Li "Garota Exemplar" (Intrínseca) de Gillian Flynn em outubro do ano passado. Gostei tanto deste livro que fiquei com vontade de comentá-lo agora com vocês. Certamente essa obra figurou entre as melhores histórias, por mim lidas, em 2014, ao lado de "Perdido em Marte" de Andy Weir, "O Lado Bom da Vida" de Matthew Quick, "K" de Bernardo Kucinski e "Doze Anos de Escravidão" de Solomon Northup. Ao longo dos meses prometo comentar essas histórias também.
O primeiro grande mérito da jornalista Gillian Flynn, autora de "Garota Exemplar", é manter um grande suspense desde as primeiras páginas do livro. Afinal, o que aconteceu com Amy Dunne para ela ter desaparecido misteriosamente de sua casa na cidade interiorana de Missouri justamente no dia de aniversário do seu casamento? O marido, Nick Dunne, fica perplexo com o episódio e telefona para a polícia. O caso do casal que ostentava um casamento perfeito (ambos são muito bonitos, inteligentes e cultos, viveram muitos anos em Nova York e tinham uma relação tranquila) chama a atenção dos demais moradores. Quando os policiais começam a investigar o caso, a culpa pelo sumiço de Amy (teria sido assassinada e seu cadáver ocultado?) recaem sobre Nick. Seria ele mesmo o culpado? Essas dúvidas se prolongam por boa parte do livro, prendendo a atenção do leitor.
O segundo ponto positivo desta obra é a dupla narrativa que a escritora confere a trama. Quem conta a história é o marido e a esposa simultaneamente (ele no presente e ela no passado, através da transcrição de um diário escrito antes do seu desaparecimento). Os dois principais personagens de "Garota Exemplar" se revezam na narração de cada um dos capítulos da obra. Assim, temos o ponto de vista dos dois lados da história. Apesar de não ser um recurso totalmente inovador na literatura, essa opção de Gillian Flynn traz mais emoção e suspense à trama.
Outro aspecto interessante é o desdobramento tido pela história. Nada do que parece inicialmente se confirma depois. O livro é uma sucessão de surpresas, tanto relacionadas ao marido quanto à esposa. Não há santinhos aqui. Todos têm algo para esconder e para se arrepender. Com isso, o enredo ganha corpo e envergadura. Trata-se de uma excelente história.
Depois de tantos elogios (para o início da obra, para o tipo de narrativa escolhida pela escritora e para o desenrolar da trama), era de se imaginar que o final do livro apresentasse uma queda de qualidade. Afinal, não é possível manter um nível de excelência por toda a publicação. E aí surge o ponto mais incrível de "Garota Exemplar". O final é fabuloso! Fazia muito tempo que não presenciava um final de trama tão incrível quanto este. É verdade, ele também é assustador, incômodo e pessimista. Você fecha as páginas desta obra com a sensação de um mau gosto na boca. Muita gente pode não ter gostado, mas eu achei fantástico. Ele foge completamente dos encerramentos tipicamente hollywoodianos dos quais estamos acostumados nas publicações literárias mais comerciais e nas produções cinematográficas convencionais. Esse é o grande mérito das boas obras artísticas: surpreender-nos.
Gostei muito de "Garota Exemplar" e recomendo sua leitura. Quem gosta de uma boa história de mistério policial e suspense familiar, gostará com certeza dessa obra.
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