momentos desta história. Só que dessa vez, estes elementos possuem um tom mais refinado e nobre. Os críticos mais ácidos do autor norte-americano costumam dizer que esta obra nem parece escrita por Stephen King tamanha é sua qualidade literária.
Para quem for embarcar nesta incrível aventura, já adianto: o enredo é muito triste. A história é apaixonante e consegue prender a atenção do leitor de uma forma que é impossível parar a leitura a partir de determinado momento. Porém, aqueles possuidores de almas mais sensíveis preparem os lenços de papel porque a chance das lágrimas brotarem é grande.
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